Dezenas de mortos, centenas de feridos, milhares de hectares de terra ardida, casas e bens completamente destruídos, a total fragilidade do Estado pela clara demonstração da sua falência material, enfim, estes são apenas alguns predicados que ficarão para sempre ligados a Pedrógão Grande.
Escrever sobre o que se passou neste concelho e, posteriormente, por arrasto aos concelhos limítrofes, arrisco dizer, é ainda hoje doloroso, na medida em que basta recordar as imagens que nos iam chegando a casa pelos meios de comunicação social para de alguma forma voltarmos todos a sentir o pânico e o medo que elas testemunhavam. Muito triste. Genuinamente lancinante. No rescaldo, veio também por isso ao de cima um dos traços mais característicos do povo português, a eterna união na “hora do aperto”. Não tenho dúvidas.
O calor humano que se gerou em torno das localidades em questão foi muito superior ao das chamas que por lá lavraram. Não obstante, tanto quanto se assiste, Pedrógão ainda arde. Dos milhões de euros que se contabilizaram doados para fazer frente à desgraça vivida, tanto quanto sei, até aos dias de hoje, ainda ninguém foi informado da sua distribuição.
Já da recuperação de habitações ardidas, parece continuar a haver quem tenha perdido a sua única casa nos incêndios e ainda hoje esteja a viver de caridade em anexos, aguardando pela sua reconstrução, contrastando com outros casos em que, miraculosamente, ao que parece, um qualquer decadente “barracão” facilmente vire uma moradia de quatro assoalhadas. Não fosse já este cenário de difícil digestão, e qual cereja no topo do bolo, foi o país nos últimos dias confrontado com a existência de um armazém recheado de bens que nunca chegaram a quem deviam.
Pedrógão Grande é um caso de estudo. E o que mais choca é a aparente tranquilidade com que, a começar nos autarcas locais, passando pelo governo e pelo primeiro-ministro e acabando no “selfieman”, quase ninguém sobre este assunto pia. E, quando piam, é baixinho. Ninguém dá um murro na mesa, ninguém parece pôr ordem na casa.
Que vergonha, meus senhores! Que vergonha! Haver um problema desta magnitude no nosso país e terem de ser os cidadãos a ajudar os seus concidadãos porque o Estado não é capaz de o fazer, já é grave; não se canalizar a ajuda existente e desse esforço resultante para quem precisa é inqualificável!