Ao começar este artigo importa fazer duas considerações prévias. A primeira, para deixar claro que, sendo o país onde todos nós vivemos bem distinto daquele em que parece viver o Executivo, as greves que paulatinamente surgem são perfeitamente compreensíveis. Não há dúvida alguma de que o cidadão sofre todos os dias na pele, seja lá qual for o seu setor de atividade, o peso de um Estado que tudo lhe exige para pouco lhe apresentar em contrapartida.
A segunda, para referir que embora tenha já passado uma semana sobre a greve dos combustíveis, só agora tive oportunidade de escrever sobre o assunto, sem que no entanto o objetivo primordial seja nela me esgotar. Contudo, foi absolutamente condenável aquilo a que todos assistimos no nosso país em vésperas pascais. E para não entrar em contradição com a primeira consideração que escrevi, aclaro-a dizendo que o que me incomoda é que, volvida uma semana, continuo sem perceber, no essencial, os motivos da greve realizada e a reação de um governo apatetado que por momentos transformou Portugal na Venezuela da Europa.
Entre tanto que aqui ou ali tive oportunidade de ler, sem compreender fiquei também se o governo estava ou não previamente avisado dessa possibilidade, se sim, porque não se antecipou a ela e, sobretudo, como surge uma greve sem que antes tenha havido grande conhecimento de negociações em curso sobre divergências entre a tutela e o setor em causa. Portanto, fiquei uma vez mais a pensar que vivia numa qualquer república das bananas. Porém, o que hoje me leva a este tema – e, de resto, já o escrevi noutros momentos – é o receio de que o direito à greve se transforme no mais barato veículo de violação de outros direitos não menos importantes. O direito à greve tem também de ter os seus limites.
O cidadão comum não pode continuar a ser semanalmente confrontado com paralisações que afetem diária e grosseiramente a sua vida quotidiana. Seja na saúde, na justiça, na educação, nos transportes, nos combustíveis, seja no que for. Não é admissível. Desculpar-me-ão a franqueza das minhas palavras, mas ninguém está para aturar isto. Não é sustentável. E não me venham com os serviços mínimos porque já vimos que os mesmos nem sempre funcionam como deviam. Perguntar-me-ão: bem, então, com isto tudo, como resolvias o problema? Há dois caminhos que podem ser seguidos e que, se não resolverem tudo, podem pelo menos ajudar.
No primeiro caminho estão o Executivo e os sindicatos. O primeiro deve parar de fazer de todos nós parvos e de continuar a achar que pode prometer tudo a todos sem que, depois, ao não cumprir, as pessoas não se manifestem. Já os segundos devem compreender de vez que a greve deve ser o último dos últimos redutos de confrontação negocial, e não uma moda, como parece estar a tornar-se. O segundo caminho é de lei, pois é cada vez mais legítimo considerar que a legislação inerente a esta matéria talvez necessite de uma atualização. Agora, assim é que não vamos a lado nenhum. Por muita razão que todos tenham e por mais legítimos que sejam os argumentos de ambos os lados.