1. Há tempos, um ilustre universitário deste país dizia-nos que José Sócrates foi e continuará a ser o melhor primeiro-ministro de Portugal. Porquê? Porque teve coragem de criar uma extensa rede de poder em que instalou confortavelmente os amigos, aliados e correligionários políticos, beneficiando política e financeiramente. Utilizou os recursos do Estado para alavancar a sua vida, para subir no ascensor social(ista), gozando com os portugueses. No fundo, o sonho de vida dos portugueses é ser um chico-esperto como José Sócrates e os socráticos: montar uma rede de poder, instalar-se no conforto do Estado e tratar da sua vidinha, dos seus amigos e dos camaradas socialistas. Portanto, José Sócrates ter-se-ia limitado (falamos em termos políticos, naturalmente, pois José Sócrates goza de presunção legal de inocência…) a ser um… português de gema!
2. Honestamente, tais palavras pareceram-nos puro delírio e fanatismo de alguém que se sentia obrigado a defender José Sócrates com tamanha imaginação e criatividade quase delirante. No entanto, a reação dos portugueses ao descalabro total em que António Costa está convertendo o Estado português parece confirmar a tese daquele “mui ilustre” senador. De facto, só nas últimas semanas, tivemos a revelação de intermináveis negociatas entre os membros do Governo e suas pessoas próximas (familiares e amigos), um negócio pateta de golas inflamáveis destinadas a utilização durante os incêndios, um primeiro-ministro que, perante novos incêndios e polémicas do seu Governo, decide ir para férias e desaparecer. Repete-se, pois, o padrão de comportamento de António Costa: sempre que se verifica uma situação complexa ou incómoda para o Governo, António Costa lá decide fugir ora para Palma de Maiorca (convém não esquecer que, perante a maior tragédia ocorrida entre nós nas últimas décadas, o primeiro-ministro optou por ir… para as praias espanholas divertir-se, por entre caipirinhas, mojitos e mergulhos!), ora para o Algarve. Ora, isto é atitude que se possa compreender num líder? Ele é o primeiro a fugir, a virar as costas às suas responsabilidades, mandando subalternos gerir as situações problemáticas… António Costa só se preocupa com a gestão da sua imagem, com as sondagens, com a manutenção do poder pelo poder.
3. Por outro lado, não podemos ignorar que a visão que António Costa tem da vida corresponde a esta forma de gestão egoísta e de manutenção dos interesses da família e dos amigos: note-se que Costa, ainda jovem, foi trabalhar para o escritório do tio que, por sua vez, trabalhava com Jorge Sampaio; depois teve incursões na comunicação social, patrocinadas pela sua mãe, jornalista de referência; depois, o PS ofereceu-lhe um cargozinho e, de há 40 anos a esta parte, António Costa só vive da política. Portanto, António Costa limita-se a projetar na forma de fazer política e na organização do Estado (que somos todos nós) o seu próprio percurso de vida: limitar o poder a um círculo restrito de confiança, de famílias amigas, privilegiar a ligação familiar e política no recrutamento de pessoal dirigente e colaborador, definir como objetivo principal e derradeiro a perpetuação no poder, independentemente dos ciclos eleitorais. Com mais golpada, menos golpada, eis o percurso – e a filosofia – de vida de António Costa, o qual, estando ligado aos episódios mais rocambolescos e de incompetência política gritante da nossa democracia, nunca deles saiu chamuscado. A rede familiar e de amigos íntimos na comunicação social também ajuda – e de que maneira!
4. A verdade é que o costismo assenta nas mesmas bases, estruturas e redes do socratismo: o domínio exercido em estruturas de persuasão-manipulação da opinião pública; condicionamento e chantagem (feita ameaça, muitas vezes) a jornalistas ou comentadores incómodos; controlo persecutório nas universidades, institutos de investigação, escolas e demais entidades do sistema educativo e universitário (já reparou que não há uma única tese sobre os acontecimentos dos anos Sócrates, apesar de o material ser imenso e de a nossa democracia exigir uma reflexão sobre o que se passou neste período verdadeiramente surreal?); a mesma elite pronta a servir o poder socialista, porque sabe que estar do lado dos socialistas é uma maneira simples, fácil e eficaz de ter poder, enriquecer e viver bem, sem chatices, num país que não é propriamente vasto em oportunidades. E o próprio António Costa já o reconheceu quando optou por atribuir louvor e mérito a José Sócrates ao escolher Pedro Silva Pereira como vice-presidente do Parlamento Europeu (indicado pelos correligionários socialistas). Porque António Costa sabe perfeitamente que sem o socratismo, nunca teria chegado à liderança socialista. Sem o socratismo, não se teria aguentado quatro anos no poder com tamanha facilidade…
5. Seria expetável que o PS – que tem o seu anterior primeiro-ministro acusado de corrupção – revelasse alguma discrição suplementar, uma réstia (por escassa que fosse!) de humildade, de autocontenção na captura do Estado, de bom senso nas negociatas infindáveis… Nada disso: o PS, em vez de tentar emendar a mão da sua última experiência governativa, em que os maiores legados foram a pré-bancarrota e um superávite fenomenal na conta bancária de Santos Silva, está fazendo o mesmo, em termos ainda mais descarados. A explicação é simples: o sentimento de impunidade que domina o PS e a esquerda em geral. Resta saber se os portugueses gostam, sentem carinho e querem patrocinar a ampla família socialista, votando PS em outubro; ou preferem cuidar do seu futuro, do bem de Portugal e das suas famílias, votando anti-PS. Votar PS é votar na mais vil corrupção política (a outra, criminal, caberá ao sistema judicial decidir).
P.S. Aos tiranetes socialistas – que são muitos – que possam achar este texto insultuoso (a realidade sempre insulta eficazmente…), cabe dizer que seria um absurdo fazer uma interpretação literal das restrições à democracia e à liberdade de expressão…
Escreve à terça-feira
Só nas últimas semanas tivemos a revelação de intermináveis negociatas entre os membros do Governo e suas pessoas próximas (familiares e amigos).