“Não se mudam generais a meio da batalha”. Foi mais ou menos assim que o todo-poderoso António Costa respondeu a André Ventura quando este lhe solicitou que demitisse um elemento da sua corte quando, há uns meses, o trabalho então por ele feito não condizia com a propaganda existente.
Costa saía então em defesa de um dos seus vassalos, afirmando-se como um protetor inveterado de quem acaba por lhe amparar os golpes. Ora, começo a ficar com a sensação de que António Costa está desejoso de virar o bico ao prego e que quem vai levar por tabela é a ministra da Saúde. É que, pese embora a ministra, bem como a diretora-geral da Saúde, tenham por diversas vezes demonstrado manifesta inaptidão ou simples falta de jeito e norte em muitos esclarecimentos que foram prestando sobre a pandemia e posturas a adotar perante ela (dizendo uma coisa num segundo e o seu contrário no seguinte), faltava ao primeiro-ministro um bode expiatório em que pudesse despejar as imensas fraquezas e insuficiências governativas.
Tanto é (e ao escrevê-lo não cometo nenhuma inconfidência, porque o episódio já foi por demais difundido por diversos meios de comunicação social nacionais) que no episódio há não muitos dias ocorrido numa das reuniões do Infarmed, Costa basicamente desautorizou e, a meu entender, pior que isso, envergonhou a ministra da Saúde perante todos os que na sala se encontravam. Ora, para quem dizia não abandonar os seus generais, eventualmente deveria antes dizer que não abandona os generais até que, para seu jeito e salvação, lhe seja útil abandoná-los. Ou então, mesmo que não pense abandoná-los, o que também não pode é mantê-los, mas enfraquecidos por sua própria ação, que é o que está a acontecer. Isto já para não falar do auxílio meio trôpego de Fernando Medina, que também surgiu a deitar mais gasolina na fogueira.
Logo Fernando Medina, que é tão-só e apenas o presidente da Câmara de Lisboa, cidade, infelizmente, responsável pelo maior número de infeções registadas nas últimas semanas, também, em grande medida, sem que se conheça qualquer plano específico ou especial apresentado pela edilidade para que o cenário se altere. Lisboa já tem um santo padroeiro. E não é São Fernando, muito menos Medina. Vamos lá a ver se há alguma dignidade nas posturas adotadas. Mas, voltando a António Costa e nele terminando, é mau presságio quando um líder, seja ele quem for, decide atacar e fragilizar os seus quando se vê apertado. Mostra a História que quem assim atua, ao cair, fá-lo com estrondo. Com estrondo e apunhalado por todos em quem antes também afiava a navalhinha. Mas, no fundo, é Costa a ser apenas Costa. Não lhe nego a inteligência e muito menos lhe nego o jogo de cintura e faro político que o caracterizam, mas é um político que continua a viver de truques.
Desde o pacto de não agressão assinado com António José Seguro, que depois rasgou para vencer a liderança do PS, passando pela forma como se tornou primeiro-ministro, sem vencer nas urnas, e a terminar na suposta aliança de esquerdas que forjou, aparentando ter o voto conciliador com quem, na verdade, não o pode nem ver, é obra. Churchill disse um dia que, cito, “o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo”. Bem sei que estou a desvirtuar um pouco o sentido da consideração do estadista mas, no caso de Costa, a máxima aplica-se que nem uma luva. Passo a passo. Step by step. De truque em truque. Fria e calculistamente. Fazendo cair o que e quem tiver de cair. Até à vitória final. A fava calhou agora à ministra da Saúde, Marta, cujo ministério aparenta estar tremido.