Ao longo de vários anos habituámo-nos a ver o pré-Presidente Marcelo na TVI, na sua rubrica dominical, a comentar tudo e um par de botas.
Confesso que gosto mais do Presidente Marcelo que do comentador Marcelo. Bem sei que tudo se conjuga na estratégia que teve, a determinada altura e depois de diversos insucessos políticos, para atingir um único objetivo: chegar a Belém. E ainda bem, porque do espetro político atual e, sobretudo, do da altura da sua candidatura, era o único personagem com capacidade e atributos para personalizar o mais alto magistrado da nossa república.
Nem sempre pensei assim, e assumo que inicialmente tive sérias dúvidas se o seu comportamento hiperativíssimo e a sua propensão para falar de tudo não poderiam prejudicar o seu desempenho.
Estava errado e assumo que sou um fã incondicional do Presidente Marcelo, mesmo não sendo da sua área política.
Continuo a achar que encarna demasiadas vezes o papel de bombeiro, mas, lá está, para o que estávamos habituados no passado, desapareceu a tendência mumificadora e temos, finalmente, um Presidente ativo, preocupado e interventivo.
Se pensarmos nos partidos políticos como equipas de futebol, os onze iniciais são, por regra, os melhores atletas. Ora, infelizmente, os partidos políticos atuais perderam qualidade face aos plantéis antigos e a sensação com que fico é que a substituição de Marcelo por Marques Mendes, na TVI, é uma espécie de troca de um Jonas por um Ferreira.
Não sendo totalmente um desastre, até porque tem habilidade política de sobra, Marques Mendes está longe de me convencer nas suas observações e comentários semanais.
Tenta passar uma imagem de superioridade política e intelectual, como a de Marcelo, contudo peca por ter alguma deselegância e sobretudo pela forma como apresenta os factos.
As opiniões são como as moedas. Valem mais pelo cunho do que pelo metal. E, lá está, salvo melhor opinião, o cunho que Marques Mendes aplica nas suas opiniões é, no meu entender, manifestamente pobre.
Apresenta-as como irrefutáveis e tenta sempre alinhá-las numa metodologia escolar, quase que matemática, envolvidas em pontos um, dois e três. É um método, ou uma forma, que supostamente ajuda a clarificar o objetivo da sua opinião. Mas, ainda assim, uma cópia do prof. Marcelo.
Embora fique muito aquém do que o então comentador Marcelo fazia, o problema é a forma como geralmente introduz as novidades.
São raras as vezes em que efetivamente emite opiniões. Ou, pelo menos nos temas mais sensíveis, os seus comentários assentam quase sempre em obtenção de informação privilegiada. Atentem e verão se não é assim.
“Segundo consegui apurar”, “informaram-me que”, “obtive a confirmação de”, “soube que”, “ao que parece” são tudo expressões que usa no início das revelações. Ora isto não é comentar, é alcovitar – perdoem-me.
Nalguns casos chega a ser sinistro como é que Marques Mendes obtém tais informações. Por exemplo, o caso recente da hipotética requisição civil de enfermeiros pelo governo. Desconheço se é possível ou não obter com facilidade a informação de que um governo solicita um parecer à PGR, mas espantar-me-ia se fosse fácil. Pois Marques Mendes enche a boca para informar que teve acesso a essa informação e partilha-a livremente em horário nobre da televisão, nunca deixando de criticar as fugas de informação quando não é ele o primeiro a poder dar a notícia.
Os jornalistas, no desempenho das suas funções, quando fazem investigação e publicam informação sensível estão abrangidos pela proteção das suas fontes. Mas a minha pergunta é: Marques Mendes é jornalista? Pode livremente fazer anúncios que são, no meu entender, oriundos de fontes que deveriam zelar por essa informação? Alguém já se lembrou de questionar a origem das suas informações?
Não deixa de me intrigar.
Escreve à quinta-feira