“Considero que ainda há mais razões para lutar contra esta iniciativa”, afirmou Domingos Abrantes ao i, em reação à apresentação do projeto para o Centro Interpretativo do Estado Novo, mais conhecido como ‘Museu Salazar’ que, no último mês, levou ao lançamento de duas petições – uma contra e outra a favor – e ao envio de uma carta assinada por mais de 200 ex-presos políticos ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República a apelar para a concretização do projeto fosse impedida.
O conselheiro de Estado e ex-dirigente do PCP disse ao i que, na sua opinião, a apresentação “deixou claro que o projeto não tem o objetivo de denunciar o fascismo, um termo que nem sequer foi utilizado”.
Domingos Abrantes vai ainda mais longe reforçando ao i que o “projeto não é nada tranquilizador” e que “vai exatamente de encontro às apreensões iniciais”. “Continuamos a exigir respostas. O problema não está resolvido”, sublinhou.
Confrontado com o facto de os consultores do projeto terem garantido que não haveria nenhuma homenagem ao ditador e que o projeto estava inserido numa rota com mais outros quatro espaços culturais no distrito de Viseu, Domingos Abrantes apontou que o intuito do projeto se manteve e que “apenas mudaram o nome”.
“A rota é um projeto diferente. Todas as terras têm pessoas célebres. A memória de Salazar tornada num objeto de turismo é uma coisa absurda e que pode ter graves consequências, como já se constatou noutros países”, acrescentou.
Projeto O projeto do Centro Interpretativo do Estado Novo foi apresentado na passada quarta-feira, apesar da falta de garantias que tinham sido transmitidas ao i pelas entidades envolvidas no projeto de Santa Comba Dão, no início da semana.
Numa conferência de imprensa realizada em Coimbra, os consultores do projeto – investigadores do Centro de Estudos Interdisciplinares do século XX da Universidade de Coimbra – tentaram apaziguar a polémica instalada em torno do que vai ser aquele espaço cultural, avançou o Público, referindo que os historiadores consideram que o centro interpretativo não se irá tornar num local de peregrinação.
De acordo com a publicação, a equipa também garantiu que o centro interpretativo não se vai tratar de uma casa-museu de Salazar mas sim de um espaço que, “com grande grau científico”, vai integrar a “Rede de Centros de Interpretação de História e Memória Política da Primeira República e do Estado Novo”, uma iniciativa dos municípios de Santa Comba Dão, Penacova, Carregal do Sal, Tondela e Seia.
Esta rede é dinamizada pela Associação de Desenvolvimento Local (Adices) e vai implicar a reabilitação de cinco espaços ligados a personalidades históricas das regiões referidas, tais como, António José de Almeida, Aristides de Sousa Mendes e António de Oliveira Salazar, sendo que, em Tondela, o projeto não se irá debruçar sobre uma figura, mas sobre a estância senatorial do Caramulo.
Segundo o coordenador da Adices, João Carlos Figueiredo, esta ideia, da criação de uma rede, está a ser trabalhada há mais de dois anos e deverá estar concluída daqui a mais dois.
Sobre o conteúdo expositivo foi esclarecido que o Estado Novo será apresentado em comparação com outras ditaduras.
O i contactou os municípios envolvidos e tentou falar com os respetivos presidentes das autarquias sobre o projeto mas não obteve quaisquer declarações.