Quem era Gloria Vanderbilt,  a “pobre rapariga rica”?

Quem era Gloria Vanderbilt, a “pobre rapariga rica”?


Herdeira de uma das principais fortunas norte-americanas, a atriz e designer de moda Gloria Vanderbilt morreu aos 95 anos.


“Era pintora, escritora, designer, mas também uma incrível mãe, mulher e amiga. Tinha 95 anos, mas perguntem a qualquer pessoa próxima e ela dirá que era a pessoa mais jovem que conhecia, a mais cool, a mais moderna”. Foi desta forma que Anderson Cooper, jornalista da CNN, confirmou ontem a notícia da morte da mãe, Gloria Vanderbilt. A socialite, descendente de uma das famílias norte-americanas mais ricas e que passou, nas palavras do filho, a “vida inteira sob os olhares do público”, não resistiu a um cancro no estômago.

Nas décadas de 70 e 80, Gloria tornou–se uma designer de moda famosa devido aos jeans batizados com o seu nome, que passaram a ser uma peça central do guarda-roupa feminino e engrossaram a sua já vasta fortuna. Mas antes de se tornar uma rainha da moda, a herdeira já era uma socialite famosa.

Nascida a 20 de fevereiro de 1924, Gloria era trineta de Cornelius Vanderbilt, que no séc. xix se tinha tornado um dos homens mais ricos do mundo devido à construção de caminhos-de-ferro e de navios. O pai, Reginald Claypoole Vanderbilt, morreu quando Gloria tinha apenas um ano. Seguiu-se uma batalha pela sua custódia entre a sua mãe, Gloria Morgan, descrita como ausente, a avó, Naney, e ainda a tia, Gertrude Vanderbilt Whitney, que viria a fundar em 1930 o Whitney Museum, em Nova Iorque. O caso acabou por ir parar à barra dos tribunais em 1934, onde a mãe foi acusada de ser lésbica – em causa estava um fundo milionário a que Gloria poderia aceder quando completasse 21 anos. A sua custódia acabou por ser entregue à avó e à tia, e foi esta crise familiar que fez com que, aos dez anos, fosse apelidada pelos tabloides de “a pobre menina rica”.

Acabou por crescer entre os Estados Unidos, Paris, Cannes e Londres, e aos 16 anos tentou a sorte como atriz em Hollywood. Colecionou namorados famosos, como Frank Sinatra, Marlon Brando ou Howard Hughes, o magnata da aviação e produtor de cinema (cuja história foi adaptada ao grande ecrã por Scorcese, numa película protagonizada por Leonardo DiCaprio), com quem, “pela primeira vez”, não teve de “fingir orgasmos”, revelou a própria.

Casou quatro vezes, a primeira aos 17 anos, com um agente de Hollywood com ligações à máfia. Aos 21 casou com Leopold Stokowski, ex-marido de Greta Garbo e maestro. Tinha mais 42 anos do que ela e tiveram dois filhos. Depois de mais um enlace – com o cineasta Sidney Lumet – casou pela quarta vez com Wyatt Emory Cooper, escritor e ator norte-americano. Foi desta união que nasceram Carter – que viria a suicidar-se – e Anderson Cooper. O jornalista vencedor de vários Emmys é o filho mais novo da herdeira e lançou em 2016 o livro de memórias da mãe, The Rainbow Comes and Goes.

A narrativa, construída a partir de uma troca de emails entre os dois, põe a nu os episódios mais marcantes da vida de Gloria que, apesar de não ter marcado como atriz, marcou os corredores de Hollywood: colecionou amigos como, por exemplo, Charles Chaplin, Truman Capote, Liza Minelli ou Marlene Dietrich. Mas foi apenas aos 54 anos, já viúva, quando lançou a sua linha de calças de ganga, que sentiu que a sua carreira estava a começar.

A biografia, aqui citada pela Folha de São Paulo, revela que Gloria continuava a manter, como ressalvou ontem o filho, a jovialidade. “Às vezes, à noite, quando o sono não vem, conto amantes em vez de carneirinhos”, dizia num dos emails enviados a Anderson. O filho responde na mesma moeda: “Não é toda a gente que descobre que a mãe teve uma vida sexual muito mais ativa do que a sua”.