Dinamarca. Vem aí o “Silicon Valley europeu”

Dinamarca. Vem aí o “Silicon Valley europeu”


O governo dinamarquês anunciou um projeto para construir nove ilhas artificiais para que as empresas tecnológicas se possam desenvolver no país


Silicon Valley tornou-se sinónimo de poder e desenvolvimento económico e, sabendo-o, a Dinamarca quer ter o seu próprio, competindo com os Estados Unidos e a China, mas também com os seus congéneres europeus. Para isso, o governo dinamarquês anunciou a construção de nove ilhas artificiais para alargar o território da sua capital, Copenhaga, construir um espaço dedicado às empresas de alta tecnologia e atrair capital internacional. “Vamos tornar-nos mais fortes na competição internacional de atração de negócios, investimentos e mão-de-obra altamente qualificada”, disse o ministro do Interior dinamarquês, Simon Emil Ammitzboell-Bille, referindo esperar que mais de 12 mil postos de trabalho sejam criados. “Estamos a apontar para empresas de alta tecnologia, mas existe sempre a necessidade de produzir produtos que usamos no nosso dia–a-dia”, complementou o ministro da Indústria e Comércio, Rasmus Jarlov, à agência dinamarquesa Ritzau.

O projeto agora anunciado chama-se Holmene e o executivo prevê que a sua construção comece em 2022 e termine em 2040, com as empresas a poderem comprar os lotes de terreno a partir de 2028. As nove ilhas artificiais acrescentarão 3,1 milhões de metros quadrados à capital dinamarquesa, desdobrada entre as ilhas de Zelândia e Amager. Neste espaço, pelo menos 380 novos negócios poderão ser erigidos e 700 mil metros quadrados serão alocados a espaços de natureza, perfazendo no total 17 quilómetros de nova costa. A atividade económica deverá ser significativa, calculando-se em mais de 7,2 mil milhões de euros – 2,4% do PIB de 2017.

Uma das ilhas artificiais será dedicada a albergar uma unidade de conversão de resíduos, transformando o lixo da capital em biogás. Também terá a função de tratar as águas residuais de Copenhaga, ao mesmo tempo que moinhos de vento produzirão eletricidade.

Mas antes que as máquinas possam avançar pelas águas para erigir as ilhas é preciso que o parlamento dinamarquês aprove o projeto. Ainda que as forças políticas parlamentares não tenham reagido ao anúncio do projeto, a cidade tem sido nas últimas décadas alargada com a formação de ilhas. Por exemplo, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Loekke Rasmussen, anunciou, em outubro, a formação de uma ilha artificial para se construírem mais habitações e se melhorarem as defesas da cidade contra a subida do nível do mar – Copenhaga está na linha da frente das cidades da Europa do morte mais afetadas em consequência das alterações climáticas.

O Silicon Valley Europeu A economia sempre dependeu dos avanços tecnológicos mas, hoje, a investigação e o desen-volvimento estão no centro não apenas das empresas como também dos governos. É neste contexto que a Dinamarca se quer destacar entre os seus congéneres europeus ao construir um “Silicon Valley europeu”, segundo palavras do presidente da associação dos patrões dinamarqueses, Brian Mikkelsen, à televisão TV2. Quase todos os países europeus já seguiram os passos da Dinamarca, uns com mais organização outros com muito menos, aglomerando as empresas num único espaço, seja por setor ou por tecnologia usada. Alemanha, Noruega, França, Grécia, Irlanda, Holanda e Itália são alguns dos países europeus onde estes centros tecnológicos se têm multiplicado, numa parceria entre os Estados e as empresas.

E, quando os Estados entram em confronto entre si, como está a acontecer entre os Estados Unidos e a China, estes centros tecnológicos podem tanto beneficiar disso como sair prejudicados. Ao querer impedir o roubo de propriedade intelectual a empresas norte-americanas por Pequim, a presidência de Donald Trump aprovou uma lei que melhora a capacidade do governo de bloquear o investimento estrangeiro – diga-se chinês e russo – nestas empresas. O roubo de inovações não foi travado, mas o investimento chinês caiu a pique por os investidores recearem o escrutínio de Washington.

“Negócios a envolverem empresas chineses e compradores e investidores chineses praticamente pararam”, disse Nell O’Donnell, advogada que representa empresas norte-americanas em negócios com entidades chinesas, citada pela Reuters. É, segundo a agência, uma viragem radical nas fontes de financiamento de Silicon Valley, habituado a fazer negócios com o mundo inteiro, incluindo com os históricos rivais dos Estados Unidos.

Todavia, e antes que a lei entrasse em vigor, assistiu-se a uma explosão nos números do investimento chinês neste género de empresas, alcançando o recorde de três mil milhões de dólares em 2018. Agora que a lei entrou em vigor, espera-se que os números se reduzam significativamente, com o investimento a fluir para outros locais.

Agora que as empresas norte-americanas são de mais difícil acesso para Pequim, os investidores chineses procurarão empresas de outros países onde possam investir. A China precisa de continuar a investir agressivamente em tecnologia para melhorar a sua competitividade económica e desenvolver o seu poderio militar, contestando a hegemonia norte-americana no mundo, principalmente na região da Ásia-Pacífico.

A imagem de uma China que se limita a produzir os produtos ocidentais pertence ao passado. Nos dias que correm existe um avassalador mercado tecnológico no país, com milhares de inovações a invadirem o mercado e, porventura, a serem exportadas para outros países. “Existe uma tonelada de inovações em grande escala a acontecer na China”, explicou Christian Grewell, professor de Gestão na Universidade de Nova Iorque de Xangai. “Estão a acontecer muito, muito rapidamente e sem o nosso conhecimento.” Muitas dessas inovações baseiam-se em descobertas de empresas tecnológicas ocidentais.

É neste contexto que Copenhaga pode vir a destacar-se, competindo tanto com o Silicon Valley original como com os seus congéneres europeus. Pelo menos parece ser esse o objetivo do governo dinamarquês.

Em Portugal, o mais próximo que se tem de um Silicon Valley chama-se Produtech, um polo de tecnologias de produção que alberga empresas que “desenvolvem e comercializam produtos e serviços capazes de responder aos desafios e aos requisitos de competitividade e sustentabilidade da indústria transformadora nacional e industrial”, segundo o site do polo. Segundo o mesmo site, a Produtech tem três eixos de ação: a cooperação, a inovação e a internacionalização. O polo é cofinanciado pelos programas Compete 2020 e Portugal 2020, bem como pela União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.