Festa do Cinema Francês. O ano do adeus a Agnès Varda

Festa do Cinema Francês. O ano do adeus a Agnès Varda


Arranca a 3 de outubro, no Cinema São Jorge, em Lisboa, a 20.ª edição da Festa do Cinema Francês. A celebrar a obra do ator Jean-Louis Trintignant e, no ano do seu desaparecimento, a cineasta Agnès Varda.


“Os meus filmes nunca deram dinheiro, nem nunca fizeram os produtores ganhar dinheiro. Mas sempre encontraram resposta por todo o mundo. Tenho muito orgulho em encontrar, no norte do Brasil, na Coreia, pessoas que conhecem os meus filmes. Em qualquer parte há sempre um grupo de pessoas – não muitas, mas um grupo – que conhecem os meus filmes e que me fazem acreditar que vale a pena”. Agnès Varda morreu pouco mais de um mês depois desta conferência de imprensa a propósito da estreia, no Festival de Cinema de Berlim, daquele que seria o seu derradeiro filme. Varda por Agnès.

Um filme que percorre o conjunto da sua obra, em que olha para trás como se soubesse que seria o último – ou como se depois de o ter estreado em fevereiro, aos 90 anos, pudesse por fim partir. No ano em que chega à sua 20.ª edição, a Festa do Cinema Francês, que arranca quinta-feira, no Cinema São Jorge, em Lisboa, não poderia passar ao largo do desaparecimento da mulher que, num mundo de homens, produziu a partir da década de 1950 uma das obras mais influentes e determinantes para o que na História do Cinema ficaria como o movimento da nova vaga francesa.

Varda por Agnès, esse seu último filme, chega às salas de cinema a 10 de outubro. Antes disso, já na sexta-feira, o segundo dia de programação da Festa do Cinema Francês, é exibido em antestreia na Cinemateca Portuguesa, numa sessão que contará com a presença de Rosalie Varda, sua filha e produtora. A homenagem à cineasta que, há dez anos, marcou presença na Festa do Cinema Francês, completa-se com a projeção de outras quatro obras suas: Cléo de 5 à 7, L’Une Chante, L’Autre Pas, Las Plages d’Agnès e Sans Toit Ni Loi.

A Jean-Louis Trintignant, “um dos actores mais transversais e prolíficos do cinema sob o efeito da Nouvelle Vague, tendo atravessado cinematografias diversas de nomes importantes do cinema de autor europeu”, é dedicado um ciclo retrospetivo. Desde A Minha Noite em Casa de Maud (Eric Rohmer, 1969) a Amour (Michael Haneke, 2012) ou ainda Les plus belles années d’une vie”, de Claude Lelouch, que “entra nesta pequena retrospetiva por vontade expressa do ator, atestando a absoluta vitalidade e generosidade do seu exemplo”. Na sessão em que será pela primeira vez exibido em Portugal este seu mais recente filme, na Cinemateca Portuguesa (12 de outubro, às 21h30), estará presente Trintignant,

Mas não só de passado se faz o cinema francês. Só em antestreia nacional, são nesta edição, que depois de Lisboa, segue para Almada, Setúbal, Coimbra, Porto, Portimão e Beja, são exibidos mais de 20 filmes que procuram refletir, “sob diversas linguagens e perspectivas”, o “melhor e mais recente do cinema francês”. A começar por Mon Inconnue, comédia dramática de Hugo Gélin, que marca, na quinta-feira (21h30, Cinema São Jorge), a sessão de abertura.

A assinalar a chegada à 20.º edição, a Festa do Cinema Francês programa ainda uma seleção dos filmes que considera “mais significativos” entre os que foram apresentados ao longo dos anos e regressa assim a títulos como Boa Viagem (2003), de Jean-Paul Rappeneau, A Turma (2008), de Laurent Cantet, Grand Central (2013), de Rebecca Zlotowski, Sade (2000), de Benoît Jacquot, ou Tous Au Larzac (2011), de Christian Rouaud. Numa parceria com a ACID (Associação de Cinema Independente e a sua Difusão), que procura dar visibilidade a filmes independentes, são ainda exibidos, no chamado ciclo ACID, Des Hommes, de Alice Odiot e Jean-Robert Viallet, Indianara, de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, L’Angle Mort, de de Patrick Mario Bernard e Pierre Trividic, e A Vida nos Bosques, de Alain Raoust, todos eles estreados este ano em Cannes.