As cidades são fundamentais para a dinamização da economia e desenvolvimento de qualquer país. Apesar de prevalecer uma tendência para associar países desenvolvidos à grande dimensão das suas cidades (Nova Iorque, Paris e Londres são exemplos notórios), existem cidades de grande dimensão que não fazem uma grande economia (Daca, capital do Bangladesh e a cidade mais densa do mundo, com 17,4 milhões de habitantes, é um desses exemplos). Um fator negligenciado nessa equação urbana de desenvolvimento diz respeito à relação entre a população de um país e a sua rede de cidades. Exemplifiquemos: Espanha tem apenas 4,5 vezes mais habitantes do que Portugal, mas o seu PIB é seis vezes maior. Espanha tem 12 aglomerados urbanos com mais de 400 mil habitantes, enquanto Lisboa tem apenas dois – ou seja, seis vezes menos aglomerados urbanos relevantes do que Espanha. Este dado revela-nos algo importante que tendemos a secundarizar – ou até mesmo a ignorar: um país não se mede pela dimensão da sua população ou pela dimensão das suas cidades, mas pela capacidade que tem de criar cidades com dimensão. Os países mais desenvolvidos são, assim, aqueles que têm a capacidade de criar redes de cidades com dimensões suficientemente robustas para suportar massa crítica humana e um sistema de polos urbanos relativamente autónomos. Analisando o que se passa na Europa, os países com o PIB mais elevado são igualmente aqueles que possuem um maior número de aglomerados com mais de 400 mil habitantes: Reino Unido (17), Alemanha (16), França (15), Itália (14), Espanha (12), Holanda (3) e Suíça (3). Quando tal não acontece e, ainda assim, apresentam valores PIB per capita elevados, tal se deve ao facto de apresentarem uma população reduzida (Noruega, Irlanda, Dinamarca, Suécia, Áustria e Finlândia – todos eles com menor população do que Portugal) ou características geográficas e sociais peculiares. A única exceção nesta análise diz respeito à Polónia que, com oito aglomerados, apresenta um PIB per capita que é metade do português. No entanto, esta situação não irá manter-se por muito tempo já que, desde 2002, a taxa de crescimento anual da Polónia tem sido o dobro da portuguesa. No que diz respeito a Portugal, o panorama urbano é desolador: tudo gira à volta de Lisboa e, em menor grau, à volta do Porto (áreas metropolitanas com 2,7 e 1,5 milhões de habitantes, respetivamente). Surpreendentemente, não existem centros urbanos médios em Portugal que possam complementá-los: fora as aglomerações urbanas que se concentram nas imediações de Lisboa e Porto, nenhuma cidade sede distrital possui mais de 100 mil habitantes – ou seja, nenhuma cidade fora da esfera de influência das duas grandes áreas metropolitanas possui dimensão para competir/cooperar com elas. Segundo o Atlas das Cidades de Portugal (INE, 2002), Braga é a que possui mais habitantes (109 mil) e Portalegre é a que tem menos (15,2 mil). Políticas que pretendessem realmente dinamizar a descentralização e o desenvolvimento equilibrado do país teriam de promover medidas e investimentos que fizessem emergir um ou dois centros urbanos com 300 mil ou 400 mil habitantes, redistribuindo todo o tipo de equipamentos e infraestruturas que agora é canalizado para as áreas metropolitanas. No entanto – e recorrendo a uma metáfora futebolística –, preferimos engordar dois jogadores em vez de construir uma equipa. Assim, muito dificilmente obteremos vitórias no campeonato da competitividade urbana.
Mestre em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental
Escreve quinzenalmente