Chegou a hora das decisões difíceis na Ucrânia

Chegou a hora das decisões difíceis na Ucrânia


O Presidente eleito, Volodymyr Zelenskiy, terá agora de escolher um posicionamento entre o Ocidente e a Rússia, de combater a corrupção e recuperar a economia ucraniana.


A incerteza entrou em força na política ucraniana com a vitória de Volodymyr Zelenskiy, de 41 anos, na segunda volta das presidenciais deste domingo. Conhecido por ter desempenhado o papel de Presidente numa série de televisão, Zelenskiy é agora Presidente na vida real e terá de tomar decisões difíceis no futuro próximo: das relações com o Ocidente e Rússia ao combate à corrupção no país, passando pela forma como pretende recuperar a economia do país.

“Ainda não sou oficialmente Presidente, mas, como cidadão da Ucrânia, posso dizer a todos os países do pós-União Soviética que olhem para nós. Tudo é possível”, disse Zelenskiy no seu discurso de vitória. O Presidente eleito deverá tomar posse no próximo mês.

A vitória do comediante contra o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, de 53 anos, foi avassaladora. Ganhou com 73% dos votos, enquanto o segundo se ficou pelos 24%. As sondagens já o diziam, mas das previsões à realidade vai uma pequena grande distância. Para o resultado eleitoral muito contribuiu a guerra com os separatistas pró-russos em Donetsk e Lugansk que já causou mais de 13 mil mortos e dezenas de milhares de deslocados, o piorar da situação económica do país e a corrupção endémica, pouco combatida por Poroshenko nos cinco anos do seu mandato.

“Ninguém votou em Zelenskiy, mas contra Poroshenko. Se outra pessoa tivesse chegado à segunda volta, as pessoas teriam votado nela”, garantiu Oleksiy Kondrashov, funcionário público, à Reuters.

Sabendo da imprevisibilidade que pode caracterizar a presidência de Zelenskiy, os líderes europeus não perderam tempo a congratulá-lo pela vitória, vendo-a como um passo positivo na consolidação democrática do país. Esperam que implemente reformas democráticas e que combata a corrupção – duas das condições para que um dia a Ucrânia possa aderir à União Europeia. “Ainda há muito a ser feito para alcançar uma Ucrânia plenamente pacífica, democrática e próspera que os seus cidadãos pediram”, escreveram o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a uma só voz, garantindo que a UE está disponível para “dar um forte apoio” no caminho das reformas. A UE e a NATO investiram bastante no país nos últimos anos e veem-no como baluarte no combate ao expansionismo russo na Europa de Leste.

Se Poroshenko ficou conhecido por se opor ao Kremlin, no que a Zelenskiy diz respeito a certeza de que seguirá o mesmo caminho não é assim tão grande. Mas, por agora, conta com o apoio de Bruxelas, da NATO e da Alemanha. “O Governo alemão também continuará no futuro a apoiar o direito da Ucrânia à soberania e integridade territorial”, reagiu a chanceler alemã, Angela Merkel.

Moscovo pode ter com a vitória do até agora comediante uma oportunidade para amenizar as relações com Kiev, mas, no futuro próximo, não o fará, pelo menos até algum sinal de Zelenskiy nesse sentido. Todavia, garante Moscovo, a decisão do povo ucraniano será respeitada.