Uma das pinturas de Ticiano selecionadas pela National Gallery de Londres para integrar uma exposição itinerante, com data de início marcada para o próximo mês de março, poderá afinal não ser do pintor renascentista. A alegação foi formulada por Charles Hope, historiador da arte e especialista na obra de Ticiano (1490-1576). Ao Observer, o professor diz não acreditar que o quadro A Danaë, datado do início da década de 1550 [1551-3] e que representa uma cena mitológica, seja mesmo da autoria do italiano. Charles Hope, antigo presidente do Warburg Institute e investigador associado da Universidade de Londres, afirmou no final da semana passada que o quadro ostenta uma pincelada de nível “inferior” e que deverá ter sido pintado por uma “mão menor”.
A tela está atualmente pendurada na Apsley House, casa do primeiro duque de Wellington, lembra o Guardian. A composição mostra a princesa Danaë a ser seduzida pelo deus romano Júpiter, que lhe apareceu “disfarçado de chuva dourada”, uma cena retirada das Metamorfoses de Ovídio. Ao lado, uma velha ama observa a cena. É também essa figura que está no centro das desconfianças de Hope. “A [falha] mais óbvia é a caricatura da Disney de uma mulher idosa. Não se parece nada com as mulheres idosas pintadas por Ticiano”, apontou.
Hipóteses Não é, contudo, a primeira vez que o professor defende esta tese – fê-lo já há quatro anos, na Burlington Magazine. Mas é a primeira vez que fala publicamente desta convicção. Segundo o especialista, é mais provável que o quadro tenha sido pintado por um discípulo de Ticiano oriundo do norte da Europa. Para o investigador, uma das ‘verdadeiras’ Danaë é a que está no Prado, uma versão “muito mais bonita” e que o artista terá enviado para Filipe II de Espanha, seu grande mecenas. Há ainda outras versões da cena visto que, no total, Ticiano pintou o tema seis vezes.
O professor Paul Joannides, outra autoridade na obra de Ticiano, discorda da opinião de Hope. Para Joannides, não há dúvidas de que a Danaë da Apsley House, uma obra praticamente ignorada pelos historiadores até ter sido restaurada em 2013, é “totalmente compatível” com o legado de Ticiano e que esta é a obra que terá sido especialmente pintada para o monarca espanhol.
Está a ser um ano atípico para a coleção Wellington. Antes desta hipótese de ‘desqualificação’ ter sido levantada, outra das obras do acervo fez o caminho inverso: em agosto, foi provado que o quadro Orfeu encantando os animais, cuja autoria tinha sido atribuída a um discípulo menor de Ticiano, Alessandro Varotari, tinha saído, afinal, da oficina do mestre.