Mas devemos agradecer a António Costa?


O homem é pago para zelar pelo país. Ponto. Por outro lado, quando vejo muito dinheiro entregue nas mãos de socialistas fico sempre muito preocupado. É que, normalmente, quando isso acontece – e a história portuguesa é disso mesmo bem demonstrativa –, o dinheiro é na maioria das vezes mal aplicado, chegando rapidamente ao esgotamento. 


Tal como qualquer pessoa atenta, à medida que os anos vão passando e me vou apercebendo de que o mundo que imaginamos na ingenuidade das primeiras décadas de juventude é bem distinto do que acabamos por verificar existir quando chega a maturidade, considero que cada vez menos são os traços de personalidade ou conduta que possam surpreender-me.

A tacanhez e mediocridade a que muitas vezes assistimos em alguns dos nossos governantes, e que quase por osmose parece, muitas outras, sentir-se na sociedade, é uma delas. Ainda assim, devo confessar que toda esta telenovela, uma vez mais alimentada pelo primeiro-ministro no que diz respeito às negociações no Conselho Europeu sobre os montantes de apoio que todos os países deveriam receber (pela articulação do Fundo de Recuperação e do Quadro Financeiro Plurianual), em particular no que respeitasse ao nosso país, foi qualquer coisa de surreal. É que, francamente, chegam a ser patéticos os agradecimentos políticos e públicos à prestação de António Costa nestas mesmas negociações.

Dei comigo a pensar se o primeiro-ministro tinha realmente feito um grande favor ao país e aos portugueses. Mas mal se atravessou esta questão no meu pensamento, rapidamente me lembrei que, normalmente, aos primeiros-ministros cabe sempre, pelas funções que tutelam, zelarem pelos interesses nacionais, seja em que dinâmica for. E, assim, tive um terceiro pensamento, em que cheguei à conclusão de que António Costa não fez mais do que a sua básica e primeira obrigação. Por que raio temos de agradecer ao primeiro-ministro por ele ter feito aquilo que tinha de fazer? A que se deve este novo pseudoendeusamento propagandístico? É ser pequenino. É pensar pequenino. Tão pequenino quanto foi ver o primeiro-ministro português encontrar-se com o primeiro-ministro espanhol e, enquanto o segundo falou, como seria natural, em espanhol, o nosso, anormalmente, não falou em português. Triste fado este em que uns confundem globalismo com tacanhez de espírito e agradecimento com o exigir que quem tem obrigações as cumpra.

Dir-me-ão: mas se o homem conseguiu um bom acordo não se lhe deve agradecer? Não! Não há nada que lhe agradecer. O homem é pago para zelar pelo país. Ponto. Por outro lado, quando vejo muito dinheiro entregue nas mãos de socialistas fico sempre muito preocupado. É que, normalmente, quando isso acontece – e a história portuguesa é disso mesmo bem demonstrativa –, o dinheiro é na maioria das vezes mal aplicado, chegando rapidamente ao esgotamento. Portanto, atendendo a que Portugal vai receber, mais coisa menos coisa, à volta de 18 milhões de euros por dia durante os próximos nove anos, em vez de andarmos a agradecer o que quer que seja ao nosso primeiro-ministro, o que se deve fazer é exigir-lhe que os utilize naquilo de que o país verdadeiramente precisa – circunstância essa em que, novamente, os socialistas, demonstra-o também a História, não são bom exemplo. Como disse um dia Thatcher: o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros.

Ora, quem tem de agradecer a alguém é o próprio António Costa porque, como o nosso dinheiro já o tinha gasto praticamente todo depois de quatro anos a governar com os apêndices de esquerda, foi uma sorte haver uns novos “outros” externos para além dos nossos “outros” internos que garantissem que ele pudesse continuar a funcionar. Pelo menos, aparentemente. Portanto, calma com os agradecimentos. Porque, repito, em bom rigor, se há alguém que tem de agradecer alguma coisa é António Costa. Os portugueses, a ele, muito particularmente a ele, não devem nada. Absoluta e rigorosamente nada.