Argélia. Manifestantes saem à rua contra presidente interino

Argélia. Manifestantes saem à rua contra presidente interino


Abdelkader Bensalah, número dois do regime de Bouteflika, ocupará o cargo nos próximos 90 dias.


Milhares de estudantes argelinos voltaram ontem às ruas de Argel. O alvo já não foi o antigo presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, mas o seu sucessor, Abdelkader Bensalah, presidente interino e presidente do parlamento. A gritos como “fora o sistema!” e “vai-te embora Bensalah”, a polícia respondeu com canhões de água, gás lacrimogéneo e gás pimenta – o que representa uma escalada na repressão das autoridades, que até ao momento tinham optado por uma postura de distanciamento e apaziguamento.

Bensalah deverá ocupar o cargo de chefe de Estado nos próximos 90 dias, até à convocação e realização de eleições presidenciais. A substituição de Bouteflika por Bensalah foi feita de acordo com a Constituição argelina – uma exigência dos militares, a espinha dorsal do regime argelino desde a independência do colonialismo francês, em 1962.

“É-me exigido por dever nacional assumir esta pesada responsabilidade de garantir a transição que permitirá ao povo argelino exercer a sua soberania”, disse Bensalah no seu discurso de tomada de posse no parlamento. “Preciso que todos no nosso país respeitem estritamente a Constituição, que trabalhem arduamente, de boa-fé e com dedicação para que possamos retornar tão cedo quanto possível a palavra ao povo”, acrescentou. No entanto, a sessão parlamentar não contou com a presença dos partidos da oposição.

Ainda que de acordo com a Constituição, a nomeação de Bensalah está longe de ser consensual na sociedade argelina. Os manifestantes exigem mudança de regime, com os militares a regressarem às casernas e a elite política que compactuou com Bouteflika a ser afastada, e veem a nomeação do número dois do regime do antigo chefe de Estado como mera substituição de figura. Receiam que o essencial do regime se mantenha e, com ele, as estruturas de poder que o suportam. Desde 22 de fevereiro que milhares de argelinos saem à rua contra o regime.