A história, para lá de conhecida: na noite de 8 de agosto de 1969, encontrava-se o realizador Roman Polanski em Londres, a casa em que vivia em Benedict Canyon, Los Angeles, foi atacada pelo grupo liderado por um dos mais célebres serial killers de todos os tempos: Charles Manson. Sharon Tate Polanski, atriz e modelo norte-americana, 26 anos, grávida de oito meses e meio do realizador, com quem se tinha casado recentemente, era assassinada com 16 facadas, várias delas na barriga. Com ela morreram Jay Sebring, Abigail Folger, Wojciech Frykowski e Steven Parent.
Charles Manson e os seus cúmplices – Tex Watson, Patricia Krenwinkel, Susan Atkins e Leslie Van Houlen – seriam depois julgados e condenados a penas de morte que nunca seriam cumpridas: depois de, em 1972, o Supremo Tribunal da Califórnia ter abolido a pena capital, as sentenças foram convertidas em penas de prisão perpétua.
Uma história digna de um filme de terror – e que acabou mesmo por dar um, meio século depois. Por Daniel Farrands – que tem como título mais conhecido a adaptação de The Amityville Horror, de Jay Anson, e se tem movido por esse género –, O Espetro de Sharon Tate (The Haunting of Sharon Tate no título original) chega às salas portuguesas a poucos meses de se completarem 50 anos desde o homicídio de Sharon Tate.
Com Hillary Duff como protagonista para uma história construída a partir dos pesadelos que, verdade ou não, se conta que atriz começou a ter antes da sua morte, mas sobre cuja utilidade – ou os métodos – a crítica norte-americana se tem questionado numa altura em que, aproveitando a efeméride, por Hollywood pululam novos filmes em torno dos crimes que marcaram a segunda metade do século – com Once Upon a Time in Hollywood, que Quentin Tarantino acaba de estrear em Cannes, com Brad Pitt e Leonardo DiCaprio, como exemplo mais sonante.
Talvez o momento prejudique mais do que ajuda este novo filme de Farrands, que não se ficará por aqui na resposta à aparente sede de histórias de crimes horrendos de inspiração histórica. Em fase de pós-produção, o realizador tem ainda The Murder of Nicole Brown Simpson, esse sobre o assassínio da ex-mulher de O. J. Simpson, que deverá terminar ainda este ano. No IndieWire, por exemplo, David Ehrlich descreve-o como “a pior versão possível de Once Upon a Time in Hollywood”. E sustenta-o, citando o próprio diretor de casting de O Espetro de Sharon Tate: “O que pareceria se os assassínios culturalmente sísmicos de 1969 fossem amadoramente adaptados por Lizzie McGuire, a bisneta de Citizen Kane, Lindsay Lohan em Mean Girls e um punhado de jovens atores atraentes que parecem mais personagens do Vanderpump Rules do que membros de um culto de assassinos racistas?”
E continua: “E se aos assassinos da Família Manson [nome pelo qual ficou conhecido o grupo formado por Charles Manson na década de 1960] fosse dado o tratamento de Sacanas Sem Lei num filme slasher a terminar com Sharon Tate num universo paralelo, a matar os invasores de 10050 Cielo Drive [a morada do casal Polanski em Benedict Canyon] e depois a olhar para o seu próprio cadáver a partir de uma dimensão alternativa?” Talvez melhor seja mesmo esperarmos por agosto – e por Tarantino.