A vergonha das obras da Casa Fernando Pessoa


 Esta Casa do nosso tão adorado Pessoa (tenho uma grande admiração pela sua obra) nunca teve a delicadeza de se virar para a comunidade, de chamar a si os vizinhos e os moradores. Ao invés, sempre se mostrou sobranceira, arrogante e autista.


Tento-me concentrar enquanto escrevo este artigo, mas não está fácil. O barulho ensurdecedor que vem do lado de fora agudiza nos ouvidos e corrói qualquer tentativa de pensamento ou criação de ideias. As obras da Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, mesmo ao lado da minha habitação, iniciaram-se com estrondo e aparato no princípio de março e parecem ainda estar para durar. Não que eu tenha alguma coisa contra qualquer tipo de obras de melhoramento ou de requalificação de edifícios, principalmente neste caso, até pela sua simbologia histórica. Nada disso: acho até que devemos aproveitar o que temos, colocando os bens ao serviço das pessoas e do público em geral. Os meus problemas aqui são outros.

A começar pelos dias das obras. Parece que, sendo obras municipais, tudo vale e tudo é desculpável. Iniciam-se às oito em ponto e estendem-se muitas vezes por feriados e sábados – até no último domingo lá esteve gente a trabalhar. Não se preocupam minimamente com quem os rodeia, mas quanto a isso nada de novo. Esta Casa do nosso tão adorado Pessoa (tenho uma grande admiração pela sua obra) nunca teve a delicadeza de se virar para a comunidade, de chamar a si os vizinhos e os moradores. Ao invés, sempre se mostrou sobranceira, arrogante e autista. Se alguém pára por breves momentos nos seus lugares de estacionamento (aos quais têm direito nem sei para quê logo vem o segurança enxotar para que desopilemos de imediato de tão nobre espaço.

Já por mais do que uma vez ali fui rebocado por ter parte do carro a ocupar o trono, quando necessitei por urgência de me deslocar a casa por breves momentos. Sim, eles fazem questão de chamar de imediato o reboque para desimpedir a sua zona de conforto com a desculpa, segundo me disseram, de que se aparece por ali alguém da administração e não tem o lugar vago são eles que ouvem. Para contrastar com tamanha ignomínia e despautério da minha parte, agora com as obras a decorrer decidiram ‘estender o seu estendal’ para lá dos seus lugares. Montaram o estaleiro, roubando mais um lugar e – imagine-se! – também um lugar dos deficientes. Lugares esses que guardam para si com baias e grades protetoras, mas que muitas vezes não são utilizados, pois parqueiam os carros das obras do outro lado da rua, ocupando mais lugares numa rua já de si exígua nesse aspeto (sim, tenho fotografias que o comprovam). Metem parquímetro? Claro que não, isso é para nós – eles são da EGEAC ou da Câmara e, por isso, basta colocarem os quatro piscas perante o olhar passivo dos cobradores da EMEL e tudo fica em plena sintonia.

O obra devia estar pronta em agosto e os coitados dos rapazes que exploram o restaurante nas traseiras ainda continuam parados devido ao reboliço. O que esta gente não percebe é que, mesmo que paguem lucros cessantes, a fidelização da clientela de Bairro custa muito a fazer e perde-se num instante. Pior do que tudo isto é que o espaço tinha sido renovado recentemente e estava bem bonito, mas parece que cada administração nova gosta de dar o seu cunho pessoal. Com isto, vão mais de meio milhão de euros do erário público sem necessidade alguma porque, como disse, estava como novo. É importante as administrações deste tipo de Casas e Institutos perceberem que isto não é deles, mas sim de todos, e que deviam estar ao nosso serviço e não só ao deles. Já nem peço para convidarem os vizinhos para os eventos que fazem a horas mais tardias, porque já percebi a falta de sensibilidade para a coisa, o que é realmente importante perceberem é que as regras devem ser iguais para todos e que o dinheiro, se existe assim em tanta abundância, pode ser utilizado em obras mais necessárias. Para além disso, é fundamental a integração destes espaços na comunidade – não faz sentido algum existirem se, à volta, forem vistos como corpos estranhos. Uma consequência das suas próprias atitudes.

A vergonha das obras da Casa Fernando Pessoa


 Esta Casa do nosso tão adorado Pessoa (tenho uma grande admiração pela sua obra) nunca teve a delicadeza de se virar para a comunidade, de chamar a si os vizinhos e os moradores. Ao invés, sempre se mostrou sobranceira, arrogante e autista.


Tento-me concentrar enquanto escrevo este artigo, mas não está fácil. O barulho ensurdecedor que vem do lado de fora agudiza nos ouvidos e corrói qualquer tentativa de pensamento ou criação de ideias. As obras da Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, mesmo ao lado da minha habitação, iniciaram-se com estrondo e aparato no princípio de março e parecem ainda estar para durar. Não que eu tenha alguma coisa contra qualquer tipo de obras de melhoramento ou de requalificação de edifícios, principalmente neste caso, até pela sua simbologia histórica. Nada disso: acho até que devemos aproveitar o que temos, colocando os bens ao serviço das pessoas e do público em geral. Os meus problemas aqui são outros.

A começar pelos dias das obras. Parece que, sendo obras municipais, tudo vale e tudo é desculpável. Iniciam-se às oito em ponto e estendem-se muitas vezes por feriados e sábados – até no último domingo lá esteve gente a trabalhar. Não se preocupam minimamente com quem os rodeia, mas quanto a isso nada de novo. Esta Casa do nosso tão adorado Pessoa (tenho uma grande admiração pela sua obra) nunca teve a delicadeza de se virar para a comunidade, de chamar a si os vizinhos e os moradores. Ao invés, sempre se mostrou sobranceira, arrogante e autista. Se alguém pára por breves momentos nos seus lugares de estacionamento (aos quais têm direito nem sei para quê logo vem o segurança enxotar para que desopilemos de imediato de tão nobre espaço.

Já por mais do que uma vez ali fui rebocado por ter parte do carro a ocupar o trono, quando necessitei por urgência de me deslocar a casa por breves momentos. Sim, eles fazem questão de chamar de imediato o reboque para desimpedir a sua zona de conforto com a desculpa, segundo me disseram, de que se aparece por ali alguém da administração e não tem o lugar vago são eles que ouvem. Para contrastar com tamanha ignomínia e despautério da minha parte, agora com as obras a decorrer decidiram ‘estender o seu estendal’ para lá dos seus lugares. Montaram o estaleiro, roubando mais um lugar e – imagine-se! – também um lugar dos deficientes. Lugares esses que guardam para si com baias e grades protetoras, mas que muitas vezes não são utilizados, pois parqueiam os carros das obras do outro lado da rua, ocupando mais lugares numa rua já de si exígua nesse aspeto (sim, tenho fotografias que o comprovam). Metem parquímetro? Claro que não, isso é para nós – eles são da EGEAC ou da Câmara e, por isso, basta colocarem os quatro piscas perante o olhar passivo dos cobradores da EMEL e tudo fica em plena sintonia.

O obra devia estar pronta em agosto e os coitados dos rapazes que exploram o restaurante nas traseiras ainda continuam parados devido ao reboliço. O que esta gente não percebe é que, mesmo que paguem lucros cessantes, a fidelização da clientela de Bairro custa muito a fazer e perde-se num instante. Pior do que tudo isto é que o espaço tinha sido renovado recentemente e estava bem bonito, mas parece que cada administração nova gosta de dar o seu cunho pessoal. Com isto, vão mais de meio milhão de euros do erário público sem necessidade alguma porque, como disse, estava como novo. É importante as administrações deste tipo de Casas e Institutos perceberem que isto não é deles, mas sim de todos, e que deviam estar ao nosso serviço e não só ao deles. Já nem peço para convidarem os vizinhos para os eventos que fazem a horas mais tardias, porque já percebi a falta de sensibilidade para a coisa, o que é realmente importante perceberem é que as regras devem ser iguais para todos e que o dinheiro, se existe assim em tanta abundância, pode ser utilizado em obras mais necessárias. Para além disso, é fundamental a integração destes espaços na comunidade – não faz sentido algum existirem se, à volta, forem vistos como corpos estranhos. Uma consequência das suas próprias atitudes.