Costuma ser notícia precisamente pelas razões inversas, mas esta época o Barcelona dá que falar pelos piores motivos, uma vez que fecha 2019/20 em branco. Aliás, é a primeira vez desde 2007/08 que os blaugrana não levam qualquer troféu até Camp Nou. Messi e companhia terminaram em segundo lugar na Liga espanhola, foram eliminados nas meias-finais da Supertaça de Espanha e nos quartos-de-final da Taça do Rei.
O pesadelo blaugrana ficou entretanto confirmado em Lisboa, com a humilhação sofrida ante o Bayern Munique, nos quartos da Liga dos Campeões.
O 8-2 exibido no marcador da Luz fica para já para a história como a terceira pior derrota de sempre dos culés em todas as competições que já disputou desde a fundação do clube. Para se ter uma ideia, é preciso recuar oito décadas para encontrar as outras duas maiores goleadas sofridas pelo emblema catalão: em 1940/41 perdeu por 11-1 diante do Sevilha, no campeonato espanhol; e, ainda antes, em 1930/31, foi derrotado por 12-1 pelo Athletic Bilbau, na mesma prova. Mais: o 8-2 ante a formação alemã foi o maior desaire do Barça nas competições europeias, superando o 6-2 sofrido ante o Valência, em 1962, na primeira mão da final da extinta Taça das Cidades com Feiras, que antecedeu a Taça UEFA e a Liga Europa. Mais ainda: além da equipa che, só os búlgaros do Levski de Sófia (vitória por 5-4 nos quartos de final da Taça UEFA de 1975/76) tinham conseguido alcançar a ‘manita’ frente à equipa catalã. Desde então, a pior derrota registada pelo Barcelona na Europa tinha acontecido precisamente na época passada, quando a turma catalã perdeu em Anfield diante do Liverpool, por 4-0, na segunda meia-final da Champions, que viria a ser conquistada precisamente pelos reds de Jurgen Klopp.
Setién despedido: início da revolução Logo após a eliminação da prova milionária, na última semana, o presidente Josep Maria Bartomeu fez saber que iria ser posta em marcha uma revolução no clube. O líder não se demitiu, mas convocou eleições para março de 2021, entregando aos sócios o poder de escolha quanto à possibilidade de começar uma nova era também ao nível da direção. Ainda antes, Bartomeu já havia anunciado a primeira baixa: como era expectável, Quique Setién foi o primeiro a cair, deixando o comando técnico ao fim de sete meses. Setién tinha sido contratado em janeiro, tendo orientado a equipa em 25 jogos (16 vitórias, quatro empates e cinco derrotas).
Depois do treinador, segue-se a reestruturação profunda no plantel, com o Barcelona a abrir a porta de saída à maioria dos jogadores, incluindo vários pesos pesados. De acordo com o jornal catalão Sport, só Messi, Ter Stegen, Lenglet e De Jong integram a lista dos intransferíveis.
Entre os jogadores dispensáveis encontram-se o português Nélson Semedo, Philippe Coutinho, Ousmane Dembélé, Ivan Rakitic, Neto, Samuel Umtiti, Junior Firpo, Arturo Vidal, Sergi Roberto, Antoine Griezmann, Rafinha e Jean-Clair Todibo. Piqué, na equipa principal desde 2008; Jordi Alba, no clube desde 2012; Sergio Busquets, fez toda a carreira no Barcelona e Luis Suárez, termina contrato em 2021; também deverão deixar Camp Nou.
A nova avenrura de ‘Tintin’ Ronald Koeman é o sucessor de Setién no comando técnico do Barcelona. O então selecionador holandês aterrou ontem em Espanha para fechar contrato para as próximas duas temporadas. Antes de orientar a Laranja Mecânica (desde fevereiro de 2018), esteve no Everton, Southampton, Feyenoord, AZ Alkmaar, Valencia, PSV, Benfica, Ajax e Vitesse. O técnico de 57 anos jogou no Barcelona entre 1989 e 1995 (marcou 87 golos em 264 jogos), e foi nessa altura que recebeu a alcunha de Tintin, devido às semelhanças físicas com a célebre personagem de banda desenhada. Mais tarde, chegou a desempenhar no clube blaugrana as funções de treinador adjunto de Louis Van Gaal em 1998/99. No currículo conta com oito troféus enquanto treinador principal: uma Supertaça portuguesa (2004/05); uma Taça de Espanha (2007/08), três campeonatos dos Países Baixos (2001/02, 2003/04 e 2007/08 – os dois primeiros pelo Ajax, e o último já ao serviço do PSV Eindhoven), duas supertaças dos Países Baixos (2002/03 e 2008/09) e uma Taça dos Países Baixos (2001/02).
Em Camp Nou espera-se agora um novo Barça, com Donny van de Beek a posicionar-se como o primeiro reforço. O internacional holandês esteve para assinar pelo Real Madrid na temporada passada, mas o custo da operação manteve o médio no Ajax. O jogador de 23 anos esteve toda a carreira no clube de Amesterdão e é bem conhecido pelo novo treinador devido aos trabalhos na seleção holandesa. Van de Beek tem atualmente um custo de mercado na ordem dos 45 milhões de euros, mas antes da pandemia o emblema holandês pedia 70 milhões de euros pelo médio, razão que levou a transferência para os merengues cair por terra. Entre os alvos do Barcelona estará também o português Bernardo Silva. No Manchester City desde o verão de 2017, o internacional português tem sido um dos rostos principais do conjunto de Pep Guardiola. Embora esta época tenha sido dececionante para os citizens, o ex-Benfica de 26 anos foi um dos protagonistas da época de ouro do clube em 2018/19, quando ajudou a conquistar todas as competições inglesas. De acordo com a imprensa britânica, os culé pretendem envolver Nélson Semedo no negócio, de modo a baixar o preço do canhoto, que custou aos ingleses 50 milhões de euros. Além disso, entre os principais rumores destaca-se o eventual regresso de Neymar. A imprensa internacional avança novamente com o interesse do Barça no atacante de 28 anos. O internacional brasileiro deixou o Barcelona no verão de 2017 num negócio histórico, com os franceses do PSG a desembolsarem 222 milhões de euros.
Uma coisa é certa: depois de um ano atípico para o clube espanhol, que culminou com a inenarrável derrota em Lisboa, a direção culé parece estar disposta a quase tudo para voltar a colocar a equipa no caminho dos títulos.