A proposta do CDS de Arroios de pintar passadeiras com a cor do arco-íris, na Avenida Almirante Reis, para assinalar o dia de luta contra a homofobia e transfobia no próximo dia 17 de maio tem gerado várias críticas – e muitas vindas de dentro do partido. Ao i, Vítor Teles – advogado e atual membro independente da Assembleia de Freguesia de Arroios, depois de se ter desfiliado do CDS –, um dos criadores da proposta, considerou toda a polémica “um absurdo”. “É a hipocrisia levada ao extremo. O CDS esteve mais interessado em defender os políticos (…) em vez de defender as políticas”, completa.
O advogado revela ainda que, quando teve esta ideia, ponderou muito se a deveria apresentar ou não, mesmo considerando que nos tempos em que vivemos algo deste género não deveria ferir suscetibilidades: “Achei que em 2019 estas questões já não seriam tão impactantes”. “Nunca pensei, nem sequer antevi, o impacto e dimensão que isto viria a ter”, afirmou, acrescentando que as várias reações à proposta são um sinal de que é urgente debater este tema. “O CDS não se pode distanciar [desta realidade] se quer ser um partido pluralista, como diz que é. Não se pode distanciar dos temas da sociedade e este é um deles”, sublinhou.
Desconhecimento prévio do CDS Na semana passada, numa nota interna, assinada pela líder centrista Assunção Cristas e por Diogo Moura – presidente da concelhia do CDS Lisboa – o partido diz que não teve conhecimento prévio da proposta aprovada pela Junta de Freguesia. “Relativamente a uma recomendação, sem caráter vinculativo, apresentada pelos eleitos pelo CDS em Arroios, importa esclarecer que a mesma não vincula o CDS Lisboa nem a Direção Nacional do partido, que de resto não tiveram qualquer conhecimento prévio e muito menos assentiram”, revela a nota.
Contudo, ao i, Vítor Teles revelou que enviou a 24 de abril um e-mail para o seu colega de bancada Frederico Sapage Ferreira e para Diogo Moura a dar conhecimento da proposta. Nesse e-mail seguia em “anexo todas as propostas, incluindo a das passadeiras de Arroios, que iam ser apresentadas na assembleia de dia 29”.
Vítor Teles questiona ainda o porquê de o CDS na Câmara Municipal de Lisboa ser contra a criação de medidas inclusivas da comunidade LGBTI na freguesia de Arroios. “No recente caso das passadeiras arco-íris, o CDS veio publicamente demarcar-se da iniciativa dos seus autarcas em Arroios por não se rever em semelhantes ações”, escreveu numa publicação do Facebook, afirmando que é mentira que o partido não se reveja neste tipo de iniciativas, uma vez que em fevereiro deste ano os vereadores do CDS na Câmara Municipal de Lisboa votaram a favor da criação da Casa da Diversidade e do Centro de Acolhimento LBGTI naquela freguesia.
“Importa então que o CDS explique por que na Câmara Municipal de Lisboa está de acordo com a criação na freguesia de Arroios de medidas destinadas a apoiar as comunidades LGBTI e de combate à não discriminação e violência de minorias e ‘não se reveja’ na iniciativa dos seus autarcas de se assinalar naquela mesma freguesia o dia internacional de luta contra a homofobia e transfobia”, questiona.
Iniciativa avança O advogado afirmou ainda ao i que apesar da polémica gerada, a iniciativa vai mesmo avançar no dia 17 de maio, mas com uma diferença: o que será pintado serão dois corredores de peões onde o fundo não é composto pelas conhecidas zebras, mas sim sinalizado por duas baias brancas, junto aos semáforos. A junta de freguesia de Arroios já enviou para a Câmara Municipal o pedido para pintar as passadeiras e o “foro competente da Câmara já deu o ‘ok’ para que esta iniciativa fosse executada”, afirmou.