Em Portugal, a falta de alunos no ensino superior é uma ameaça cada vez mais real. Os últimos anos têm sido marcados pela forte redução de alunos que terminam o secundário e que, por vários motivos, decidem não prosseguir os estudos numa universidade ou num politécnico. Os últimos dados do relatório anual “Education at a Glance” da OCDE revelam que, todos os anos, mais de 60% dos alunos portugueses que terminam o 12.o ano ficam fora do ensino superior. É o dobro da média dos países europeus.
A este cenário soma-se ainda a quebra acentuada e consecutiva de alunos do básico e secundário. As previsões do Ministério da Educação referem que, em 2020, haverá menos 110 mil alunos, de todos os anos de escolaridade, a frequentarem a escola pública, face ao número de alunos em 2015/2016. E com menos alunos no básico e secundário haverá menos alunos a seguir para as universidades.
Este é um retrato que os reitores consideram ser um “problema de gravidade” e que vão hoje debater na primeira Convenção do Ensino Superior 2020-2030. “É preciso repensar o acesso, as políticas de ação social, e que inovações podem ser seguidas a nível pedagógico, ou seja, tornar os cursos mais atrativos e perceber porque é que os jovens não querem frequentar o ensino superior”, explicou ao i o presidente do Conselho de Reitores (CRUP), Fontainhas Fernandes.
Além de quererem atrair mais jovens, os reitores têm ainda o desafio de aumentar a qualificação dos portugueses em vida ativa. “Só 6% por cento da população portuguesa entre os 25 e os 64 anos tem licenciatura, um valor muito abaixo dos 17% da OCDE e dos 14% da União Europeia”, alerta ainda o Conselho de Reitores.
Estes indicadores não são animadores para que Portugal cumpra a meta imposta pela União Europeia: chegar aos 40% de jovens entre os 30 e os 34 anos com um diploma. Em 2017, não ultrapassávamos os 33,5%. (ver infografia ao lado)
Para encontrar soluções e inverter o cenário de redução na próxima década, e porque “o futuro passa por uma aposta no ensino superior”, salienta Fontainhas Fernandes, o Conselho de Reitores convidou o governo, todos os partidos políticos, os politécnicos, os sindicatos e as associações académicas para que em vários painéis temáticos sejam debatidas questões como o acesso ao ensino superior, as condições de vida dos estudantes ou as medidas da Ação Social, como bolsas ou alojamento.
Durante o evento, diz Fontainhas Fernandes, os reitores não vão ter um papel interventivo, e sim de “auscultação” e de “moderação”. A abertura do evento fica a cargo do ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor, e o encerramento cabe ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – ambos professores catedráticos na Universidade de Lisboa.
Ao longo do dia, os painéis contam com a participação de vários ministros, como é o caso de Augusto Santos Silva, que vai debater o ensino superior português num contexto europeu, de Pedro Nuno Santos, que vai marcar presença no painel sobre as condições de vida dos estudantes, de Mariana Vieira da Silva ou de João Leão, secretário de Estado do Orçamento, que vai debater o financiamento do setor.
Mas a ameaça de falta de alunos no superior e a percentagem baixa de portugueses diplomados não são os únicos desafios das universidades. Por isso, além da convenção que hoje se realiza, as universidades voltam a reunir-se em mais duas sessões de debate: dia 15 de março na Universidade de Aveiro, para discutir a articulação do ensino com a investigação; e no dia 17 de abril, na Universidade do Porto, será debatida a valorização do conhecimento.
No final de toda a convenção – composta pelas três sessões de debates –, os reitores “vão tirar algumas conclusões” e será “redigido um documento com propostas de medidas que podem vir a ser seguidas” e que vão permitir a “construção de uma agenda coletiva para a próxima década, além de uma legislatura”, diz ao i Fontainhas Fernandes.