Covid-19. Os pontos mais críticos no país quase todo a vermelho | Infografia

Covid-19. Os pontos mais críticos no país quase todo a vermelho | Infografia


Há 28 concelhos onde a incidência de novos casos nas últimas duas semanas superou os 960 por 100 mil habitantes, quatro vezes acima do patamar de 240 casos a partir do qual se considera que o nível de contágio é muito elevado. Paços de Ferreira e Lousada, onde tem havido abrandamento, continuam a ter os…


Numa altura em que o risco de contágio com o SARS-CoV-2 é muito elevado em quase todo o país, os dados de incidência nas últimas duas semanas divulgados ontem pela Direção-Geral da Saúde permitem perceber os pontos mais críticos. Os dados divulgados pela DGS, que o i analisou, mostram que no período de duas semanas entre 28 de outubro e 10 de novembro – a informação disponibilizada –, 90 concelhos registaram uma incidência cumulativa a 14 dias pelo menos duas vezes superior ao patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes, definido internacionalmente como patamar de risco muito elevado e que foi usado pelo Governo para sinalizar os concelhos sujeitos a medidas mais apertadas durante o estado de emergência, atualmente 191. Entre estes 90 concelhos onde o nível de contágio é mais elevado há 28 onde se supera o patamar dos 960 casos por 100 mil habitantes, quatro vezes acima do patamar de risco. As incidências mais elevadas continuam a verificar-se na zona Norte do país, onde o risco é bastante superior. Dois concelhos da zona do Vale do Sousa, onde no último mês se viveu o aumento mais explosivo de casos, mantêm-se no topo dos municípios com maior risco, com uma incidência cumulativa mais de dez vezes superior ao patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes. O abrandamento de novos casos reflete-se, no entanto, nos números. Paços de Ferreira, que chegou a registar uma incidência a 14 dias superior a 4 mil casos por 100 mil habitantes, surge na informação disponibilizada pela DGS, que apanha já parte da última semana, com 3698 casos por 100 mil habitantes. De acordo com informação da ARS Norte divulgada ontem pela agência Lusa, apesar de a região continuar a registar a incidência mais elevada do país, da primeira para a segunda semana de novembro, os novos casos diminuíram em 16 concelhos da região, entre os quais estes que registavam as piores incidências (Lousada e Paços de Ferreira). No distrito do Porto houve ainda um abrandamento em Amarante, Matosinhos, Paredes e Porto. De acordo com a informação divulgada ontem pela DGS, todos estes concelhos se mantêm no grupo que regista as maiores incidências (acima de 960 casos por 100 mil habitantes).

Há outros concelhos que surgem nos lugares mais cimeiros e que não têm sido tantas vezes referidos como os da zona do Tâmega e Vale do Sousa, como Vizela, Penafiel ou Paredes, onde se viveu a maior pressão em termos hospitalares nas últimas semanas. É o caso de Manteigas, de acordo com o boletim da DGS com uma incidência de 2667 casos por 100 mil habitantes (note-se que neste concelho vivem 3007 pessoas, segundo as estimativas do INE para 2019, o que faz com que seja preciso um número menor de casos do que numa zona mais povoada para ter maiores incidências). Ainda assim, isso significa que tem havido um aumento expressivo de casos quando a última informação nos boletins da DGS (que deixaram de conter estes dados a 26 de outubro) era de oito casos confirmados no município.

A lista de dez concelhos com maior incidência a nível nacional inclui ainda Guimarães, Fafe, Santo Tirso e Belmonte, com Felgueiras (que chegou a estar nos lugares cimeiros) a surgir agora em 11.o lugar.

Na região de Lisboa e Vale do Tejo, que depois do Norte é a que tem registado o maior número de novos casos no país, o concelho com maior incidência cumulativa atendendo à população foi Coruche, onde nos últimos dias já tinha havido notícia de surtos num lar e também casos positivos na escola. Registou uma incidência de 801 casos por 10 mil habitantes. Na Área Metropolitana de Lisboa, os concelhos com maior incidência são Lisboa, Cascais e Loures, no patamar dos 500 casos por 100 mil habitantes, muito abaixo do que se viveu nas últimas semanas na Área Metropolitana do Porto. No Porto, a incidência cumulativa nestas duas semanas foi de 1149 novos casos por 100 mil habitantes, quando em Lisboa se situou em 576. Sintra, que é o segundo concelho mais populoso no país depois de Lisboa, registou uma incidência cumulativa de 459 novos casos por 100 mil habitantes neste período. Vila Nova de Gaia, que também tem mais de 300 mil habitantes e é o terceiro concelho mais populoso do país, teve neste período uma incidência de 878 casos por 100 mil habitantes.

 

Medidas diferenciadas a partir da próxima semana

O primeiro-ministro já anunciou que a partir da próxima semana está previsto um escalonamento com medidas diferenciadas nos concelhos com uma situação epidemiológica mais grave, um enquadramento que está a ser preparado pelo Ministério da Saúde. Segundo o i apurou, têm estado a decorrer reuniões preparatórias em que são ouvidos médicos envolvidos na resposta hospitalar, onde se vive uma pressão crescente, e peritos. O gabinete de crise da Ordem dos Médicos defendeu na semana passada a diferenciação entre os concelhos com maior incidência, distinguindo entre os que estão em diferentes patamares de incidência. A ordem propôs também que fossem avaliados confinamentos seletivos por NUT (zonas territoriais que abrangem vários concelhos, como é o caso da zona do Tâmega e Sousa). Nesse cenário, a proposta era, durante o mínimo de duas semanas nas zonas com pior situação epidemiológica, manter-se a atividade dos setores primário e secundário, comércio apenas de bens essenciais e escolas, mas apenas creches e ensino pré-escolar e primário. A hipótese do ensino à distância de alunos mais velhos foi prevista pelo Ministério da Educação para situações de contingência mas, até aqui, não foi implementada em nenhuma zona do país. O primeiro-ministro destacou ontem o dever cívico exemplar dos portugueses durante o primeiro fim de semana com restrições à circulação em 121 concelhos, mas não houve novidades sobre futuras medidas, que também não foram abordadas na conferência da DGS, ontem dedicada a questões técnicas da epidemia, e não políticas, uma distinção feita aos jornalistas no início. Filipe Froes, coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, considerou ao i positiva a divulgação da incidência por concelhos, reiterando a necessidade de uma diferenciação dos concelhos que se encontram acima do patamar de risco mais elevado e defendendo também uma análise por NUT. “Vemos mais vantagem em termos de intervenção a nível regional por sub-regiões do que por concelho, e também distinguindo as diferentes zonas em função do patamar de risco”, diz o médico, defendendo também a necessidade de diferenciar mais os concelhos em maior e menor risco. “Temos duas realidades neste momento em Portugal, abaixo dos 240 e acima dos 240, o significa que apenas com essa distinção temos pouco poder para explicar às pessoas o que se passa em concreto nos seus concelhos, e depois temos medidas que não se enquadram em situações como Paços de Ferreira, que está dez vezes acima desse patamar. Precisamos de maior transparência, maior envolvimento das pessoas e medidas mais finas perante as realidades locais, sempre com coerência”, conclui o médico. No mapa nesta edição, o i assinala a cores mais escuras os concelhos com uma incidência cumulativa acima dos 480 casos, onde o risco é maior a nível nacional.