Verdade versus verdade


Porque, por vezes, a nossa verdade não é a mesma que a dos outros, esta não tem de ser encarada como uma mentira.


A linguagem é fonte de desentendimento. Não sou eu que o digo, quem o diz é um principezinho saído da obra de Antoine de Saint-Exupéry. Seja qual for a ideia que se apresente ao nosso espírito, tentamos encontrar as melhores palavras ou, pelo menos, aquelas que acreditamos serem as melhores para explicar, definir, defender ou simplesmente comunicar com os outros. Tendemos a falar da verdade, melhor, da nossa verdade. Sim, a nossa. Porque, por vezes, a nossa verdade não é a mesma que a dos outros, esta não tem de ser encarada como uma mentira.

E o que é a verdade? Pilatos morreu sem conhecer a resposta. Os cristãos encontram-na em Cristo e cada crente, seja qual for o seu credo, encontrá-la-á na sua fé. Já os não crentes procuram-na na humanidade, na natureza, na vida; também têm a sua.

Na segunda-feira passada assisti ao programa Prós e Contras, na RTP, onde se debatia a eutanásia, e apesar de não ter havido assento no painel para as religiões, escutámos a voz da Igreja Católica pela boca dos leigos. Ouvimos o atual selecionador nacional dizer publicamente “eu sou cristão!” e um ex-deputado do CDS dizer “sou homossexual… sou católico!”. Não foram presos nem condenados. Aliás, o que haveria para condenar? Acontece que a questão não residia no credo que cada um professa e muito menos nas suas orientações sexuais. E porque somos um país tolerante e pacífico (recordo que ainda existem países a proibir o cristianismo e a homossexualidade) permitimos que aqueles dois homens se afirmassem publicamente sem consequências que vão além de umas críticas na opinião pública. Que bom é sermos livres de afirmar as nossas opções, de dizer o que pensamos e de escolher o nosso futuro. Mas porque todos procuramos a verdade, devemos trocar ideias, falar, argumentar e construir pontes. O que anda por aí a ser esgrimido são as palavras, e não os conceitos, são as afirmações pessoais que estão numa guerra que não é entre crentes e não crentes, não é política nem médica. É uma guerra de verdades. Mas porque somos plurais devemos aprender a integrar para não dividir, até porque, como diz um grande amigo meu, “a verdade, por vezes, é composta por um conjunto de mentiras”.

E se a verdade é essencial para a vida, então aprendamos a olhar com o coração, já que o essencial é invisível aos olhos!

 

Professor e investigador


Verdade versus verdade


Porque, por vezes, a nossa verdade não é a mesma que a dos outros, esta não tem de ser encarada como uma mentira.


A linguagem é fonte de desentendimento. Não sou eu que o digo, quem o diz é um principezinho saído da obra de Antoine de Saint-Exupéry. Seja qual for a ideia que se apresente ao nosso espírito, tentamos encontrar as melhores palavras ou, pelo menos, aquelas que acreditamos serem as melhores para explicar, definir, defender ou simplesmente comunicar com os outros. Tendemos a falar da verdade, melhor, da nossa verdade. Sim, a nossa. Porque, por vezes, a nossa verdade não é a mesma que a dos outros, esta não tem de ser encarada como uma mentira.

E o que é a verdade? Pilatos morreu sem conhecer a resposta. Os cristãos encontram-na em Cristo e cada crente, seja qual for o seu credo, encontrá-la-á na sua fé. Já os não crentes procuram-na na humanidade, na natureza, na vida; também têm a sua.

Na segunda-feira passada assisti ao programa Prós e Contras, na RTP, onde se debatia a eutanásia, e apesar de não ter havido assento no painel para as religiões, escutámos a voz da Igreja Católica pela boca dos leigos. Ouvimos o atual selecionador nacional dizer publicamente “eu sou cristão!” e um ex-deputado do CDS dizer “sou homossexual… sou católico!”. Não foram presos nem condenados. Aliás, o que haveria para condenar? Acontece que a questão não residia no credo que cada um professa e muito menos nas suas orientações sexuais. E porque somos um país tolerante e pacífico (recordo que ainda existem países a proibir o cristianismo e a homossexualidade) permitimos que aqueles dois homens se afirmassem publicamente sem consequências que vão além de umas críticas na opinião pública. Que bom é sermos livres de afirmar as nossas opções, de dizer o que pensamos e de escolher o nosso futuro. Mas porque todos procuramos a verdade, devemos trocar ideias, falar, argumentar e construir pontes. O que anda por aí a ser esgrimido são as palavras, e não os conceitos, são as afirmações pessoais que estão numa guerra que não é entre crentes e não crentes, não é política nem médica. É uma guerra de verdades. Mas porque somos plurais devemos aprender a integrar para não dividir, até porque, como diz um grande amigo meu, “a verdade, por vezes, é composta por um conjunto de mentiras”.

E se a verdade é essencial para a vida, então aprendamos a olhar com o coração, já que o essencial é invisível aos olhos!

 

Professor e investigador