A relação “insustentável” entre os acionistas da TAP havia sido anunciada por Luís Marques Mendes, durante o seu comentário semanal de fim-de-semana, na SIC. A notícia avançada, ontem, pelo Jornal de Negócios confirma o cenário de rutura, dando conta que David Neeleman já encetou contactos com Lufthansa, British Airways, Air France e United tendo como objetivo a venda da sua participação na Atlantic Gateway, dona de 45% da companhia aérea nacional.
A tensão entre o Estado, acionista maioritário, e o parceiro Humberto Pedrosa com David Neeleman tinha vindo a acentuar-se, atingindo um ponto sem retorno na sequência dos resultados referentes ao primeiro semestre deste ano, período em que a TAP registou prejuízos de 118 milhões, o que representa o pior resultado homólogo desde 2015, e o polémico pagamento de prémios, neste período, a 180 trabalhadores, no valor de 1,171 milhões.
Segundo o Jornal de Negócios, existe a possibilidade desta alteração na estrutura acionista da TAP ficar concluída até ao final do primeiro trimestre de 2020, ainda antes da apresentação dos resultados financeiros de 2019. A saída do acionista norte-americano é dada como garantida, podendo acontecer mesmo que não seja encontrado um investidor direto para a compra da sua parte, existindo a possibilidade do reforço da participação de Humberto Pedrosa, do grupo Barraqueiro, ou do acionista Estado. Em cima da mesa, está ainda a hipótese de entrada de novos acionistas portugueses, com atividade no setor do turismo.
David Neeleman participou no processo de venda da TAP, concluído no atual modelo em 2016, tornando-se, no último mês de fevereiro, acionista maioritário da Atlantic Gateway, com 60%, após a aquisição dos 20% que se encontravam nas mãos dos chineses da HNA. O empresário português Humberto Pedrosa que é, desde o primeiro momento, o seu parceiro europeu neste negócio, uma peça exigível de acordo com as regras da União Europeia, detém os restantes 40% do consórcio. Atualmente, a Atlantic Gateway possui 675 mil ações de categoria A da TAP, que representam 45% do capital social e dos direitos de voto e 90% dos direitos económicos da TAP SGPS. O capital da empresa está ainda dividido entre os 50% do Estado e os 5% na posse dos trabalhadores.
Atualmente, a comissão executiva da TAP é constituída por três elementos da confiança de David Neeleman, entre os quais o CEO, Antonoaldo Neves. O Estado tem a sua participação reduzida ao voto de qualidade do administrador Miguel Frasquilho, que, no entanto, não garante qualquer interferência prática na gestão executiva da empresa. O Jornal de Negócios acrescenta que o ministro Pedro Nuno Santos quer aproveitar a saída de David Neeleman para alterar o equilíbrio de forças nos pratos da balança.