Dia B do Marquês. Bava veio de Londres para esclarecer o juiz Ivo Rosa

Dia B do Marquês. Bava veio de Londres para esclarecer o juiz Ivo Rosa


O antigo presidente da PT disse ontem querer esclarecer tudo ao juiz Ivo Rosa. O magistrado tem em mãos a instrução do caso Marquês e considera não ser possível usar declarações de Ricardo Salgado que fundamentam a acusação contra Zeinal Bava.


Zeinal Bava chegou ontem ao Tribunal Central de Instrução Criminal ciente de que o juiz que o ia interrogar, Ivo Rosa, considera inválidas para a Operação Marquês as declarações de Ricardo Salgado que davam força a uma das principais acusações que o Ministério Público tem contra si. O antigo presidente da Portugal Telecom, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsificação de documento e fraude fiscal, fez questão de dizer aos jornalistas que havia chegado o dia, depois de anos de investigação, de pôr tudo em pratos limpos.

“Chegou agora o momento de, com serenidade, aqui no tribunal, tudo esclarecer”, disse Bava, reforçando: “É isso que eu quero fazer”. O arguido, que nesta fase ficará a saber se vai ou não responder em tribunal e por que crimes, fez questão de frisar que nem sequer era obrigado a falar, mas decidiu fazê-lo: “Como sabem, assistia-me o direito de não falar, mas eu viajei de Londres justamente para vir aqui esclarecer tudo”.

O contrato fictício Há duas semanas foi tornado público que o magistrado, que tem em mãos a instrução da Operação Marquês, considera que os depoimentos que o antigo presidente do BES prestou no âmbito dos processos Monte Branco e BES/GES não podem ser usados no caso que tem José Sócrates como principal arguido.

As declarações de Salgado eram fundamentais para a acusação, uma vez que fundamentavam a tese dos contratos forjados. Os investigadores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) consideram ter sido feito um contrato fictício, assinado entre a Espírito Santo Enterprises, conhecida como o saco azul do GES, e Zeinal Bava, com o objetivo de justificar o recebimento por parte deste último de mais de 25 milhões de euros entre 2007 e 2011.

Este documento, sabe o i, foi encontrado durante uma busca a casa de Bava e teria como objetivo baralhar a investigação quanto às reais justificações dessa operação. Além deste contrato, terão sido ainda encontrados outros documentos do mesmo género noutras diligências feitas pelos investigadores da Operação Marquês.

Para a investigação estava em causa o pagamento de luvas por parte de Ricardo Salgado, com o objetivo de que Zeinal Bava, enquanto administrador da telefónica portuguesa, agisse nos interesses do Grupo Espírito Santo – neste caso, porque a telefónica portuguesa tinha um papel fundamental para que o GES conseguisse liquidez.

O montante recebido por Zeinal Bava foi dividido em três partes – as operações foram feitas entre o fim de 2007 e o fim de 2011.

Bava deixa recado aos que o achincalharam O antigo presidente da Portugal Telecom, que chegou a ser considerado um gestor de excelência, respondeu ainda a todos os que criticaram a sua atitude na audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão do Grupo Espírito Santo, em 2015. Naquela altura, Bava disse não se recordar de diversos detalhes nas respostas dadas aos deputados.

Antes de dizer que chegou o momento de esclarecer tudo em tribunal, dirigiu tal explicação “àqueles que durante anos [o] achincalharam por causa do infeliz acontecimento que aconteceu no Parlamento”.