Ano novo, vida nova! Talvez seja esta a frase cliché que mais se ouve por todo lado neste período e, verdade seja dita, talvez venha a servir que nem uma luva à política portuguesa. Se verificarmos, já nos últimos meses do ano que findou os ventos começaram a mudar, sobretudo porque os até então adormecidos sindicatos começaram de novo a fazer barulho e a incomodar o executivo. De nada valerá a António Costa continuar a apregoar o país das maravilhas porque de facto a sociedade começa já a dar sinais de desconforto e falta de crença no seu utópico discurso. Igualmente o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, com as eleições a aproximar-se, demarcar-se-ão progressivamente do Partido Socialista, o que não permitirá à geringonça a aparente tranquilidade que sempre foi maioritária e falsamente imperando. Será apenas aguardar e assistir. A Marcelo Rebelo de Sousa começa a exigir-se mais. Não na prática porque não governa, mas no conteúdo.
Ninguém pode escamotear que Marcelo gosta de ser um homem do povo. Muito menos se duvida que seja um homem genuinamente afável em muitas atitudes que tem e toma. Mas a presidência dos afetos, como também lhe chamam alguns, não pode ser apenas isso. Para isso os portugueses tinham uma ama e não um Presidente da República. De que serve um Presidente que dá muitos beijinhos e abraços mas que não pressiona o executivo para resolver os problemas do país? De que serviram os beijinhos, os abraços e as promessas ao senhor a quem tudo ardeu na tragédia dos fogos, a quem o Presidente confortou garantindo que uma nova vida aí viria e, entretanto, o senhor morreu sem o Estado, ao que parece, em nada o ter ajudado a reconstruir o que perdeu? Ninguém critica a atitude presidencial. Louva-a até! Mas não chega! Os problemas dos portugueses não se resolvem com beijinhos e abraços. Não nos ficando por aqui, mais desafios se apresentam à democracia Portuguesa. Santana Lopes formou finalmente o seu próprio partido.
E se é uma verdade que o índice de votação que encara como expectável nas próximas eleições me parece exagerado, ainda assim, é crível que venha a eleger deputados e dar uma primeira machadada no já defunto PSD. Há ainda André Ventura e o “Chega”, a quem muitos parecem querer continuar a prestar pouca atenção, mas que pode objetivamente ser a grande surpresa dos próximos atos eleitorais dando igualmente outra machadada no PSD. O CDS pode efetivamente vir a a beneficiar por mérito próprio e demérito alheio de todo este contexto e, o PSD, bem, o PSD que Deus Nosso Senhor se gostar de política lhe acuda, porque não há muito a escrever. É surreal e o desfecho anuncia-se trágico. Como se dizia numa série de animação, “não percam os próximos episódios, porque nós também não!”.
Escreve à sexta-feira