Todas as corporações dos bombeiros de Leiria, INEM, militares do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro, Força Especial de Bombeiros e SIRESP foram figurantes por um dia. Todos estes elementos estiveram presentes nas filmagens da novela da SIC Flor de Sal, cujo objetivo era recriar o momento em que o pinhal de Leiria foi consumido pelas chamas durante os incêndios de outubro de 2017 – em que morreram 49 pessoas, e mais de 1500 casas e 500 empresas ficaram destruídas.
Há cerca de um mês, a SP Televisão – responsável pela produção das novelas da SIC – convidou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) para participar num dos episódios da novela.
De acordo com a notícia avançada pelo JN, as filmagens recriaram o posto de comando de Leiria, exatamente no mesmo local onde estava em 2017, e foi criado um cenário em que centenas de banhistas das praias da região de Leiria fugiam do incêndio.
O facto de usar membros da ANEPC para tornar o cenário mais credível fez soar os alarmes de outras instituições. É o caso de Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, que considerou a participação dos homens “uma vergonha” e pede que sejam apuradas responsabilidades. Para já, Jaime Marta Soares quer confrontar José Artur Neves, Secretário de Estado da Proteção Civil, para perceber o enquadramento legal da situação em questão e, no limite, se os intervenientes receberam dinheiro por isso.
O presidente da Liga chegou mesmo a dizer: “A Proteção Civil que se retrate, o presidente da ANEPC que se retrate, a estrutura operacional [da ANEPC] que se retrate, porque o que eles fizeram é uma vergonha”.
“A participação está completamente fora de qualquer contexto daquilo que são as funções dos bombeiros e do INEM”, disse ainda Marta Soares, que utilizou três palavras para descrever o que aconteceu: “Estranho, desapropriado e desaconselhável”.
O responsável pelo Comando Distrital das Operações de Socorro de Leiria descartou responsabilidades e atirou-as para o comando nacional. Da mesma forma, o comandante dos bombeiros de Maceira – uma das corporações presentes nas filmagens – confirmou a autorização do CDOS de Leiria e do comando nacional.
Em comunicado, a ANEPC garantiu que grande parte das forças mobilizadas correspondia a “meios de apoio e não de combate direto” e, além disso, não foi ninguém “retirado dos dispositivos de respostas operacional”.
“Em nenhum momento esteve em causa o socorro à população”, lê-se no comunicado. A Proteção Civil garante que ficou, logo à partida, acordado com a SP Televisão que, “em caso de acionamento de algum tipo de alerta preventivo, ou em caso de ocorrência real”, os operacionais presentes no local seriam de imediato desmobilizados.
A ANEPC defendeu-se e justificou o facto de autorizar a presença de bombeiros e equipas do INEM nas gravações da novela com o interesse público e informativo. As imagens “poderão trazer um ganho expressivo no que respeita à sensibilização do público em geral para a matéria dos incêndios florestais”, diz o comunicado.