Lembro-me de ser miúdo e por gostar de História e de ouvir os mais velhos, rápido perceber que em política a figura do saneamento era normalmente lembrança de tempos já longínquos e que, portanto, pelo menos às claras, dificilmente aconteceria na actualidade. Fui crescendo e apercebi-me então que não era, afinal, uma lembrança pretérita, mas existente nos dias presentes ainda que de uma forma mais polida. Com uma nova roupagem se assim quisermos chamar, em que acontecia, mas pelo menos disfarçadamente. Qual não é o meu espanto quando chego aos meus 31 anos de vida e pelo que vejo chego à conclusão de que em minha opinião não só continua a haver saneamentos como são feitos à descarada, sem sequer se disfarçar o momento e os hipotéticos motivos que a eles conduzem. Bem sei que jurídico administrativamente o agora ex. presidente do Tribunal de Contas não foi despedido. Foi apenas, numa linguagem técnica e chique, “não reconduzido no cargo”. O que acho extremamente curioso, ou eventualmente nem tanto, é que não se tenha reconduzido no cargo, um homem que no exercício das suas funções manifestou por diversas vezes sérias reservas face aos procedimentos que o Governo pretende adoptar em várias rubricas. Não vou sequer aprofundar o pormenor “delicioso” da não recondução da pessoa no cargo ter sido comunicada através de uma chamada telefónica (que tenho como certa porque ninguém a desmentiu categoricamente) porque essa atitude é o reflexo da total falta de finura que paira em certos quadrantes da governação portuguesa. O que prefiro antes destacar, além da conduta verdadeiramente deplorável, diria mesmo que repugnante de um Primeiro-ministro cuja sobranceria não tem limites (e que se sente no seu olhar quando se está na sua presença), é que conseguiu ainda assim, uma vez mais, amarrar Marcelo Rebelo de Sousa a um jogo do qual está completamente refém. Não é que eu esteja a desculpar Marcelo do miserável papel que hoje desempenha porque até certo ponto ele também fez por isso, mas realmente é quase caricato ver (segundo conteúdos do Expresso) que Costa ao ser confrontado por jornalistas se tenha logo apressado a aclarar que, e cito “Como o Sr. Presidente da República teve ocasião de explicitar, é entendimento do Governo e Presidente que não deve haver lugar à renovação de mandato, para garantia da independência da função”. Que me perdoem o termo, mas estamos perante uma palhaçada tal que já ninguém tem vergonha, incluindo o primeiro-ministro que insiste em fazer da presidência da república uma espécie de “cabaret da coxa”. E não me venham com a lengalenga de que Marcelo apesar de tudo apelou aos cuidados contra a corrupção, os compadrios e mais não sei o quê. De facto, apelou. Mas de que servem esses apelos perante a sua conivência com a decisão de um primeiro-ministro em não reconduzir no cargo um presidente do tribunal de contas que tem feito tantos alertas contra procedimentos que podem, eles próprios, contribuir para o aumento dessa mesma corrupção, compadrios e clientelas? Meus amigos, palavra de honra que não quero ser mal-educado com ninguém. Não é essa a minha forma de estar na vida, mesmo que por vezes como todos os mortais também falhe. Mas perdoem-me, e repito, perdoem-me outra vez, ao assistir ao que se passa no meu país, aquilo que por vezes dou comigo a pensar é que estamos entregues a uma cambada de bananas. E já agora, porque também é de inteira justiça, faz alguns dias vi Ricardo Costa – Director Geral de Informação do grupo de comunicação social Impresa e irmão do primeiro-ministro – dedicar uma coluna de opinião aos comportamentos de André Ventura. Que tal escrever agora outra sobre os comportamentos do maninho querido?
Do saneamento no Tribunal de Contas e do Cabaret da Coxa
Lembro-me de ser miúdo e por gostar de História e de ouvir os mais velhos, rápido perceber que em política a figura do saneamento era normalmente lembrança de tempos já longínquos e que, portanto, pelo menos às claras, dificilmente aconteceria na actualidade. Fui crescendo e apercebi-me então que não era, afinal, uma lembrança pretérita, mas…