Irão. Santuários invadidos e prisioneiros libertados

Irão. Santuários invadidos e prisioneiros libertados


O Covid-19 está a lançar o caos no Irão. A polícia teve de dispersar fiéis, descontentes com o encerramento de santuários onde se beijavam estátuas, e o Governo teve de libertar 85 mil prisioneiros.


Fiéis xiitas iranianos inundaram dois santuários no Irão, em Mashhad e Qoms, contra as indicações das autoridades, que fecharam os locais de culto devido à pandemia de Covid-19, que já fez quase um milhar de mortos no país. Mais de 16 mil pessoas foram infetadas pelo novo coronavírus no Irão, o país com mais casos registados à exceção da China e de Itália: e mesmo com números tão altos, Organização Mundial de Saúde suspeita que Teerão esteja a ocultar casos. “Milhões” poderão ser afetados se não obedecerem às restrições, avisaram hoje os media estatais iranianos.

Normalmente, os santuários do Imã Reza, em Mashhad, e o santuário de Fátima Masumeh, em Qoms – o epicentro da pandemia no Irão -, estão sempre cheios de gente a rezar, 24 horas por dia, sete dias por semana. Muitos dos peregrinos xiitas, vindos de todos os cantos do Médio Oriente, tocam e beijam as estátuas nestes locais – algo nada recomendado pelas autoridades neste momento. Nem os apelos de alguns líderes religiosos, que pediram bom senso, impediram uma multidão de fiéis de protestar contra o seu encerramento, acabando por ser dispersos pela polícia. “O ministro da Saúde está muito errado em fazê-lo!”, gritaram os manifestantes, citados pela Times – a contestação poderá aumentar à medida que se aproxima o começo do Ramadão, a 23 de abril.

A situação é tal que as autoridades iranianas foram forçadas a libertar temporariamente 85 mil presos, incluindo prisioneiros políticos, para evitar surtos dentro de prisões. Contudo, apenas foram libertados prisioneiros com penas inferiores a cinco anos, deixando os restantes, como os condenados devido a protestos contra o Governo, em instalações descritas como infestadas de doenças infeciosas por investigadores da ONU – agora estarão um pouco menos sobrelotadas. Já é a segunda libertação é massa de prisioneiros no Irão, devido ao Covid-19: a 9 março foram libertados 70 mil.

Entretanto, o Irão tem apertado as medidas de combate ao novo coronavírus, proibindo ontem os festivais que antecedem o Nowruz, o Ano Novo persa, que ocorre a 20 de março, além de montarem controlos em massa dos cidadãos que viajam entre províncias. Contudo, para muitos, Teerão estará sempre a correr atrás do prejuízo, após a sua inação inicial. “O Estado fez pouco e demasiado tarde”, criticou a semana passada o enviado especial da ONU para os direitos humanos no Irão, Javaid Rehman.