Com influências que vão desde Daft Punk, John T. Gast a New Order, Império Pacífico é um projeto que junta dois promissores e talentosos nomes do futuro e presente da cena eletrónica experimental portuguesa, Luan Bellussi (trash CAN) e Pedro Tavares (funcionário).
Se Racing Team, o seu último EP, foi uma corrida, Exílio assume-se como uma viagem-retiro.
Sintetizadores cortantes, samples com o som da cidade, como quem está a ouvi-la de fora, excursões por sonoridades como o IDM ou techno, e conta ainda com a voz de Maria Reis, metade das Pega Monstro, no tema Nitsusada. Exílio é um álbum imprevisível e os Império Pacífico explicam-nos o porquê.
Primeiro, o contexto
Após a edição do "Racing Team", fomos convidados pela editora Variz para construir um pequeno EP, a ser editado em vinil e digital. No entanto, rapidamente a ideia ganhou uma maior ambição e a proposta estendeu-se para a edição de um Longa Duração, no mesmo formato. Foi muito feliz para nós ter esta oportunidade, uma vez que até à data ainda não tínhamos nenhum álbum em nosso nome.
Os traços gerais que pautam o disco já existiam no nosso imaginário antes, mas com o convite da Variz esforçamo-nos para materializar esta visão de uma forma coesa e sincera, para proporcionar aos ouvintes uma experiência que justificasse existência do LP neste formato. Desde o incrível trabalho que a Elisa Azevedo fez com a capa às canções que a Maria Reis escreveu, tudo no "Exílio" foi pensado para transmitir uma sensação de tranquilidade na distância, uma felicidade não-eufórica que simplesmente apraz. Nada disto seria possível sem a ajuda de todas as pessoas que estiveram connosco ao longo deste processo, pois exílio pode sem dúvidas querer dizer um retiro colectivo para um lugar (imaginário ou material) melhor.
Terraquipasa
A faixa basilar que solidificou os conceitos que iriam se tornar no "Exílio" – a distância como segurança, o constante mundo a girar, a paz nas incertezas. O tema abre com as palavras de um sem-abrigo sobre as suas múltiplas origens (sample gravada à porta do Lounge, em Lisboa). Composta e produzida entre as nossas casas e o Jardim da Gulbenkian, as paisagens deste último foram a referência visual para os tons que procurávamos para o ambiente geral do disco.
Camada a Ferver
Após a construção do instrumental, reservamos a faixa para ser trabalhada com um acompanhamento vocal – a primeira vez que o faríamos em Império Pacífico. A ideia de trabalhar com a Maria já tinha sido posta "em cima da mesa", pois já acompanhávamos o seu trabalho a solo e nas Pega Monstro desde muito cedo. Para além disso, muitas vezes nos cruzamos com ela no antigo Bar Irreal, o que cimentou a oportunidade de apresentar esta ideia. Apesar do registo de Império ser muito diferente do que ela estava habituada, acolheu a nossa faixa com muita receptividade e, após um breve brainstorming sobre os temas a abordar, apresentou muito prontamente um esboço melódico da linha vocal. Foi um hit imediato para nós, ficou fantástico. A faixa final como consta no disco é apenas uma versão mais trabalhada/polida deste primeiro esboço certeiro que a Maria nos apresentou.
Villa
Uma faixa que nos deu muito gosto de apresentar ao vivo (por exemplo, na edição de 2018 do Out.Fest). A estrutura meio-que-pirâmide dá-nos muita liberdade para explorar o ímpeto crescente-decrescente, o que resulta numa experiência muito divertida e liberadora sempre que estamos a tocar. Originalmente pensámo-la apenas para concertos, mas após a proposta da Variz em fazer o disco o tema colou-se organicamente na visão que tínhamos, e rapidamente se tornou no encerramento do lado A.
Nitsusada
Após o óptimo resultado da Camada a Ferver, novamente abordamos a Maria para mais uma canção. Seguindo um M.O. praticamente igual, o tema excedeu completamente as nossas expectativas. Para referência, Nitsusada é o marido de uma importante poeta Japonesa algures no século XVII. Nesta altura, dificilmente uma mulher teria a oportunidade de assinar os seus próprios trabalhos, portanto assinava como "Mulher do Nitsusada". A letra foi completamente escrita pela Maria, o que resultou nesta faixa emotiva e carregada de significado.
Exílio
Escrevemo-la completamente no estúdio, ao contrário de provavelmente todo o trabalho musical que já tínhamos feito até aqui. Explorando o nosso equipamento ao máximo, é sem dúvidas a faixa mais assumidamente "dançável", sendo uma das nossas principais referências directas o trabalho de John T. Gast.
Bonfim (Cheat Codes & Pedras)
O título desta faixa é uma dupla dedicatória – ao Parque do Bonfim, em Setúbal, que tal como o Jardim da Gulbenkian inspirou muitos dos conceitos que pretendemos explorar no disco, para além de ser um dos nossos refúgios dentro da cidade; ao antigo bar Irreal, que durante a sua curta vida foi sem dúvidas um dos melhores espaços para convívio e concertos em Lisboa. Quando lá íamos, o nosso pedido do costume era o "Cheat codes" (a.k.a. um pequeno copo de whisky Nikka) e uma água das pedras.