Tiago Mota Saraiva. “O problema da habitação resolve-se com cooperativas ou com fundos de terras comunitárias”

Tiago Mota Saraiva. “O problema da habitação resolve-se com cooperativas ou com fundos de terras comunitárias”


Para o arquiteto, os problemas na habitação permanecem e nem a pandemia tornou as rendas ou os preços dos imóveis mais acessíveis.


Tiago Mota Saraiva considera que uma das soluções para o problema da habitação passa por uma maior aposta em cooperativas, tal como já acontece noutras cidades europeias. No entanto, admite que isso irá contra os interesses instalados, já que o imobiliário é visto como um dos investimentos mais seguros. O arquiteto diz ainda que o maior erro foi cometido a partir da década de 80, com os portugueses a tornaram-se proprietários que, de um dia para o outro, podem deixar de conseguir pagar o empréstimo. Em relação à oferta pública de habitação, defende que tem de duplicar mas, ainda assim, será insuficiente para acudir a todas as necessidades. 

Chegou a afirmar que o mercado de habitação era uma bomba-relógio e que era preciso encontrar soluções para resolver este problema. Ainda estamos na mesma situação com a pandemia?

Curiosamente, a pandemia fez com que a bomba-relógio fosse rebentando aos poucos, ou seja, as pessoas perceberam que o problema da habitação não era um problema que estava assim tão longe. Mesmo as pessoas que tinham casa perceberam que esse problema existia porque houve quem tivesse percebido que não conseguia fazer o confinamento porque não tinha condições para estar em casa. A pandemia veio pôr a nu os problemas que já existiam. Por outro lado, não fez uma coisa que todos pensávamos: o preço do arrendamento praticamente não baixou, nem o preço de venda de imóveis. O que se assistiu foi a uma redução muito pouco significativa. Portanto, continuamos a ter o problema, que está a crescer numa nova forma. Por um lado, percebemos que há gente aflita a colocar à venda os seus imóveis porque está com carências económicas. Por outro lado, também sabemos que há um conjunto de entidades, nomeadamente fundos imobiliários que continuam a operar e a acumular. Isso acontece sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também noutros territórios com potencial interesse turístico, na expetativa que é aguentar este período até haver vacina, porque têm a noção que, depois, vai voltar tudo ao mesmo.

E, assim, o problema da habitação continua a não ser resolvido…
Não estamos a resolver o problema. Sabemos que o problema da habitação tem de ter uma resposta pública e que já está anunciada através da criação de bolsas de imóveis por parte da Secretaria de Estado, mas que é insuficiente. Há uma disposição para aumentar significativamente a oferta pública, mas estamos com níveis muito baixos, continuamos com 2% da oferta de habitação pública a nível nacional. 

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