O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o défice português chegue este ano aos 0,6% do produto interno bruto (PIB), uma previsão mais pessimista que a do Governo, cuja expetativa era de 0,2%. Mas nem tudo são más notícias: o Fundo prevê que Mário Centeno deixe as contas públicas “em bom estado” e que se comecem a registar excedentes orçamentais em breve.
De acordo com o relatório divulgado hoje com as previsões orçamentais mundiais, denominado Fiscal Monitor, o fundo prevê para 2020 um défice orçamental de 0,1% do PIB. O relatório de outubro previa um défice de 0,3% do PIB em 2019, subindo em novembro para 0,4%. Quanto às expetativas para 2020, em outubro, o FMI previa um défice de 0,2%.
O FMI prevê ainda que, mantendo as políticas até agora aplicadas, o primeiro excedente, de 0,4% do PIB aconteça já em 2021. Para 2022, o excedente deverá ser de apenas 0,3%, mantendo-se nesse valor no ano seguinte e chegando aos 0,5% do PIB em 2024.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o défice de 2018 ficou em 0,5% do PIB, abaixo dos 0,6% estimados por Centeno em fevereiro. Em 2017, o défice chegou aos 3%.
Dívida pública de 103% só em 2024 Até 2024, Portugal vai manter um nível de dívida elevado, revela o Fiscal Monitor: as expetativas do FMI apontam para que daqui a cinco anos, mesmo com a tendência para reduzir o endividamento público, a dívida chegue aos 102,7% do PIB. No Programa de Estabilidade 2018-2022, o governo português previa uma redução da dívida pública até 102% em 2022.
As previsões do ministro das Finanças definidas no Orçamento do Estado para 2019 também não deverão ser cumpridas: Mário Centeno apontava para uma dívida pública de 118,5%, mas o relatório do FMI fala em 119,5% do PIB. O documento, escrito pelo antigo ministro das Finanças e atual diretor do departamento de dívida do FMI, Vítor Gaspar, explica que quanto maior for a dívida, maior será a dificuldade do país em adaptar-se a períodos de abrandamento económico.
Brexit e Itália preocupam O FMI também apresentou hoje o relatório de Estabilidade Financeira Global, no qual é explicado que vários países com um forte peso na economia mundial permanecem com vulnerabilidades financeiras elevadas, o que pode ajudar a propagar os riscos de instabilidade financeira.
Apesar da recuperação dos mercados financeiros após as quedas no último trimestre do ano passado – graças ao otimismo face à quebra das tensões comerciais entre os EUA e a China -, o relatório alerta para a instabilidade política vivida na Europa devido ao Brexit e à incerteza em relação às contas públicas de Itália. Fatores como estes, defende o FMI, ameaçam o crescimento económico da Europa e acentuam os sinais de abrandamento.