Carta aberta ao PSD


Nenhum militante consciente pode fazer o que Montenegro fez. Teve, perdoem-me, uma atuação patética neste processo


Estão na moda as cartas abertas. A este, ao outro, por isto e por aquilo. Confesso que não é propriamente o modelo de interpelação que mais me apraz realizar mas, hoje, cá vai a minha. É hora de o PSD sossegar. De serenar aquele que é o seu principal problema histórico e que, mais que prejudicar o próprio partido, prejudica sobretudo o país. Leia-se a constante instabilidade interna, caracterizada por uma luta sempre fratricida entre as suas fações.

Bem sei que não será fácil e, por outro lado, tal como disse Pacheco Pereira, “esta guerra não vai acabar nunca”, mas então, se assim for, realmente quem vai acabar é o PSD. E, francamente, esse cenário já pareceu estar mais longe, pelo menos enquanto grande partido, partido de poder. O que se passou na semana passada foi, diria, quase escabroso. Nenhum militante consciente pode fazer o que Montenegro fez. Para o efeito, por duas simples razões. A primeira, intelectual, demonstra que em Portugal deixou de se saber perder.

Luís Montenegro teve, perdoem-me, uma atuação patética neste processo. E digo patética não porque o próprio seja um pateta, que não é, mas porque a patetice está em um homem inteligente tê-la convicto de que sairia dela “em bom”. Fizeram há pouco tempo um ano as eleições internas do PSD. Ora, esse era o momento para todos quantos entendessem reunir condições para liderar o partido avançarem e colocarem o PSD no caminho do sucesso.

Se Montenegro entendia reunir as condições para tal efeito, então tinha de ter defrontado Rui Rio nesse momento. E não me venham com as parangonas do “ainda não é o meu tempo” porque, se não era na altura, também não o seria apenas passado um ano. Intelectualmente, é ainda preocupante que o homem que proferiu frases como “não vou fazer a Rio o que Costa fez a Seguro” ou “Rio tem direito a ir a eleições” vire o bico ao prego e se esqueça da sua própria coerência. Se é que a tem. O PSD até pode tolerar troca-tintas. O que já duvido é que o país esteja para continuar a fazer o mesmo. E isto sem qualquer juízo político, porque até sou dos que pensam que, se há um ano Montenegro tem concorrido contra Rio, teria ganho. Entendendo não ter avançado, deveria ter-se lembrado de uma frase que até qualquer criança sabe. “Quem foi ao ar perdeu o lugar.”

Aqui chegados, a segunda razão que sustenta o ridículo da situação é material. Que responsabilidade demonstra ter um militante ou um partido que permita o que o PSD mais uma vez permitiu que acontecesse a tão poucos meses de várias eleições? Valerá tudo por um lugar ao sol na política portuguesa? Alguém acredita que um partido que vive neste espartilho beligerante conseguiria depois governar um país? É uma vergonha. Tudo isto deve envergonhar o PSD, as pessoas que dentro do PSD permitem que tal situação, liderança após liderança, torne a acontecer. Por último, e para não dizerem que isto é só malhar em Montenegro, também um apelo a Rui Rio.

Por tudo quanto já disse, Rui Rio ganhou internamente e merece liderar o partido e ir a eleições, mesmo entendendo eu que nelas possa vir a ter o seu pior resultado e o pior resultado histórico do partido. Mas vamos lá a ver uma coisa. É hora de parar de andar a reboque de tudo e todos e começar a demonstrar ao país e ao partido ao que vem. O PSD tem de ser o PSD, e não um cabaret de posições em que um dia se afaga o ego ao PS, no outro se passa a mão pelo pelo ao Bloco de Esquerda e, se for preciso, ainda se dá um beijinho na testa ao Partido Comunista. Caramba, Rui Rio é um homem do Norte.

Perdoem-me os leitores a brejeirice desta frase, mas, de uma vez por todas, que os tenha no sítio e marque a diferença. Rui Rio ainda vai a tempo. Não de vencer as eleições, porque ninguém derrotará António Costa e, mesmo que isso acontecesse, tal como nestes quatro anos vimos, até perdendo governaria na mesma. Mas ainda vai a tempo de demonstrar aos seus detratores que é um líder que merece respeito por ter ideias próprias. Agora, para que tal aconteça, também tem de fazer por isso.

 

Escreve à sexta-feira