Por todos os Estados Unidos, uma sublevação antissegregacionista levantou-se num brado audível no resto do mundo. Em Nova Iorque, dois desfiles no Harlem juntaram mais de duas mil pessoas cada um. A América em Carne Viva, para citar o meu amigo João Alves da Costa. O dirigente dos Black Muslims, Malcolm X, num discurso duríssimo, atacou as organizações federais que, embora defendendo a integração de gente de cor, eram dirigidas única e exclusivamente por brancos, não representando dessa forma a igualdade de raças. “Lamento que o Presidente Kennedy tenha decidido, nesta altura, fazer uma deslocação à Europa, logo numa altura em que a questão dos direitos civis está a tomar um aspeto cada vez mais sério em toda a nação.” Nem JFK fugia à onda de críticas num tempo em que certas cidades estavam mesmo a ferro e fogo. E água, já agora, pois eram as agulhetas e os cães as armas preferidas pela polícia para dispersar manifestantes. Malcolm X não perdoava: “Como pode o Presidente dos Estados Unidos andar no estrangeiro a falar de liberdade se no seu país há 20 milhões de negros a viver em situação de escravatura?!!!”
Mil novecentos e sessenta e três: não, não foi há 200 anos. em há 100. Nem sequer ainda há 60. Em Greenville, no Missouri, a polícia prendeu dez estudantes negros que se recusaram a sair de um jardim destinado unicamente a brancos. As televisões transmitiam imagens em todo o planeta. Muitos, desconhecendo o problema racial gravíssimo que corrompia a tão propalada sociedade democrática americana, nem queriam acreditar. Em Torrence, na Califórnia, ferveu pancadaria quando as autoridades tentaram dispersar um grupo de mais de 300 pessoas que se manifestavam diante de um lote de terreno onde os negros estavam proibidos de entrar. Gente espancada sem dó nem piedade. Gente discricionariamente enfiada em calabouços.
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