Costa, Marcelo e os atestados de incompetência


Entretanto temos os principais responsáveis do país a fazer mais uns buracos no convés do barco, o que não nos vai levar mais depressa para lugar nenhum. 


A última sexta-feira foi mais um dia singular nesta nossa viagem coletiva pelo meio da tempestade da covid-19. Por um lado, a polémica em torno de uma suposta exclusão dos mais idosos dos grupos prioritários para receber a vacina da covid-19. Vacina que não está aprovada, não tem contra-indicações nem grupos etários recomendados homologados. Por outro, a pressão do Presidente da República para que sejam conhecidas as regras para o Natal, quando há um mês a ideia avançada era almoçar com uns e jantar com outros, o que já na altura parecia uma sugestão imprudente.

Os dois temas, de que deveremos ter novidades ao longo desta semana, mereceram dos mais altos responsáveis do país, primeiro-ministro e Presidente da República, reações simplistas e populistas que serviram para pouco mais do que para minar publicamente, uma vez mais, a boa fé e juízo de quem tem responsabilidades no momento que o país atravessa. E às vezes mais responsabilidades do que recursos, mas entretanto temos os principais responsáveis do país a fazer mais uns buracos no convés do barco, o que não nos vai levar mais depressa para lugar nenhum. 

Começando pelas vacinas, o tweet com que António Costa garantiu ao país que “há critérios técnicos que nunca poderão ser aceites pelos responsáveis políticos” tem tudo para não envelhecer bem – e basta ver o Reino Unido, onde a vacinação afinal não vai começar nos lares por razões logísticas. A declaração é desde logo estranha quando todas as aprovações e comparticipações de medicamentos em Portugal estão sujeitas a critérios técnicos e até económicos, de custo-efetividade, o que convém não perder de vista mesmo nos 280 caracteres de um tweet, a não ser que a covid-19 sirva para abrir uma discussão legal e moral sobre o que é pago pelo Estado, quando e a quem. Sem ir para outros medicamentos, basta lembrar as novas vacinas do Programa Nacional de Vacinação, que só no mês passado começaram a ser dadas gratuitamente e antes disso também podiam salvar vidas. 

O que o primeiro-ministro fez foi arrasar o discernimento de quem fez tal proposta e a considerou. “Não é admissível desistir de proteger a vida em função da idade”, disse, como se alguém fizesse uma proposta deste género sem fundamentação ou de ânimo leve. Se o primeiro-ministro entende que há alguém a propor coisas inadmissíveis ao serviço do Estado, terá forma de o resolver, mas o Twitter não parece o local apropriado, muito menos com todos os portugueses a assistir e a concluir coisas tão aberrantes como que o que a “DGS-PIDE” quer é matar os idosos.

Marcelo falou de uma ideia tonta, o que em menos caracteres consegue ser ainda mais incendiário. E depois, nas declarações sobre o Natal, fez a António Costa o que o primeiro-ministro fez à DGS.

Leia o artigo completo na edição impressa do jornal i. Agora também pode receber o jornal em casa ou subscrever a nossa assinatura digital.

Costa, Marcelo e os atestados de incompetência


Entretanto temos os principais responsáveis do país a fazer mais uns buracos no convés do barco, o que não nos vai levar mais depressa para lugar nenhum. 


A última sexta-feira foi mais um dia singular nesta nossa viagem coletiva pelo meio da tempestade da covid-19. Por um lado, a polémica em torno de uma suposta exclusão dos mais idosos dos grupos prioritários para receber a vacina da covid-19. Vacina que não está aprovada, não tem contra-indicações nem grupos etários recomendados homologados. Por outro, a pressão do Presidente da República para que sejam conhecidas as regras para o Natal, quando há um mês a ideia avançada era almoçar com uns e jantar com outros, o que já na altura parecia uma sugestão imprudente.

Os dois temas, de que deveremos ter novidades ao longo desta semana, mereceram dos mais altos responsáveis do país, primeiro-ministro e Presidente da República, reações simplistas e populistas que serviram para pouco mais do que para minar publicamente, uma vez mais, a boa fé e juízo de quem tem responsabilidades no momento que o país atravessa. E às vezes mais responsabilidades do que recursos, mas entretanto temos os principais responsáveis do país a fazer mais uns buracos no convés do barco, o que não nos vai levar mais depressa para lugar nenhum. 

Começando pelas vacinas, o tweet com que António Costa garantiu ao país que “há critérios técnicos que nunca poderão ser aceites pelos responsáveis políticos” tem tudo para não envelhecer bem – e basta ver o Reino Unido, onde a vacinação afinal não vai começar nos lares por razões logísticas. A declaração é desde logo estranha quando todas as aprovações e comparticipações de medicamentos em Portugal estão sujeitas a critérios técnicos e até económicos, de custo-efetividade, o que convém não perder de vista mesmo nos 280 caracteres de um tweet, a não ser que a covid-19 sirva para abrir uma discussão legal e moral sobre o que é pago pelo Estado, quando e a quem. Sem ir para outros medicamentos, basta lembrar as novas vacinas do Programa Nacional de Vacinação, que só no mês passado começaram a ser dadas gratuitamente e antes disso também podiam salvar vidas. 

O que o primeiro-ministro fez foi arrasar o discernimento de quem fez tal proposta e a considerou. “Não é admissível desistir de proteger a vida em função da idade”, disse, como se alguém fizesse uma proposta deste género sem fundamentação ou de ânimo leve. Se o primeiro-ministro entende que há alguém a propor coisas inadmissíveis ao serviço do Estado, terá forma de o resolver, mas o Twitter não parece o local apropriado, muito menos com todos os portugueses a assistir e a concluir coisas tão aberrantes como que o que a “DGS-PIDE” quer é matar os idosos.

Marcelo falou de uma ideia tonta, o que em menos caracteres consegue ser ainda mais incendiário. E depois, nas declarações sobre o Natal, fez a António Costa o que o primeiro-ministro fez à DGS.

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