Henrique Louro Martins, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), confirma que muitos tripulantes de cabine continuam com receio de ficarem contaminados dentro dos aviões lotados. O sindicalista diz-se satisfeito com o negócio entre Estado e privados, mas considera que os 55 milhões pagos a David Neeleman foram exagerados face aos prejuízos causados pela sua administração. O responsável admite que nunca teve uma boa relação com Antonoaldo Neves e considera a sua saída da comissão executiva como boa notícia para os sindicatos.
A maioria dos trabalhadores da TAP está em layoff desde abril. Com quase três meses e meio a suportarem cortes nos rendimentos, que ambiente se vive no seio da empresa e em particular entre os tripulantes de cabine?Neste momento, o mais urgente é mesmo a saída dos tripulantes do layoff. Os tripulantes de cabine precisam de regressar urgentemente ao regime normal. Existem, de facto, situações de enorme gravidade, com pessoas que perderam os seus rendimentos, em alguns casos marido e mulher, o que está a complicar muito a vida das famílias. As despesas têm por base os ordenados e existem na TAP situações sociais muito graves.
Uma das queixas do SNPVAC diz respeito à forma como estão a ser contabilizados os salários no âmbito do layoff. O sindicato diz existirem casos de trabalhadores que nem sequer estão a receber o salário mínimo. É mesmo assim?
Houve uma interpretação muito pouco correta da TAP, mais propriamente da comissão executiva, daquilo que são as vertentes dos ordenados que deveriam ser apresentados à Segurança Social no âmbito do layoff. Esta situação já está em tribunal e esperamos que seja rapidamente resolvida, a bem dos trabalhadores.
O i teve conhecimento de ordenados entre os 300 e os 400 euros por mês. A TAP tem vindo a assegurar os 2/3 terços do salário acima do teto definido pela lei do layoff , mas por outro lado, há trabalhadores que recebem estes valores. Como se explica esta situação?
A TAP não quis incluir para os cálculos do layoff algumas vertentes que fazem parte da tabela salarial normal dos seus trabalhadores. Existem, de facto, essas desigualdades. A TAP não aplicou um teto máximo ao layoff, o que foi um ato de gestão da empresa, mas que não me parece coerente tendo em conta a situação financeira atual da empresa, para mais quando depois acaba por optar por não aplicar um teto mínimo. Como é possível haver pessoas a receberem abaixo do ordenado mínimo? Há pessoas na TAP a receberem atualmente 300 e 400 euros por mês, há quase quatro meses. Não podemos de maneira nenhuma estar satisfeitos com esta situação.
Como tem sido encarada esta discrepância de salários entre trabalhadores?
Com revolta. Hoje em dia, as redes sociais são um veículo de transmissão de tudo e mais alguma coisa e, obviamente, estas questões são faladas e discutidas. As pessoas estão cientes da grave crise que se vive, mas é necessário que sintam da parte da empresa que lhes é dada a importância devida porque se não se sentirem valorizadas é mais difícil que os tripulantes de cabine e os outros trabalhadores vistam a camisola e puxem pela empresa. Todos temos de lutar pelo futuro da TAP, mas a TAP também tem de ajudar as pessoas neste momento. E, para já, isso não está a acontecer.
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