É uma nova preocupação dos pais e o conselho de pediatras fez aumentar a procura pela vacina quadrivalente que protege contra a meningite do tipo W, que tem estado a aumentar na Europa e este ano já afetou oito pessoas em Portugal. Médicos ouvidos pelo i admitem que a vacina Nimenrix, que o Infarmed garantiu que tornará a estar disponível na próxima semana depois de uma rutura de stock, tem indicações em alguns casos, mas não deve diminuir a preocupação em torno daquele que é o serogrupo de meningococo mais comum, o B. E lamentam que ainda não haja decisão sobre a inclusão da vacina no Programa Nacional de Vacinação (PNV) ou uma comparticipação.
A vacina que inclui o meningoco W é tomada numa dose e custa 48 euros. Já cada dose da vacina da meningite B custa 95 euros às famílias e o esquema vacinal nos primeiros meses de vida inclui três doses, uma despesa de 285 euros. A partir dos seis meses são recomendadas duas doses, um custo de 190 euros.
decisão nas mãos das famílias O Jornal de Notícias noticiou esta quarta-feira a corrida às farmácias pela vacina quadrivalente que inclui o grupo W, o que levou o Infarmed a avançar com uma encomenda a um fabricante holandês. Segundo o i apurou, nas últimas semanas todas as doses que aparecem nas farmácias acabam por ser de imediato compradas.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, salientou que a evolução do número de casos está a ser acompanhada e que não existe rutura nas vacinas, apenas uma interrupção no fornecimento. A DGS salientou que a vacina é recomendada para quem viaja para a Arábia Saudita e algumas zonas de África, onde este serogrupo da bactéria Neisseria meningitidis (mais conhecida como meningococo) é endémico. Ainda assim, Graça Freitas disse ao i que a decisão de vacinar crianças deve ser tomada em consulta pelos pais e médicos. A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) recomenda a toma da vacina conjugada contra os grupos ACWY a crianças e adolescentes com problemas de saúde específicos, a viajantes com estadias prolongadas ou residentes em países onde existem epidemias e por fim a título individual, considerando que neste caso que a administração de uma dose da vacina conjugada aos 12 meses de idade dispensa a administração da vacina contra o grupo C que está incluída no PNV.
São estas as recomendações que alguns pediatras têm seguido, com as famílias a terem em mãos a decisão de vacinar ou não os filhos contra os meningococos que não estão incluídos no PNV, podendo suportar a despesa de centenas de euros.
A preocupação do serogrupo W, esporádico até ao ano 2000, tem vindo a crescer na Europa. Nas recomendações, a SPP assinala que o ponto de viragem foi um clone na América Latina, que se disseminou por diferentes continentes. Na Europa, tem sido particularmente relevante em Inglaterra. As manifestações são também atípicas, com vómitos e diarreia, em particular em adolescentes, que no Reino Unido passaram a ser vacinados. O último relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, referente a 2017, revelou que o serogrupo B representa 51% dos casos de doença invasiva meningocócica, mas entre 2013 e 2017 triplicaram os casos relacionados como o grupo W, que apresentou também maior taxa de letalidade.
São cinco os grupos do meningococo e este já é o segundo mais prevalente a nível europeu. Em Portugal, adiantou ao i Graça Freitas, em 2018 foram reportados 57 casos de doença meningocócica, dos quais 39 do grupo B, cinco do grupo C, cinco do grupo Y e cinco do grupo W.
Para o pediatra Mário Cordeiro, a decisão da vacinação com a vacina quadrivalente deve ser ponderada pelas famílias: embora os casos sejam menos frequentes, o risco não é zero, sublinha, embora seja maior em quem viaje para países com mais casos.
Na opinião do médico, uma solução seria, no próximo concurso público para aquisição da vacina contra a meningite C, que está incluída no PNV, ponderar a substituição pela vacina que abrange os quatro grupos: ACWY. Mário Cordeiro diz seguir as recomendações da Sociedade Portuguesa de Pediatria neste caso mas deixa um apelo: “Convém as pessoas estarem informadas e não irem a correr para esta vacina e esquecerem as outras”, recomendando em especial a vacina da meningite B e também da varicela, que estão entre as vacinas extra PNV recomendadas pela SPP. O pediatra critica o facto do Orçamento do Estado para 2019 ter garantido a inclusão da vacina da meningite B no Programa Nacional de Vacinação e, quase terminado o ano, não haver qualquer decisão. “Foi uma lei aprovada na AR, promulgada pelo Presidente da República, com verbas destinadas”.
Mário Cordeiro defende ainda que se o Governo optar pela comparticipação em vez da inclusão no PNV acabará por gastar mais, chegando a menos pessoas. “Quando se faz um concurso público internacional, o preço para o Estado fica a um terço daquilo que as famílias estão a pagar. Se comparticipar, irá pagar perto de 40%. Até do ponto de vista financeiro faz mais sentido incluir no PNV”.
O pediatra Gonçalo Cordeiro Ferreira defende também que, nas vacinas extra programa, a da meningite B é a que teria mais impacto na realidade nacional e lamenta o impasse nos últimos meses. “As pessoas ficam à espera que entre no PNV e neste vai, não vai, as famílias podem pensar em comprar outras vacinas primeiro, que até são mais baratas”. O médico sublinha que a prevenção da meningite B tem sido feita à custa do sacrífico das famílias e que é preciso rigor na análise do problema a nível nacional, concordando com a recomendação da vacina quadrivalente sobretudo a viajantes. “Temos de ser muito cuidadosos a aconselhar as pessoas. O dinheiro não é elástico, nem o dinheiro do Estado nem o dinheiro que as pessoas têm para as suas despesas.”
Tutela analisa parecer da DGS Questionada sobre a inclusão da vacina da meningite B no Programa Nacional de Vacinação, Graça Freitas indicou que o parecer da DGS sobre esta vacina já foi entregue ao Governo. “A tutela está em mudança e o ano ainda não acabou. Cumprimos todos os prazos e temos de aguardar decisões superiores”.
Em julho, no Parlamento, a DGS sugeriu a comparticipação da vacina contra a meningite B e também rotavírus e vírus do papiloma humano para rapazes – as três vacinas previstas no OE2019 – enquanto a comissão técnica não as aconselhasse no PNV. Graça Freitas disse ao i que, na altura, o parecer relativo à vacina da meningite B ainda não estava concluído, sublinhando que então as afirmações não descartaram a inclusão da vacina no PNV. A responsável não adiantou, porém, qual o sentido do parecer entregue à tutela. Já o Ministério da Saúde indicou ao i que o parecer da DGS “está em análise política e de operacionalização”.