Multiplicam-se as acusações de racismo contra pessoas de origem africana na China, após se registarem alguns casos de covid-19 entre cidadãos nigerianos no país. Ontem, a McDonald’s já pediu desculpa por um dos seus restaurantes, em Guangzhou, ter posto cartazes a proibir a entrada de pessoas negras. Menos de uma semana antes, centenas de pessoas tinham sido despejadas ou expulsas de hotéis em Guangzhou, levando a queixas formais da parte de várias embaixadas de países africanos.
“Tenho dormido debaixo da ponte há quatro dias, sem comida para comer… Não consigo comprar comida em lado nenhum, nenhuma loja ou restaurante me atende”, lamentou Tony Mathias, 24 anos, um estudante de intercâmbio do Uganda. “Somos como pedintes nas ruas”, contou à AFP.
Recorde-se que a China tem laços económicos e diplomáticos estreitos com muitos países africanos. Guangzhou é um dos centros dessa cooperação, de tal forma que um dos distritos da cidade, Yuexiu, é conhecido como “pequena África”. A discriminação aumentou com o crescimento dos casos importados de coronavírus na China, cinco deles de nigerianos que terão quebrado a quarentena obrigatória e estado em contacto com duas mil pessoas, segundo os média estatais chineses – nas redes sociais começou imediatamente a circular o discurso de ódio.
Mas as acusações de racismo aos chineses não são só contra indivíduos ou donos de negócios, pois o Estado também é visado nas críticas. Em Guangdong, onde fica Guangzhou, no sul do país, profissionais de saúde têm ido de porta em porta a testar pessoas negras, tenham tido sintomas, viajado, estado em contacto com pessoas infetadas ou não, segundo a BBC.
“Na China não há discriminação contra irmãos africanos”, negou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, citado pela Reuters. “O Governo trata todos os estrangeiros na China de forma igual”, assegurou. Mas o facto de países africanos se queixarem, muitos deles tão dependentes do investimento chinês, dá peso às alegações.