A raiz dos problemas (II)


Nunca, como hoje, foi tão importante voltar a usar palavras certas que expliquem com clareza – sem subterfúgios – a raiz dos problemas sociais e as suas causas essenciais.


Para ir à raiz dos problemas, demonstrar onde estes realmente se situam e propor alternativas necessárias e realistas capazes de tocarem o fundo das questões, é necessário, porventura, um discurso diferente: novas palavras.

Só desta forma será possível, creio, ultrapassar a barreira da desinformação e as doses intoxicantes de obscurantismo que a enformam.

A linguagem de alguma maneira cifrada e repetitiva usada, por vezes, pelos que se esforçam, genuína e continuadamente, para demonstrar onde se situam os problemas fundamentais da sociedade e as causas deles está, neste momento – reconheça-se -, gasta e, de certa forma, incapaz de transmitir com eficácia as propostas que se propõem divulgar para os ultrapassar.

Há, é evidente, outras e variadíssimas razões, para tal facto.

Umas residem, desde logo, na propositada desinformação que sempre incide sobre tais discursos, análises e propostas; nas campanhas desenvolvidas cientificamente pelos modernos meios de comunicação que são usados e consultados quotidianamente pelos cidadãos.

Outras residem, contudo, na incapacidade – tantas vezes assumida com teimosia – dos que, esforçando-se embora por ir revelando dia após dia a raiz dos problemas, preferem fazê-lo através de um código conceptual próprio, hoje já dificilmente sensível à maioria dos cidadãos e, como se disse, denegrido ante eles por doses massivas de contra-informação.

Ora, a verdade é que tudo se pode dizer e comunicar com clareza e atualidade, sem perder o rigor da linguagem, nem trair a verdade dos conceitos que sempre foram capazes de explicar a realidade.

Não se trata, simplesmente, da forma da mensagem, ou da própria essência da mensagem: acontecendo que uma e outra nem sempre se distinguem.

Não, o problema reside no contexto, na apresentação da realidade, através de uma lógica comunicacional que remete para períodos históricos já pouco percetíveis – racional e emocionalmente – pelas novas gerações e que, à partida, se encontra minada pelo descrédito gerado e alimentado por uma persistente e propagandista informação mediática unilateral.

Acontece, por outro lado, que as palavras, elas próprias, envelhecem: as palavras também têm cara.

Têm cara e têm mais ou menos peso, dependendo de quem as pronuncie e em que circunstâncias o faz.

Dito de outro modo, o problema das palavras reside, por vezes, também, na maneira e no tom com que são pronunciadas, deturpando-lhes por vezes o sentido e, sem querer, esvaziando-as mesmo do seu valor intrínseco e simbólico. 

Acresce que, mais do que as ideias, as palavras que as expressam passam de moda, o que é danoso para os pensamentos que exprimem.

Todos conhecemos como, ciclicamente, se vão usando na vida comum expressões novas que substituem definitivamente outras empregues durante gerações e gerações.

Quantas vezes os meus filhos se riram de expressões – datadas, percebi depois – que usei e de que desconheciam o sentido ou a ironia.

Novas palavras podem expressar, contudo, de maneira mais atual e inteligível, as mesmas atitudes, os mesmos sentimentos, as mesmas indignações, a mesma vida de sempre: podem, é certo, não ter o mesmo peso histórico, a mesma memória emocional das antigas, mas são mais assimiláveis e, por isso, hoje, mais convincentes.

Certas palavras gastam-se, dissemos, e a insistência no seu uso já fora do tempo em que elas valiam por si e impressionavam pelo que conseguiam exprimir e motivar coloca quem as usa – e as verdades que pretendem transmitir – fora da realidade.

Perdem, por isso, valor e eficácia de motivação racional e emocional.    

Certas palavras, certas expressões, até pelas circunstâncias históricas que, com justeza ou sem ela, as erodiram, podem, inclusive, produzir o efeito contrário à verdade que, sem dúvida, querem justamente transmitir.

As palavras que se usam – e quem as usa – têm, pois, de traduzir, com atualidade, a realidade, e, para que isso aconteça, elas têm, hoje mais do que nunca, de ser e parecer verdadeiras: têm de estar acima de qualquer suspeita que os inimigos da verdade lhes queiram atribuir.

Há, por isso, palavras que só podem ser ditas por quem tem idade – tem cara – e uma força própria para dizê-las.

Uma coisa, porém, é certa: nunca, como hoje, foi tão importante voltar a usar palavras certas que expliquem com clareza – sem subterfúgios – a raiz dos problemas sociais e as causas essenciais deles.

Voltar à raiz dos problemas pode significar, pois, não perder tempo demasiado com as flores do pensamento e do discurso rebuscado e especializado em certas contradições muito específicas que, mesmo que verdadeiras, quando empoladas, acabam por ocultar, precisamente, aquilo que é evidente e verdadeiramente relevante: a desigualdade económica, social e cultural gritante que divide injustamente a sociedade.

É sobre ela que estende um sempre renovado e eficiente biombo político-mediático; um biombo sempre feito de palavras encantatórias e mistificadoras, que aparecem como novas, mas apenas expressam ideias velhas ou conceitos truncados e por isso manipuláveis.

Se não nos deixarmos embrulhar no palavreado falacioso, por mais intelectualmente atrativo que ele seja, e se, pelo contrário, procurarmos, de novo, com esforço e persistência, explicar de forma simples e com palavras atuais quais as causas reais dos problemas da maioria dos portugueses, não haverá populismos que se consigam afirmar por muito tempo.

É que os populismos vivem, sobretudo, de palavras que, conquanto tonitruantes, se esvaziam e gastam depressa, embora possam, entretanto, causar danos irreparáveis à sociedade.

Reinventar e descobrir as palavras adequadas aos tempos de hoje e usá-las com sageza, verdade e sem medo é, pois, uma tarefa de todos os que prosseguem a justiça e a querem ver realizada para bem de todos.     

 

 

 

 

 


A raiz dos problemas (II)


Nunca, como hoje, foi tão importante voltar a usar palavras certas que expliquem com clareza – sem subterfúgios - a raiz dos problemas sociais e as suas causas essenciais.


Para ir à raiz dos problemas, demonstrar onde estes realmente se situam e propor alternativas necessárias e realistas capazes de tocarem o fundo das questões, é necessário, porventura, um discurso diferente: novas palavras.

Só desta forma será possível, creio, ultrapassar a barreira da desinformação e as doses intoxicantes de obscurantismo que a enformam.

A linguagem de alguma maneira cifrada e repetitiva usada, por vezes, pelos que se esforçam, genuína e continuadamente, para demonstrar onde se situam os problemas fundamentais da sociedade e as causas deles está, neste momento – reconheça-se -, gasta e, de certa forma, incapaz de transmitir com eficácia as propostas que se propõem divulgar para os ultrapassar.

Há, é evidente, outras e variadíssimas razões, para tal facto.

Umas residem, desde logo, na propositada desinformação que sempre incide sobre tais discursos, análises e propostas; nas campanhas desenvolvidas cientificamente pelos modernos meios de comunicação que são usados e consultados quotidianamente pelos cidadãos.

Outras residem, contudo, na incapacidade – tantas vezes assumida com teimosia – dos que, esforçando-se embora por ir revelando dia após dia a raiz dos problemas, preferem fazê-lo através de um código conceptual próprio, hoje já dificilmente sensível à maioria dos cidadãos e, como se disse, denegrido ante eles por doses massivas de contra-informação.

Ora, a verdade é que tudo se pode dizer e comunicar com clareza e atualidade, sem perder o rigor da linguagem, nem trair a verdade dos conceitos que sempre foram capazes de explicar a realidade.

Não se trata, simplesmente, da forma da mensagem, ou da própria essência da mensagem: acontecendo que uma e outra nem sempre se distinguem.

Não, o problema reside no contexto, na apresentação da realidade, através de uma lógica comunicacional que remete para períodos históricos já pouco percetíveis – racional e emocionalmente – pelas novas gerações e que, à partida, se encontra minada pelo descrédito gerado e alimentado por uma persistente e propagandista informação mediática unilateral.

Acontece, por outro lado, que as palavras, elas próprias, envelhecem: as palavras também têm cara.

Têm cara e têm mais ou menos peso, dependendo de quem as pronuncie e em que circunstâncias o faz.

Dito de outro modo, o problema das palavras reside, por vezes, também, na maneira e no tom com que são pronunciadas, deturpando-lhes por vezes o sentido e, sem querer, esvaziando-as mesmo do seu valor intrínseco e simbólico. 

Acresce que, mais do que as ideias, as palavras que as expressam passam de moda, o que é danoso para os pensamentos que exprimem.

Todos conhecemos como, ciclicamente, se vão usando na vida comum expressões novas que substituem definitivamente outras empregues durante gerações e gerações.

Quantas vezes os meus filhos se riram de expressões – datadas, percebi depois – que usei e de que desconheciam o sentido ou a ironia.

Novas palavras podem expressar, contudo, de maneira mais atual e inteligível, as mesmas atitudes, os mesmos sentimentos, as mesmas indignações, a mesma vida de sempre: podem, é certo, não ter o mesmo peso histórico, a mesma memória emocional das antigas, mas são mais assimiláveis e, por isso, hoje, mais convincentes.

Certas palavras gastam-se, dissemos, e a insistência no seu uso já fora do tempo em que elas valiam por si e impressionavam pelo que conseguiam exprimir e motivar coloca quem as usa – e as verdades que pretendem transmitir – fora da realidade.

Perdem, por isso, valor e eficácia de motivação racional e emocional.    

Certas palavras, certas expressões, até pelas circunstâncias históricas que, com justeza ou sem ela, as erodiram, podem, inclusive, produzir o efeito contrário à verdade que, sem dúvida, querem justamente transmitir.

As palavras que se usam – e quem as usa – têm, pois, de traduzir, com atualidade, a realidade, e, para que isso aconteça, elas têm, hoje mais do que nunca, de ser e parecer verdadeiras: têm de estar acima de qualquer suspeita que os inimigos da verdade lhes queiram atribuir.

Há, por isso, palavras que só podem ser ditas por quem tem idade – tem cara – e uma força própria para dizê-las.

Uma coisa, porém, é certa: nunca, como hoje, foi tão importante voltar a usar palavras certas que expliquem com clareza – sem subterfúgios – a raiz dos problemas sociais e as causas essenciais deles.

Voltar à raiz dos problemas pode significar, pois, não perder tempo demasiado com as flores do pensamento e do discurso rebuscado e especializado em certas contradições muito específicas que, mesmo que verdadeiras, quando empoladas, acabam por ocultar, precisamente, aquilo que é evidente e verdadeiramente relevante: a desigualdade económica, social e cultural gritante que divide injustamente a sociedade.

É sobre ela que estende um sempre renovado e eficiente biombo político-mediático; um biombo sempre feito de palavras encantatórias e mistificadoras, que aparecem como novas, mas apenas expressam ideias velhas ou conceitos truncados e por isso manipuláveis.

Se não nos deixarmos embrulhar no palavreado falacioso, por mais intelectualmente atrativo que ele seja, e se, pelo contrário, procurarmos, de novo, com esforço e persistência, explicar de forma simples e com palavras atuais quais as causas reais dos problemas da maioria dos portugueses, não haverá populismos que se consigam afirmar por muito tempo.

É que os populismos vivem, sobretudo, de palavras que, conquanto tonitruantes, se esvaziam e gastam depressa, embora possam, entretanto, causar danos irreparáveis à sociedade.

Reinventar e descobrir as palavras adequadas aos tempos de hoje e usá-las com sageza, verdade e sem medo é, pois, uma tarefa de todos os que prosseguem a justiça e a querem ver realizada para bem de todos.