Como é habitual e prática comum generalizada nos finais de ano, mais concretamente entre o Natal e o fim do ano, desatamos todos a fazer uma avaliação do que foi o ano que acaba e a congeminar resoluções para o ano que se segue.
É o típico balanço e a projeção dos desejos que, ou não realizámos, ou que entretanto passámos a ambicionar.
Este ano foi particularmente bizarro. Em vários aspetos.
Lá fora, o Mundo sobreviveu a mais um ano de Trump. Sem grandes surpresas, Trump não mudou nada na sua linha política. Indiferente às críticas e às caricatas cenas em que se envolveu, fecha o ano com chave de ouro num singular telefonema de Natal, onde pergunta a uma criança de 7 anos se ainda acredita no Pai Natal. Sem comentários.
No Brasil, no decorrer do folclore político do Lula livre, Lula preso, o país elege Bolsonaro, uma incógnita que só para o ano deverá começar a dar o ar da sua graça.
Pelos nossos lados, assistimos ao degradar da UE. Um Reino Unido dividido e perdido na batalha do Brexit, uma França mergulhada num caos de coletes amarelos e os restantes países europeus a braços com convulsões sociais e políticas que só encontram paralelo na década de 30, antes do domínio nazi.
Os movimentos de extrema direita crescem, aumentam as suas representações parlamentares, deixando grande expectativa para ver o resultado das próximas eleições europeias. Contudo, para mim, é claro. Não vale a pena tentar colar a imagem de ilegitimidade ao crescimento destes movimentos. Aparecem de forma democrática, pelo que se os queremos combater os nossos líderes políticos têm que encontrar respostas para a insatisfação crescente que assistimos em toda a Europa e que os alimenta.
Por cá, ainda assim, nem tudo foi mau. Mas há episódios dignos de registo.
Desde logo o desnorte do meu Benfica, que parece ter sofrido de uma embolia cerebral. Leve, é certo, pois não colapsou (ainda), mas oscila de forma abrupta entre o bom futebol e a prática de uma atividade desconhecida no campo de futebol.
Politicamente, cresce o desnorte ideológico. O PS denota, nas bases, uma onda de renovação geracional ideológico muito afastada do centro esquerda que sempre caracterizou o partido. O PSD, de cisão em cisão, já deu à luz dois novos partidos, ou pelo menos movimentos – a Aliança e o Chega. Sobre o primeiro, já aqui escrevi, é sóbrio e coerente com o estilo do seu mentor. Sobre o segundo, ainda me faltam palavras para descrever.
Socialmente parecemos perdidos. Indiferentes aos números e dados que sustentaram a retoma económica do país, as convulsões sociais cresceram de forma impar este fim de ano. Em abono da verdade, talvez seja mais correto definir estes episódios como convulsões sindicais e não sociais. Na verdade foram mais as birras e orquestrações sindicais que se manifestaram do que a sociedade per si. Tirando de parte, obviamente, a ridícula e patética manifestação dos coletes amarelos portugueses, mas que, ainda assim, teve honras de horas a fio de cobertura televisiva e um regimento policial digno de uma revolução.
No meio disto tudo, salva-se o equilíbrio do primeiro-ministro e do Presidente da República que, indiferentes ao ruído mediático que tentou por várias vezes causar distúrbio no relacionamento entre os dois, mantiveram a serenidade, o equilíbrio e a sensatez necessária, para não cairmos em mais uma crise política.
É este o quadro que pinto neste final de ano que, sublinho, foi dos mais bizarros a que assisti e com registo de acontecimentos que fogem por completo a qualquer lógica racional.
Por isso, para 2019, não sei bem o que esperar, nem tão pouco desejar. Para já gostava apenas que o meu Benfica recuperasse da sua embolia. Que o nosso governo não cedesse à tentação eleitoralista por troca da resolução dos reais problemas do país. Por fim, para a Europa, desejo que acorde para os problemas que ameaçam a sua estabilidade. Que perceba que evitar o crescimento dos movimentos de extremistas faz-se combatendo os problemas que lhes alimentam o populismo. Mais solidariedade, mais igualdade e mais humanismo. Bom ano.
Escreve à quinta-feira