Eugénio Rosa. “Se Governo optar por soluções à direita vai ser semelhante à troika”

Eugénio Rosa. “Se Governo optar por soluções à direita vai ser semelhante à troika”


Economista defende uma solução à esquerda


O economista critica as decisões que foram tomadas pelo Governo em matéria fiscal, ao lembrar que os impostos indiretos foram os mais carregados, mas de forma injusta porque “não atende ao rendimento do contribuinte”, mas chama a atenção para o facto de passarem “mais despercebidos à população”. Na entrevista por email, Eugénio Rosa volta a apontar o dedo aos números do desemprego, voltando a garantir que estão a ser destruídos 1500 empregos por dia, assim como à falta de qualidade dos serviços públicos, resultado da redução do número de trabalhadores. Uma degradação que, no seu entender, é mais visível com a pandemia, afirmando que “são os portugueses que sofrem com a falta ou insuficiência dos serviços”, como é o caso do SNS. E para o economista não há dúvidas: “As mortes causadas por falta de assistência médica atempada certamente dispararam e eventualmente já são superiores às causadas pela pandemia”. Eugénio Rosa tem ainda uma palavra a dizer em relação ao programa de relançamento da economia, defendendo que já estamos em outubro e “o Governo continua no domínio das ideias gerais”, sem apresentar nada em concreto. Quanto à banca tece duras críticas à atuação do Banco de Portugal tanto no caso do BES/Novo Banco, como também do Montepio, apesar de defender que são situações distintas. 

Ainda esta semana foi revelado que a taxa de desemprego em agosto situou-se em 8,1%. Mas num estudo recente acusou o INE de falsear os números ao afirmar que, em três meses, foram destruídos 1500 empregos por dia… 

Comparei os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) do emprego referentes ao 1.º trimestre e ao 2.º trimestre de 2020. Segundo os dados divulgados pelo INE, nos três primeiros meses do ano, a população empregada era de 4.865.900 e, no segundo trimestre, tinha sido reduzida para 4.731.200, o que significa que foram destruídos 134 700 empregos. Isto dá uma média de cerca de 1 500 empregos destruídos por dia. Como é que, com esta destruição tão elevada de emprego – e, consequentemente do desemprego que criou – mesmo assim, o INE diz que, entre o primeiro e o segundo trimestre, a taxa de desemprego diminuiu de 6,7% para 5,6%? É evidente que uma coisa não condiz com a outra.

Também diz que há uma redução do número de trabalhadores públicos e que os serviços estão degradados…. 

São as próprias estatísticas sobre o emprego público divulgadas pela DGAEP do Ministério das Finanças que confirmam isso. Entre 2011 e 2015, foram destruídos nas administrações públicas 68 641 empregos e, no fim de 2019, o número de trabalhadores de todas as administrações públicas era ainda inferior em 29 263 em relação ao que existia em 2011. Quem está na administração pública sabe bem que o número de trabalhadores com as competências necessárias é manifestamente insuficiente para prestar os serviços que a população precisa. Estou num conselho diretivo de um instituto público e sei bem o que isso significa. Há mais de dois anos decidimos lançar concursos para a contratar os trabalhadores que necessitamos, mas até esta data, não conseguimos nem um trabalhador dessa forma devido aos obstáculos e burocracias que existem ou que são criadas pelo Ministério das Finanças. E neste período houve trabalhadores que se aposentaram. Isto significa um acréscimo de trabalho para os que ficam e uma degradação dos serviços que são incapazes de responder atempadamente às necessidades da população. 

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