O Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) apresentou uma participação à Ordem dos Advogados contra André Matias de Almeida, porta-voz da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM).
A informação foi avançada ao i pelo advogado do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, que explicou que a participação à ordem foi feita “quer pelas expressões que utiliza contra os colegas nos órgãos de comunicação social – que violam todos os princípios a que os advogados estão sujeitos –, quer pela imparcialidade pelas ligações ao PS que faz com que se aliem para denegrir a imagem dos motoristas”.
As ligações de André Matias Almeida ao PS já tinham sido noticiadas, aliás, pelo SOL. O porta-voz da ANTRAM, que tem marcado presença em todas as reuniões entre motoristas e patrões, é militante do PS e acumula vários cargos em diversas entidades, sendo alguns de nomeação do Governo.
André Matias de Almeida é, desde maio de 2017, presidente do conselho geral do Fundo Autónomo à Concentração e Consolidação de Empresas (FACCE) e é, desde julho de 2017, presidente do conselho geral do Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE). Estes dois cargos foram-lhe atribuídos através de nomeação do ex-secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos. Além disso, em agosto de 2017, o advogado foi nomeado presidente da Assembleia Geral da StartUp Portugal – a rede nacional de incubadoras de empresas, criada por João Vasconcelos. No espaço de três meses, André Matias de Almeida assume três cargos de estruturas ligadas a João Vasconcelos.
André Matias de Almeida é ainda irmão de Bruno Matias Almeida, adjunto do secretário de Estado da Economia, João Correia Neves, desde 17 de outubro de 2018, de acordo com o despacho de nomeação.
Guerra entre motoristas e ANTRAM Ao i, Pedro Pardal Henriques revelou ainda que o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas já apresentou “uma ação no tribunal para responsabilizar a ANTRAM pelo não cumprimento dos contratos e pelas declarações que profere publicamente”. Em causa está a guerra que se instalou desde abril – início das negociações – sobre o contrato coletivo de trabalho.
Depois de os motoristas de matérias perigosas terem parado parcialmente o país com a greve de três dias, as negociações entre ANTRAM e SNMMP não têm sido fáceis. E, na semana passada, o sindicato decidiu formalizar a ameaça de paralisação e entregou o pré-aviso de greve para 12 de agosto por tempo indeterminado.
Agora, os motoristas avisam que esta greve pode ter mais impacto do que a anterior, já que ao SNMMP também se juntou o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM). Ou seja, além de afetar os combustíveis, a greve pode também afetar o abastecimento das grandes superfícies.
No documento do pré-aviso de greve, os dois sindicatos asseguram apenas 25% dos trabalhadores a nível nacional durante os dias da paralisação. Num universo de cerca de 50 mil motoristas, o pré-aviso de greve esclarece então que estarão apenas disponíveis 12 500 profissionais. Além disso, o “abastecimento de combustíveis e matérias perigosas aos hospitais, centros de saúde, clínicas de hemodiálise (…) estabelecimentos prisionais, bases aéreas, serviços de proteção civil, bombeiros, forças de segurança e unidades autónomas de gaseificação” está assegurado.
Agora, a ANTRAM e a tutela vão analisar o documento entregue pelos dois sindicatos e, explicou a ANTRAM, “tomar as necessárias diligências para procurar garantir que tudo decorra dentro da normalidade, evitando o cenário que se verificou no passado, com os atropelos gritantes à legalidade”.
Do lado do Governo foi anunciado que está a ser preparada uma rede de abastecimento de emergência de combustíveis, caso a greve se concretize e não sejam cumpridos os serviços mínimos.
O objetivo do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas é, desde o início, conseguir um salário de 1200 euros para os profissionais do setor, um subsidio específico de 240 euros e a redução da idade da reforma. Recorde-se que alcançar um novo acordo coletivo surge na sequência da insatisfação dos trabalhadores face ao acordo coletivo assinado em setembro do ano passado entre a Federação dos Sindicatos de Transporte e Comunicação (FECTRANS) e a ANTRAM – motivo que acelerou a concretização da greve em abril.