Alberto Fernández, o candidato às eleições presidenciais argentinas que lidera a corrida – nas primárias deste mês obteve mais de 47%, contra 32% do atual presidente Mauricio Macri – vai ser recebido em Lisboa pelo primeiro-ministro português e pelo ministro das Finanças Mário Centeno.
Segundo noticiado pela imprensa argentina, a viagem pela Península Ibérica iniciou-se no último domingo e o objetivo é ter reuniões de primeira linha, mais concretamente, em Madrid com o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez – também presidente do PSOE – e com outros atores políticos e, em Lisboa com António Costa e com o ministro das Finanças Mário Centeno, que é desde o ano passado presidente do Eurogrupo.
O i contactou ontem o gabinete do primeiro-ministro português, bem como o de Mário Centeno para obter mais detalhes sobre o encontro, mas não recebeu qualquer resposta até à hora de fecho desta edição.
De acordo com o jornal Clarín, a viagem que está marcada há alguns meses serve para iniciar o diálogo com parceiros europeus estratégicos de que a Argentina precisará caso se confirme a saída de Mauricio Macri.
É que interna e externamente serão muitos os desafios que Alberto Fernández, cuja lista conta com a presença de Cristina Kirchner, terá de enfrentar, nomeadamente conquistar aqueles que hoje são aliados do seu principal opositor nestas eleições – como é o caso do presidente norte-americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro.
Em Lisboa, refere o jornal La Nación, as atenções também estarão viradas para o sucesso da chamada geringonça. Segundo a imprensa argentina o chamado “milagre português” é algo que está a ser acompanhado pela equipa de Fernández com toda a atenção.
As eleições argentinas estão marcadas pela 27 de outubro.
Tratado UE-Mercosul em destaque O tema do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul (de que fazem parte Brasil e Argentina) tem estado debaixo de todos os holofotes, depois de alguns países europeus, com destaque para França, terem colocado a hipótese de travar o mesmo. A ameaça surgiu durante uma troca de palavras duras entre Emmanuel Macron e Jair Bolsonaro.
Portugal e Espanha desde o primeiro momento mostraram-se contra a possibilidade avançada por Macron de travar este processo. Do lado português, António Costa manifestou solidariedade ao presidente brasileiro, quando este lhe telefonou na última quarta feira para dar conta do que está a acontecer na Amazónia.
Segundo a chamada que o semanário SOL revelou na última edição, numa conversa “franca e amistosa”, Costa “solidarizou-se com o presidente brasileiro”. O porta-voz da presidência do Brasil revelou ao SOL que, “Bolsonaro e António Costa reafirmaram a importância do Acordo do Mercosul e UE para ambos os países e, naturalmente, para os blocos económicos nos quais estão inseridos” e deixaram claro que “farão todos os esforços para aprová-lo”.
Do lado espanhol, o Governo também fez saber em comunicado enviado às redações que o país “tem estado à frente dos últimos esforços para a assinatura do acordo UE-Mercosul, que vai abrir enormes oportunidades para os dois blocos regionais”.
As palavras duras de Bolsonaro contra Fernández É que o Mercosul é um tema sensível para o candidato Alberto Fernández, até pelos avisos que o governo liderado por Bolsonaro foi deixando nos últimos tempos. Apesar de estar empenhado em defender o acordo UE-Mercosul, o Brasil já deixou claro que, caso Alberto Fernández queira rever as regras do Mercosul, Brasília sairá do bloco.
“O atual candidato que está à frente na Argentina [Alberto Fernández] já esteve visitando o Lula, já falou que é uma injustiça ele estar preso, já falou que quer rever o Mercosul. Então Paulo Guedes [ministro da economia brasileiro], perfeitamente afinado comigo, falou que se criar problema, o Brasil sai do Mercosul”, disse Jair Bolsonaro.
As críticas à possível vitória de Alberto Fernández tem sido mais do que muitas do lado brasileiro. Bolsonaro já chegou mesmo a afirmar que, caso a Argentina vire à esquerda, o Rio Grande do Sul pode virar “um novo estado de Roraima”, estado que faz fronteira com a Venezuela.
“O atual candidato que está à frente na Argentina [Alberto Fernández] já esteve visitando o Lula, já falou que é uma injustiça ele estar preso, já falou que quer rever o Mercosul. Então Paulo Guedes [ministro da Economia brasileiro], perfeitamente afinado comigo, falou que se criar problema, o Brasil sai do Mercosul”