Animação, folia, música, dança e muita diversão. Este era o carnaval pré-pandemia. Agora as máscaras são outras e a diversão não será igual mas é para amenizar a dor de não poder celebrar uma das mais importantes épocas do ano para muitos que as tecnologias existem. Centenas de carnavais pelo país inteiro vão decorrer em modo online. A ideia é evitar que a tradição se perca e mostrar que todos estamos empenhados nesta luta contra a covid-19.
Sines. Festa regressa em 2022
É um dos Carnavais mais conhecidos do país mas, por precaução, os festejos foram adiados para 2021. Segurança é a palavra de ordem e não poderia ser de outra maneira. Algumas iniciativas são feitas online, mas nada que prejudique a segurança dos que querem participar, apenas para “não deixar passar esta data em branco” e levar o Carnaval de Sines para as redes. Em 2022, a promessa é a de um regresso em grande. O presidente da Associação de Carnaval de Sines, Rui Encarnação, explica que esta situação representa “prejuízos para a associação”, que “não está a conseguir cumprir com os acordos de pagamentos com as empresas”.
Silves. digital é a palavra de ordem
A autarquia não quis deixar passar esta data em branco e se, numa altura normal, esta época seria de “sinónimo de alegria, cor, música e muita folia”, este ano, a câmara preparou para o Entrudo o lançamento de um vídeo que recorda os emblemáticos Carnavais que fazem parte da história do concelho, contribuindo desta forma para que, mesmo em tempo de confinamento, a alegria, a folia e a esperança de outros Carnavais encham as casas de toda a comunidade. E a fórmula é simples: o município convida “todos a estarem atentos aos canais digitais da autarquia e a juntarem-se também a esta iniciativa, enviando os seus registos fotográficos ou vídeos dos desfiles”.
Ovar. Máscaras nas ruas
Máscaras por todo o lado. E não, não se trata daquelas que, nos últimos meses, se tornaram adereço forçado (mas necessário). A Câmara de Ovar, liderada por Salvador Malheiro, espalhou pela cidade 200 máscaras de gigantones que agora pontuam as fachadas das casas dos foliões ovarenses e olham com espanto as ruas desertas – que, por esta altura, estariam a abarrotar. Além desta iniciativa, a autarquia encontrou ainda outra forma de marcar a data, desafiando os grupos e escolas de samba locais a elaborarem em conjunto um monumento inspirado no Carnaval de Ovar. A peça foi colocada em lugar de destaque diante do edifício da câmara municipal.
Podence. Caretos à varanda
Este será um Carnaval como nunca se viu. Neste ano atípico, o Carnaval dos Caretos de Podence, Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, não vai sair à rua, mas o Entrudo Chocalheiro celebra-se nas varandas com a queima simbólica do coronavírus. Os festejos, que já começaram no domingo, prolongam-se até hoje online. A partir das 17h30, os caretos continuam à janela e vão participar na cerimónia Sentir Portugal junto a um mural ilustrado para homenagear o Presidente da República. A festa termina com a Queima do Entrudo, que simboliza “queimar o que é mau” – neste caso, o novo coronavírus. No ano passado, este Carnaval contou com a “maior enchente de sempre” e um estudo de 2019 estimou um impacto económico de três milhões de euros na região transmontana.
Torres Vedras. Super-heróis homenageados
Este ano, as matrafonas vão ficar em casa. Em ano de pandemia, vai ser erguido um monumento na Praça da República onde serão homenageados “super-heróis”, profissionais que estão na linha da frente no combate ao vírus. Mas a sátira política e social que caracteriza o Carnaval de Torres Vedras não irá ficar de fora e no mesmo local foram instalados vários smartphones gigantes que brincam com os principais temas da atualidade local, nacional e internacional através da representação de várias aplicações. Além disso, várias associações criaram o movimento “Carnaval em Casa”, transpondo-o para as plataformas digitais (www.carnavalemcasa.pt).
Loures. Festejos à janela
Loures não quis ficar alheia a esta época festiva e, além das atividades virtuais, vai também celebrar o “Carnaval à janela”, uma iniciativa que já decorreu no domingo e vai repetir-se esta terça-feira. Para isso, a autarquia pediu aos cerca de 2500 figurantes do Carnaval do ano passado e às pessoas em geral que se mascarem, enfeitem as varandas e venham à janela participar na festa. E, ao contrário do que acontece na maioria do país, a câmara vai dar tolerância de ponto. Para trás ficam os cerca de 150 mil visitantes que marcavam este evento todos os anos, além dos vários corsos e bailes que marcavam esta época.
Funchal. Festa “congelada”
“Cancelado”. A confirmação da Secretaria Regional do Turismo da Madeira (que organiza o Carnaval do Funchal) surgiu no último dia do ano passado – sem surpresa, mas provocando a mesma angústia entre os membros dos 12 grupos que, durante meses, não baixaram os braços e continuaram a planear o desfile. Os planos ficam, assim, congelados até 2022, ano em que a iniciativa comemora 35 anos. Com um orçamento a rondar os 43 600 euros (em 2020) – com comparticipações de 28 mil euros do governo regional –, o Carnaval do Funchal reúne milhares de pessoas nas ruas da cidade. Mas, desta vez, vai ser preciso esperar.
Mealhada. 50 anos de Samba
O Carnaval Luso-Brasileiro da Mealhada comemora este ano 50 anos. Comemora, leu bem, porque a ideia de não haver Carnaval na Mealhada é coisa que não cabe na cabeça das gentes da Bairrada – com ou sem pandemia. Este ano, as ruas vão estar naturalmente desertas, sem os milhares de foliões que, todos os anos, festejam ao som do samba o corso mais brasileiro do país (com um orçamento estimado de 120 mil euros). As iniciativas prolongam-se online, com a Associação do Carnaval da Bairrada (ACB), a câmara e várias escolas de samba locais a marcarem presença nas redes sociais. Esta noite, o Instagram da ACB recorda meio século de história do Carnaval da Mealhada.
Alcobaça. A música não para
Pode não ser o mais popular, mas quem o vive não tem dúvidas em classificá-lo como “O melhor Carnaval do mundo”. Este ano, porém, todas as atividades do Carnaval de Alcobaça foram canceladas. Todas? Bem, não será propriamente assim. Conhecido pelas músicas da autoria de criativos grupos de foliões, lançadas a cada ano, o Carnaval de Alcobaça não vai ter multidões a dar um pezinho de dança ao som dos excêntricos Gazeta Friki Friki ou CarnaKotas, mas, na verdade, as músicas já foram mesmo lançadas para 2021 – assim, mesmo em casa vai ser possível ser contagiado pelo espírito desta festa.
Sesimbra. Streaming manda
Um dos municípios onde o Carnaval tem muita tradição, a festividade será apenas assinalada com iniciativas online e de streaming das escolas e grupos de samba. O município manteve os apoios financeiros, como se o Carnaval de Sesimbra se realizasse nos moldes habituais, esperando-se “um impacto muito negativo na economia local”, segundo o presidente da Câmara Francisco Jesus. Também o tradicional cortejo dos palhaços terá de esperar pelo fim da pandemia. Este cortejo começou em 1999, com apenas um grupo a animar com palhaços e rapidamente juntou centenas de pessoas vestidas de palhaço, tornando-se uma das mais importantes figuras da época.
Lazarim. Diabos à entrada
Todos os anos milhares de pessoas deslocam-se a Lazarim, em Lamego, para assistir a um dos mais diferentes e típicos carnavais do país. Aqui, os caretos substituem o samba, mostrando nas ruas uma manifestação de encenações ancestrais da cultura portuguesa. As máscaras, os conhecidos caretos, são feitos pelas mãos de artesãos e das gentes locais. São caracterizadas por serem máscaras diabólicas, com orelhas bicudas, cornos e barbas. Convida-se que este ano os caretos sejam colocados à porta para não deixar o Entrudo morrer. Haverá também transmissões online. A máscara de Lazarim é candidata a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Centenas de pessoas visitam anualmente esta tradição, faça chuva ou faça sol.
Canas de Senhorim. Tudo online
A pandemia não permite a habitual folia mas o objetivo é não deixar morrer a magia. E basta entrar na página de Facebook do Carnaval de Canas de Senhorim para o perceber. As ruas estão enfeitadas e tudo é feito online para que as saudades sejam atenuadas: concertos, concursos, testemunhos e recordações. Djs e bandas vão proporcionar concertos online e haverá um carro nas ruas a filmar a animação que se fará em casa. E até a conhecida batatada será entregue em regime take away. Mesmo ao lado, o Carnaval de Nelas também não será igual. Estes dois carnavais juntam, todos os anos, centenas de figurantes e milhares de visitantes.
Loulé. “Difícil decisão”
“Difícil decisão”. Assim resumiu a Câmara de Loulé, presidida por Vítor Aleixo, o anúncio do cancelamento do mais antigo desfile carnavalesco do país. A edição de 2021 do Carnaval de Loulé tem, porém, um objetivo bem definido: que a festa não se escape das memórias dos cerca de 60 mil foliões que, anualmente, acorrem ao sambódromo louletano. Para tal, a autarquia colocou elementos decorativos na Avenida José da Costa Mealha e noutros pontos da cidade – aguçando o apetite para 2022. As redes sociais voltam, neste caso, a dar uma ajuda: no Facebook da Câmara Municipal foi lançada a exposição “O ‘antes’ era assim” e o Carnaval online.
Estarreja. Carnaval em casa
Quem disse que não sair de casa significa não ter animação? Neste ano atípico tudo se faz pela internet, até uma noite com dj. Assim é este ano em Estarreja. Sob o lema #Carnavalemcasa, o programa exclusivamente online teve início já no dia 5 e termina com a segunda parte da transmissão do Grande Corso, às 15h. A decisão de cancelar os grandes corsos foi tomada já em setembro do ano passado. A pandemia assim o exige. Mas cancelar de vez o Carnaval nunca foi opção. Todos os anos Estarreja costuma gastar 500 mil euros nos festejos carnavalescos que juntam, anualmente, cerca de 40 mil pessoas.
Cabanas de Viriato. Cus à porta
Quem conhece o Centro do país, sabe que a Dança dos Cus é o ponto alto do Carnaval em Cabanas de Viriato, em Carregal do Sal. Este ano a tradição é diferente e será feita em casa, em ambiente familiar. A Dança dos Cus é uma valsa ao som da qual os foliões, alinhados em duas filas, habitualmente vão dançando pelas ruas da vila, batendo com os rabos nos dos vizinhos. Este ano, a ideia é filmarem-se em casa, trajados a rigor, e divulgarem nas redes sociais até porque em ano atípico tudo se faz online e a página de Facebook deste Carnaval aquece o coração de todos os que a pandemia impediu de festejar. Este é um dos carnavais mais típicos da região.
Figueira da Foz. Concurso na net
O Carnaval da Figueira da Foz/Buarcos foi cancelado, sem surpresa, devido à pandemia, mas a iniciativa não vai deixar de ser assinalada através de eventos que têm decorrido nas redes sociais da câmara municipal e da associação que organiza a iniciativa. Para este ano, estava prevista a atuação das escolas de samba locais nas 14 freguesias do concelho – um trio elétrico à moda do Brasil que custaria 20 mil euros (do total de 120 mil de orçamento) –, mas tal não será possível. No Facebook da autarquia, fotos e vídeo de edições anteriores assinalam a data e tentam aplacar a saudade. E até um concurso de máscaras à distância teve lugar.