Vigilância nas praias deveria ser feita durante todo o ano

Vigilância nas praias deveria ser feita durante todo o ano


O período de vigilância nas praias portuguesas não é igual em todo o território. As associações de nadadores salvadores acham que as praias deveriam ser vigiadas durante todo o ano, mas o custo para os concessionários é enorme. Solução passaria pelas autarquias.


Em dias de muito calor, há pelo menos uma certeza: as praias portuguesas estão cheias de banhistas. O problema é quando o calor chega fora de época, quando não existem meios de socorro nos areais de norte a sul. No último fim de semana, os termómetros marcaram mais de 30 graus em algumas zonas e os portugueses encheram as praias que ainda não estão vigiadas. Oficialmente, a época balnear começou no primeiro dia deste mês, mas não em todas as praias – na prática só Cascais e Algarve têm já nadadores salvadores.

Nos últimos dias foram vários os exemplos de pessoas que avaliaram mal as condições do mar e avançaram sem medo para um mergulho. Esta segunda-feira, dois banhistas tiveram de ser socorridos na praia da Fonte da Telha, Costa da Caparica, pelo Instituto de Socorro a Náufragos (ISN). As duas vítimas estavam em estado de pré-afogamento e, claro, a praia não estava vigiada e não tinha bandeira. E o episódio mais recente aconteceu em Odemira, ao final da tarde de terça-feira, quando um homem desapareceu no mar. “O alerta foi dado por um grupo de pessoas que se encontrava na praia coma vítima” e o corpo foi encontrado ontem, durante a tarde, disse a Autoridade Marítima Nacional (AMN) em comunicado.

De acordo com o Observatório do Afogamento, criado pela Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores, morreram 117 pessoas por afogamento no ano passado. A maioria das mortes ocorreu fora da época balnear – quando as praias não são vigiadas – e abril foi o mês com mais mortes em 2018.

Estes dados lançam então a seguinte questão: não seria mais seguro manter a vigilância durante todo o ano? A resposta dada ao i pelas associações de nadadores salvadores e pela Federação Portuguesa Nacional de Nadadores Salvadores é: sim, deveria ser.

“A vigilância e prevenção, sobretudo num país como o nosso, tem de ser constante e durante todo o ano”, disse ao i Paula Vilafanha, da Brave Hearts – Associação Humanitária de Segurança e Salvamento Aquática. Caso existisse uma vigilância permanente, durante o ano inteiro, “não seria necessário alterar o início ou fim da época balnear, que é definida pela portaria em Diário da República”. Para esta associação, a solução passa por constituir equipas que podem, consoante a meteorologia, ser ou não reforçadas ao longo do ano. “Por exemplo, em fevereiro, em dias de mais calor, é possível reforçar a equipa com mais nadadores salvadores”, adiantou Paula Vilafanha.

 

Nadadores Salvadores em Carcavelos o ano inteiro

Pela proximidade à cidade de Lisboa, Carcavelos é muitas vezes a primeira opção para uma ida à praia. A Câmara Municipal de Cascais decidiu pôr em marcha um projeto-piloto de vigilância na praia de Carcavelos durante os 365 dias do ano. Este inverno estiveram todos os dias seis nadadores salvadores na praia de Carcavelos e, “no período entre 16 de outubro de 2018 e 2 de janeiro de 2019, foram prestados 33 socorros, 8 salvamentos e 11 evacuações”, segundo informações do município de Cascais.

Esta iniciativa, diz a Associação Humanitária de Segurança e Salvamento Aquática, deveria ser alargada a todo o território, já que não é só no verão que as pessoas vão até à praia: “Se houver iniciativas como fez a Câmara Municipal de Cascais, não é necessário estar a mudar a época balnear”.

Do lado da Costa da Caparica, a Associação de Nadadores Salvadores da Frente Atlântica da Costa da Caparica considera que alargar o período de vigia é crucial, tal como se faz no município de Cascais. No entanto, apontam um problema: “É um custo muito elevado que os concessionários não conseguem suportar”. “Achávamos muito bem que a praia tivesse mais vigilância, durante mais tempo, por exemplo desde abril até outubro, mas aí o apoio teria de vir da autarquia”, recorda a associação.

 

“existe uma pressão económica” A partir de 2004, o período balnear deixou de ser fixo, sendo por isso que as datas de início não são iguais em todo o país. No entanto, Alexandre Atalaia, da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores, alerta para o seguinte: “É possível alargar a época balnear, mas a verdade é que também há a possibilidade de encurtá-la e isto, infelizmente, acontece em muitas zonas do país onde atualmente a época balnear é muito mais reduzida do que era em 2004”.

O problema, diz Alexandre Atalaia, é mais antigo e “vem desde 1959, ano em que se estipulou o atual sistema de assistência a banhistas”. Ou seja, há 60 anos que são os concessionário os responsáveis pelas contratações dos nadadores salvadores. “Ora, sabendo que os concessionários de praia apenas têm de pagar a assistência a banhistas durante a época balnear, é óbvio que os concessionários de praia acabam por fazer alguma pressão sobre os municípios para que peçam um período mais encurtado”, disse. A solução passa, então, por atribuir estas competências aos municípios, para que seja possível garantir durante todo o ano a vigilância nas praias: “Manter a assistência a banhistas sob a responsabilidade dos concessionários não é bom e, ao passar para as autarquias já seria possível encontrar uma solução para períodos mais alargados”.

 

Menos praias concessionadas este ano Com exceção de algumas praias, a concessão tem início no dia um de junho. Este ano, Portugal conta com menos 94 praias concessionadas do que em 2018. No total, e de acordo com a portaria relativa à época balnear publicada esta terça-feira em Diário da República, a concessão foi atribuída a 443 praias marítimas – no ano passado foram 537.

As exceções são as praias do concelho de Cascais, cuja concessão já está a funcionar desde o primeiro dia de maio e as praias de Albufeira, no Algarve, que desde ontem contam com nadadores-salvadores.