Desemprego. Número dispara e economistas falam em risco de bancarrota

Desemprego. Número dispara e economistas falam em risco de bancarrota


Pandemia trouxe mais 100 mil desempregados em Portugal, em maio. Economistas acreditam que número poderá ser ainda superior.


O número de desempregados disparou em maio. De acordo com os últimos dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o número rondou os 409 mil, mais 103 763 pessoas sem emprego face a igual período do ano passado. Trata-se de um aumento de 34% em relação a maio de 2019 e de 4,2% face a abril – números que não surpreendem os analistas contactados pelo i. Para André Pires, “a escala das restrições deixará, com certeza, cicatrizes difíceis de curar, principalmente nas PME, que constituem grande parte do tecido empresarial português”, diz o analista da XTB.

Também Pedro Amorim defende que já se previa um aumento considerável do desemprego. Ainda assim, admite que a sua previsão está acima do anunciado, e isso deve-se ao facto de muitos desempregados ainda não terem feito o seu registo no IEFP.

Economia em bancarrota E as perspetivas não são animadoras. O analista da Infinox lembra que “muitas empresas já apresentam alguns programas de despedimentos coletivos” e defende que a fraca faturação de alguns setores económicos levará a despedimentos generalizados. A opinião é partilhada por André Pires, que considera que o aumento dos níveis de desemprego poderá não ficar por aqui. “Se o desemprego ainda não aumentou muito no nosso país, isso deve-se ao estado de layoff de muitas empresas. Porém, algumas empresas, não vendo viabilidade económica em continuar a sua atividade com o número de funcionários atuais nem tendo os recursos para as compensações de rescisão de contratos, poderão ver-se constrangidas a abrir falência, o que levará a um aumento do nível de desemprego prolongado no tempo. Outras empresas que, graças ao apoio do Estado, ainda não despediram pessoal, mas continuam a acumular prejuízos devido aos custos fixos ao longo do período de confinamento e à baixa procura, poderão entrar em insolvência”, refere ao i.

Pedro Amorim considera ainda que a tábua de salvação para o emprego não vai ter resposta no Orçamento Suplementar. “As respostas do Governo não têm qualquer capacidade. Estamos em risco de bancarrota da economia nacional e ainda se está à espera da ajuda europeia”. E acrescenta: “ A ameaça de uma segunda vaga é um risco considerável que não deve ser descartado. Se isso acontecer, poderemos ver a situação a degradar-se e nem a ajuda europeia será suficiente. A minha crítica para as medidas suplementares vai para a falta de prevenção e pensamento a curto prazo”.

Contraciclo André Pires dá como exemplo o que se vive nos Estados Unidos. “Em contraste, nos EUA, a facilidade em empregar e dispensar pessoal representa (e, de facto, representou) numa primeira fase, um aumento brusco no número de desempregados, mas também significará (e já vemos evidências disso mesmo) uma rápida recuperação do emprego, sem pôr em causa a sustentabilidade das empresas e estando o Estado na mesma a apoiar os desempregados nesse período de pico de crise”, salienta.

Raio-x O IEFP diz que o aumento superior a 100 mil desempregados face a maio do ano passado foi causado por mais desempregados em todos os grupos considerados, com especial “destaque para as mulheres, os adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário”.

Foi no Algarve que se registou o maior agravamento, com esta região a ter um aumento de 202% de desempregados no final de maio comparativamente com igual período do ano passado. A explicação é simples: o setor do turismo foi um dos mais atingidos pela pandemia. Em sentido inverso, no Alentejo (-1,4%) e nos Açores (-2,4%) até se registaram descidas no número de desempregados.