Globos de Ouro. E a edição em que a Netflix se prova um estúdio

Globos de Ouro. E a edição em que a Netflix se prova um estúdio


Produções da Netflix lideram as nomeações e já não apenas na categoria televisiva. Marriage Story, de Noah Baumbach, e The Irishman, de Martin Scorsese, lideram as nomeações para os prémios entregues a 5 de janeiro.


Depois de Roma, de Alfonso Cuarón, ficou a dúvida sobre se a forma de fazer o cinema chegar ao seu público, voltaria a ser a mesma. Vencida a guerra pela distribuição de The Irishman, que acabou por não ser a que Martin Scorsese desejaria (em Portugal, o filme ficou de fora das salas de cinema), a Netflix entrará na cerimónia da 77.ª edição dos Globos de Ouro já rainha. Já não apenas nas nomeações para os prémios nas categorias televisivas. Agora também no cinema, sem que nenhum estúdio consiga igualá-la.

Marriage Story, de Noah Baumbach, que depois do Festival de Cinema de Veneza começou a chegar no mês passado a algumas salas e ficou disponível na Netflix na passada sexta-feira, é o recordista de nomeações para os os prémios anualmente entregues pela Hollywood Foreign Press Association, no habitual aquecimento (e medir de pulso) para os Óscares. No total, seis, incluindo Melhor Filme – Drama, Melhor Atriz (Scarlett Johansson) e Melhor Ator (Adam Driver), Melhor Atriz Secundária (Laura Dern) e Melhor Argumento (Noah Baumbach).

Com cinco nomeações, segue-se o também produzido pela Netflix The Irishman, de Martin Scorsese, igualado apenas por Era Uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino – aos quais se segue Joker, de Todd Phillips, a somar nomeações em quatro categorias, incluindo as de Melhor Filme – Drama, Melhor Ator (Joaquin Phoenix), Melhor Realizador.

No cinema de animação, aos óbvios O Rei Leão e Toy Story 4 e Frozen 2, todos eles da Disney, juntam-se entre os nomeados para Melhor Filme Como Treinares O Teu Dragão: O Mundo Secreto e Mr. Link. Na ficção televisiva, são líderes de nomeações, com quatro cada, as séries Chernobyl, da HBO, e The Crown e Unbelievable, da Netflix. 

Para lá do tema Netflix, à vista na lista das nomeações para os próximos Globos de Ouro saltou o facto de, uma vez mais, entre os realizadores nomeados não se encontrar nenhuma mulher, numa altura em que as mulheres vêm ganhando terreno na realização. A verdade é que, em toda a história dos prémios que tradicionalmente antecedem os Óscares, apenas cinco mulheres foram nomeadas para o Globo de Ouro de Melhor Realizador.

A última foi Ava DuVernay, em 2015, com o seu Selma, sucedendo a Barbra Streisand (Yentl e The Prince of Tides), Jane Campion (The Piano), Sofia Coppola (Lost in Translation) e Kathryn Bigelow (The Hurt Locker e Zero Dark Thirty). “O que aconteceu foi que não votamos por género, votamos pelos filmes e pela [sua] qualidade”, justificou o presidente da Hollywood Foreign Press Association, Lorenzo Soria. 

Entre os nomeados para o Globo de Ouro de Melhor Realizador contam-se Bong Joon Ho (Parasitas), Sam Mendes (1917), Todd Phillips (Joker), Martin Scorsese (The Irishman) and Quentin Tarantino (Era Uma Vez em Hollywood).

À Variety, Barry Adelman, um dos produtores executivos da cerimónia cuja 77.ª edição se realiza a 5 de janeiro próximo, com Ricky Gervais como anfitrião, lembrou que “todos os anos alguém fica de fora”. E acrescentou: “Há tanto talento por aí, talvez tenhamos de expandir as categorias para que mais pessoas possam ser incluídas. Acho também que se olharmos para algumas das outras coisas… muitas das séries televisivas são criadas por mulheres, portanto penso que no geral há uma boa representação. Talvez numa ou outra dessas categorias gostaríamos que fosse um pouco diferente. Quem sabe o que poderá acontecer no próximo ano”.