Mundial de 2006. Justiça alemã investiga teia de favores

Mundial de 2006. Justiça alemã investiga teia de favores


No novo inquérito existem quatro suspeitos de terem participado no esquema de compra de votos que colocou o torneio em solo germânico.


Os fantasmas da corrupção no futebol alemão teimam em não desaparecer e surgem de novo as suspeitas em torno da organização do Mundial de Futebol de 2006. Ontem a justiça alemã anunciou a abertura de um inquérito crime contra três responsáveis alemães e um suíço que são suspeitos de participarem no alegado esquema que terá viabilizado a realização do evento em solo germânico – através da compra de votos.

Os suspeitos são os antigos presidentes da federação alemã Theo Zwanziger e Wolfgang Niersbach, o ex-secretário geral da federação Horst Schmidt e ainda o ex-secretário geral da FIFA, Urs Linsi – este último de nacionalidade suíça.

Segundo a justiça de Frankfurt no centro das investigações está um saco correazul de 6,7 milhões de euros de onde sairia o dinheiro que se destinava à compra de votos favoráveis à Alemanha, o que prejudicava a candidatura da África do Sul.

Inicialmente o caso foi denunciado pela Der Spiegel, há quatro anos, mas agora é um tribunal de Frankfurt a deixar claro que existem suspeitas de crimes como fuga ao fisco, o que é suficiente para avançar para este inquérito.

A investigação ontem anunciada pelos alemães junta-se a outras já em curso à FIFA na Suíça.

 

Escândalo atrás de escândalo 

A notícia desta nova investigação surge poucos dias após se ter ficado a saber que Frizz Keller, até então presidente do Friburgo, foi designado para a presidência da Federação Alemã de Futebol (a Deutscher Fußball-Bund, DFB), depois da saída de Reinhard Grindel em abril – também se demitiu da vice-presidência da UEFA e do lugar que tinha na FIFA.

Grindel havia chegado à liderança da federação alemã em 2015 e perante as notícias que iam saindo sobre os negócios obscuros do campeonato mundial de 2006, prometeu uma federação mais transparente e integra. Mas o seu mandato acabaria por não chegar ao fim com suspeitas de práticas que nada tinham de transparentes.

Em plena ressaca da fraca campanha alemã no campeonato organizado pela Rússia, no ano passado, o jornal Build revelou que Reinhard Grindel teria recebido um relógio avaliado em seis mil euros de Grigoriy Surkis, um oficial de futebol ucraniano. Além disso, a Der Spiegel, também noticiou rendimentos de 78 mil euros entre julho de 2016 e julho de 2018 por assumir a presidência da entidade que geria os media da DFB, o que foi justificado pelos serviços como sendo rendimentos legais.

Quanto ao relógio, Grindel pediu desculpas aquando da sua demissão, garantindo ainda assim que o mesmo não foi o pagamento de qualquer contrapartida.

Foi “um comportamento menos exemplar”, mas “não houve e não há conflito de interesses”, afirmou na sua saída. Até que se oficialize a entrada do novo presidente, o que deverá acontecer apenas em setembro, os vice-presidentes Rainer Koch e Reinhard Rauball assumem interinamente a presidência do organismo. Na declaração que fizeram após a demissão de Grindel agradeceram o empenho do antigo presidente, dizendo que respeitavam a sua decisão.

O futuro da Deutscher Fußball-Bund estará a partir de setembro nas mãos de Fritz Keller, escolhido por unanimidade por uma comissão que tem como missão a designação do nome para presidente da DFB. A eleição em assembleia geral, que deverá manter o sentido da designação daquela comissão, acontecerá apenas a 27 de setembro.

O até então presidente do Friburgo já garantiu que vai deixar a presidência daquele clube, ainda que com muita “pena”, alegando que as funções seriam incompatíveis.