Sobrevivem sem órgão de gestão: é assim que os Bombeiros Voluntários de Elvas têm cumprido as suas funções nos últimos dias, depois de um ato eleitoral em que a lista vencedora recusou tomar posse por estar a ser alvo de muitas críticas, segundo contou ao i o comandante da corporação, Tiago Bugio, que coordena o grupo de profissionais da instituição. E é o presidente dessa mesma direção, Amadeu Martins, vencedor das eleições para o cargo mais alto, em março deste ano, com 110 votos – contra 93 da outra lista –, que não tem sido poupado. Desde falhas no fornecimento de material e alimentação até dinheiro mal gerido são muitos os defeitos que grande parte da corporação encontra. Tiago Bugio explicou que noutros mandatos havia falhas que “colocavam em causa a prestação de socorro”.
“Era solicitado material de emergência pré-hospitalar – compressas, luvas, ligaduras e outros materiais – e o presidente da direção ignorava os pedidos que lhe eram feitos. Houve até um bombeiro que teve de assumir uma caixa de luvas e depois fazíamos a divisão conforme ia havendo necessidade”, contou, acusando essa direção de não saber liderar e realçando que, na altura em que geriam a corporação, o presidente foi contra a criação da equipa de intervenção permanente, mesmo depois de o órgão de direção tê-la aceitado.
“Logo aqui houve uma desconfiança e um mal-estar geral. O comando dá opinião favorável, a direção aprova a constituição e, depois, o presidente diz que não. Virou as costas a todos porque não era ele sozinho a gerir a instituição em fevereiro de 2019. Depois instalou-se um mal-estar entre o próprio comando e os outros elementos da direção”, sublinhou o comandante, não percebendo a razão que leva esse órgão de gestão a querer voltar a comandar os Bombeiros Voluntários de Elvas. “Se esses senhores se recusavam a fornecer material, por que razão querem voltar? Para quê?”, questionou.
Foi desde 5 de julho de 2017 até 26 de agosto de 2019 que Amadeu Martins assumiu a direção. Desde então, os bombeiros estavam a ser geridos por uma comissão administrativa. Agora, depois das eleições, estão sem ninguém à frente da instituição. Mas com a lista vencedora é que não querem lidar. ”Em maio de 2019, esta direção estava contra a aceitação do dispositivo de combate a incêndios rurais pois dizia que os bombeiros, após regressarem dos incêndios, iam tomar banho e isso tinha um custo muito elevado. Diziam que os bombeiros consumiam muito gás”, referiu Tiago Bugio, explicando que em junho de 2019 aconteceram dois grandes incêndios no concelho de Elvas. “Quando confrontada com a necessidade de fornecer alimentação aos operacionais que andavam a combater os incêndios, recusou-se. Recusou-se a dar alimentação. Ocorreu por duas vezes consecutivas”, atirou.
Dinheiro mal gerido e sem rumo Também as contas e a gestão do dinheiro dos Bombeiros Voluntários de Elvas, na altura do presidente da lista vencedora, estão a ser alvo de muitas críticas. Segundo Tiago Bugio, existiram viaturas antigas que foram adquiridas por Amadeu Martins sem o consentimento dos restantes elementos da direção.
“Não havia atas das reuniões de direção. Em agosto de 2019, ainda não havia relatório de contas da instituição. Eles compraram uma ambulância com 330 mil quilómetros e mais de dez anos. Era uma ambulância que o presidente da direção adquiriu sem conhecimento dos restantes elementos. Tomou a decisão sozinho”, referiu, acrescentando que até foi detetada, na altura, uma diferença de 22 mil euros num depósito feito. “A auditoria identificou um depósito que foi efetuado no Novo Banco em que a contabilidade registou uma saída de 38 mil euros da caixa da associação para o Novo Banco. Mas o comprovativo do depósito indicava apenas 16 mil euros. Há aqui uma diferença de 22 mil euros que não se sabe o destino deles. Não se sabe para onde eles foram. Há uma grande revolta dos bombeiros também porque foi identificado pela auditoria que a retenção na fonte que os bombeiros faziam não estava certa”, rematou. E reforçou que os profissionais daquela associação têm vindo também a receber ameaças, muitas delas através das redes sociais.
“Os operacionais têm sido maltratados, menosprezados e ameaçados. Há uma agressão psicológica aos bombeiros por parte dessas pessoas, também através das redes sociais. Têm existido várias ameaças, inclusivamente de despedimentos”, disse Tiago Bugio, que considera ainda terem existido outras situações em que os bombeiros daquela corporação foram fortemente desrespeitados. “É desconsiderar quem dá tudo por esta instituição”, afirmou.
Em declarações à SIC, o presidente da lista vencedora, Amadeu Martins, reagiu às críticas e em sua defesa admitiu não poder fazer nada se os bombeiros não querem ser liderados pela sua direção. “Estamos de espírito aberto e queremos trabalhar com todos os bombeiros que existem naquela casa, porque são excelentes bombeiros. Se eles não querem estar connosco, não podemos fazer nada”, confessou.