Na Europa, nos últimos 20 anos, só fomos capazes de criar mais riqueza do que a Grécia.
Crescemos em média 1%. Metade da Espanha. Um quinto da Irlanda. Poucochinho.
Há uma geração inteira de portugueses para quem a vida se tem resumido a um período entre crises.
Vivemos num desses períodos de aparente progresso entre uma crise que já foi e outra que estará para chegar. Não sabemos se mais depressa ou mais devagar. Mas que ela chegará é tão certo quanto o destino.
Qualquer discussão sobre o presente e o futuro da economia portuguesa deve ter como pano de fundo os sinais que se alinham à nossa frente.
As nuvens negras estão a formar-se no nosso horizonte. A nova diretora do FMI fala de um “abrandamento sincronizado” da economia mundial.
O desmantelamento da ordem liberal, que esteve na origem do maior período de prosperidade que a humanidade já conheceu, está a sustentar forças recessivas como a quebra do comércio, a quebra do investimento e a quebra da produção industrial. Neste novo tempo de protecionismo, até 2020, o mundo terá perdido o equivalente à economia da Suíça, ou seja, 700 mil milhões de dólares.
Pela primeira vez na História vivemos um tempo de pleno emprego, taxas de juro negativas ou perto de zero e inflação abaixo de 2%. Parecem boas notícias. O pior é que, perante a adversidade, os nossos bancos centrais e os Estados perderam margem de manobra para acomodar choques. Como ainda muito recentemente sinalizava Lawrence Summers, “o problema não está numa nova crise, mas na dificuldade em lhe dar resposta”.
Isto traz-me até Portugal. Como pequena economia aberta, estamos altamente expostos a choques externos. Sejam eles positivos ou negativos. Nos últimos anos, a economia portuguesa viveu um tempo de relativo bem-estar. O PIB aumentou. O défice caiu. O desemprego recuou.
Contada assim, parece uma história de sucesso. Mas basta pensar dois minutos sobre o assunto para saber que a realidade não é bem assim.
O PIB avançou devagar, puxado pela herança das reformas estruturais feitas na legislatura anterior, no Governo liderado por Pedro Passos Coelho, e pelo bom momento da economia europeia. A verdade é que os portugueses empobreceram face à esmagadora maioria dos povos da Europa. Estamos já na cauda de países da antiga esfera soviética, com elevados níveis de subdesenvolvimento e que entraram na UE 18 anos depois de nós.
O desemprego caiu, o que é excelente. Mas os custos unitários do trabalho aumentaram mais rapidamente que na zona euro – embora o trabalho esteja mal remunerado –, colocando enorme pressão na competitividade das nossas empresas. O défice reduziu-se por haver um controlo firme da despesa. Mas também porque se registou uma redução drástica do investimento e um aumento enorme da fiscalidade.
Porém, as amarras ao nosso crescimento continuam a não ser quebradas. Pelo contrário, o grande problema da economia portuguesa agrava-se a cada ano que passa. A dívida externa que conta ultrapassa os 300% do PIB.
O país não pode crescer sustentadamente com este peso de dívida às costas.
Ora, ninguém cresce a 4% ou 5%, as verdadeiras taxas de convergência com os países ricos, com este nível de endividamento e com esta enorme quantidade de riqueza afeta ao serviço da dívida.
É preciso dizer que o maior responsável por este gigantesco fardo não são as famílias (embora devessem diminuir a sua exposição) nem as empresas. É sobretudo o Estado o responsável pelo aumento da dívida externa em 24% do PIB nos últimos anos.
Se Portugal conheceu um moderado período de expansão nos últimos anos deveu-o muito a fenómenos que não só são cíclicos como estão fora do controlo político do Governo. Isto marca uma mudança muito substancial face ao período de crise, de 2011 a 2015, em que tivemos uma alteração, ainda que temporária, da nossa estrutura económica.
Um modelo menos assente no consumo e mais dependente das exportações. Com a “saída limpa” do programa de ajustamento e a mudança de políticas voltámos coletivamente a acreditar que é pelo modelo de consumo que crescemos.
Fomos muito bons a navegar à bolina nos últimos anos – mas temo que isso não qualifique para grande modelo económico.
Este não é um caminho sustentável para a nossa economia.
Estado e empresas deviam pôr-se de acordo relativamente a três medidas essenciais para estimular a economia de forma estrutural.
Primeiro: temos de baixar a nossa fiscalidade para que as nossas empresas tenham uma maior competitividade relativa na zona euro.
Segundo: temos de ser competitivos nos bens transacionáveis e nos bens que, não sendo transacionáveis, se podem comportar como tal – nomeadamente na saúde e educação.
Terceiro: precisamos de alocar dinheiro ao investimento. Portugal nunca vai convergir com as nações mais ricas enquanto o contributo do investimento para o PIB for apenas de 17%.
Portugal tem vivido na ilusão de que tudo vai bem. É quando levantamos o tapete que descobrimos os problemas escondidos. Ainda não é tarde para fazer o que é preciso e poupar os portugueses ao destino trágico das segundas legislaturas socialistas. Mas para isso é preciso que o Governo troque a sua agenda de gestão de conjuntura por uma de crescimento e reforma.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira