Papa Francisco: o grande líder do nosso tempo


Francisco sobressai acima de todos os homens por ser o mais simples de todos eles. A sua mensagem não tem barreiras, não tem segundas leituras. É cristalina e pura. Aponta diretamente ao melhor da humanidade: a compaixão.


Populismo. Nacionalismo. Individualismo. Idolatria, capitalismo desenfreado, gratificação imediata. Estes são males normalizados do nosso tempo. Um tempo em que as pessoas e as nações se dedicam mais a cavar trincheiras que as separem do que a construir pontes que as aproximem. Com o pessimismo antropológico a ocupar o lugar da virtude, é uma bênção ser tocado pela mensagem de bondade radical do Papa Francisco.

Tenho hoje plena noção disso. A verdade é que nem sempre fui um homem de fé inabalável. Criado numa família de fortes tradições e práticas católicas, afastei-me da Igreja por altura dos meus 14 anos. O ambiente político revolucionário não permitia que a nossa vontade de acreditar descolasse da cidade terrestre. Mas esse meu afastamento progressivo foi contrariado bruscamente em 1982. Tinha 21 anos quando João Paulo ii visitou Portugal pela primeira vez. Era um jovem. E se havia alguém que sabia exatamente o que dizer aos jovens era João Paulo ii. Capturei cada palavra sua numa missa campal no Parque Eduardo vii e tive o privilégio de conhecer o líder da Igreja de Roma nesse momento. A impressão de fé no meu coração foi duradoura e reforçada pela inesquecível Jornada Mundial da Juventude em Roma, o primeiro apelo de um Papa à mobilização dos jovens, corria o ano de 1985.

Quase 30 anos depois, conheceria outro Papa, Bento xvi, outra vez no contexto de uma visita ao nosso país. Ainda que muitos, incluindo católicos, olhem com desconfiança para Joseph Ratzinger, a história está lentamente a provar a extraordinária grandeza intelectual, doutrinal e pastoral do Papa emérito. Muitos não se recordarão, mas as preocupações ambientais – hoje mais moda que substrato – foram colocadas na agenda do Vaticano por Bento xvi, autor de uma encíclica de enormíssimo alcance, a Caritas in Veritate, onde se fala pela primeira vez da ecologia integral e da ecologia humana. “(…) A igreja não está apenas comprometida em promover a defesa da terra, da água e do ar, oferecidos pelo Criador a todos, mas sobretudo compromete-se em proteger o homem contra a destruição de si mesmo”.

Quando estou a caminho dos 60, a vida dá-me o privilégio incomparável de conhecer o meu terceiro Papa.

Tive oportunidade de me deslocar ao Vaticano, na última semana, onde fui recebido pelo Papa Francisco – a propósito da nossa parceria nas Scholas Occurrentes de que já dei nota neste espaço.

Comecei o meu périplo pelo Vaticano com uma missa celebrada pelo próprio Papa Francisco na Basílica de São Pedro, em honra de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira da América e do México. Ao segundo dia, o momento mais esperado: um momento com o Santo Padre no Vaticano.

Em “portuñol”, deixei ao Santo Padre três mensagens. A primeira, de parabéns: por, precisamente naquela sexta-feira dia 13, Francisco completar 50 anos de ordenação de sacerdócio.

A segunda, de agradecimento: por ter escolhido o nosso país para organizar a Jornada Mundial da Juventude em 2022.

A terceira, de pedido: de um pedido de bênção a Cascais, convidando-o a visitar a nossa comunidade e as suas Scholas Occurrentes em 2022, por altura da jornada. Deixei estas três mensagens num minuto. Eu não queria falar. Queria sobretudo ouvir. E tudo o que ouvi é consistente com a ideia de que Francisco sobressai acima de todos os homens por ser o mais simples de todos eles. A sua mensagem não tem barreiras, não tem segundas leituras. É cristalina e pura. Aponta diretamente ao melhor da humanidade: a compaixão. Compaixão pelos pobres, pelos excluídos, pelas vítimas, por todos aqueles que o Papa considera estarem nas margens. Gente que cada um de nós, católicos, tem como missão trazer para o centro da vida social e pastoral. O cuidado com o outro é uma linha permanente no discurso do Santo Padre. Francisco coloca toda a sua energia na capacidade de abertura. Uma predisposição que, curiosamente, é muito nossa, muito de Cascais. Tal como Francisco nos pede para abrirmos os nossos braços aos migrantes e aos muçulmanos, e os nossos corações aos temas difíceis, também em Cascais (católicos e não católicos) somos herdeiros dessa virtude secular da tolerância e do pluralismo.

A mensagem do Papa é consistente com o seu comportamento, gestos e ações. Francisco vive na simplicidade. Projeta humildade e misericórdia e espera que os católicos respondam com reciprocidade.

Ser católico não significa ser melhor ou pior, apenas nos dá mais responsabilidade, e é uma bênção que temos de saber honrar de forma consistente e coerente.

Francisco é um dos líderes do nosso tempo. Talvez o maior e mais influente de todos eles. Para crentes e não crentes.

Escrevo este texto no dia em que o Papa Francisco comemora 83 anos. Parabéns ao Papa e que o seu pontificado continue a ser fonte de bondade e inspiração para o mundo, a começar pelos jovens.

 

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Escreve à quarta-feira