Prendas de Natal. E quando o Pai Natal não acerta no nosso gosto?

Prendas de Natal. E quando o Pai Natal não acerta no nosso gosto?


Quando trocar não é opção, a “reciclagem” como oferta a outras pessoas ou mesmo a venda é o destino de algumas prendas de Natal indesejadas. O i conta-lhe algumas das melhores histórias


“O meu pai deu um livro à minha bisavó com uma dedicatória e ela deu-o a um familiar noutro Natal sem se aperceber do que estava lá escrito”, conta Maria José ao i. Quinze anos depois, a bisneta explica que a bisavó não tinha problemas financeiros, mas ir às compras não era o seu passatempo preferido. Além disso, acreditava que outras pessoas podiam dar mais valor a algumas das prendas que recebia. Tentava sempre ser cuidadosa: os presentes dados pela família tinham como destino os amigos e vice-versa. Mas no caso do livro oferecido pelo neto o expediente correu mal e originou uma situação caricata.

Aquilo de que gostávamos há um ano pode não condizer com o nosso gosto atual, as preferências dos outros podem não bater com as nossas – ou simplesmente, com tantas prendas para comprar, o Pai Natal pode não acertar em cheio no que queríamos. Se, depois de rasgarmos o embrulho bonito, o conteúdo se revela dececionante, a primeira preocupação passa por disfarçar a cara de desânimo. A seguir pensa-se no que fazer a essa prenda. E agora? Se escondê-la no armário ou deitar fora não é opção e a troca não é uma possibilidade, que utilidade se pode dar aos presentes indesejados?

Na família de Maria José toda a gente sabia que este tipo de reciclagem acontecia, mas havia uma espécie de pacto de silêncio para ninguém dizer nada. “Ninguém se desmanchava e a minha bisavó sentia que cumpria o papel dela”, conta a bisneta, hoje com 28 anos, com um sorriso nos lábios. “Isto deve ser de família, porque já a minha prima, sobrinha-neta da minha bisavó, também faz o mesmo. Chega até ao ponto de nos oferecer coisas que tem em casa e que até já usou”, confessa.

Passar a terceiros algo recebido como presente é também uma prática comum na casa de Graça Dias, uma casa portuguesa com três crianças pequenas e uma garagem que já não tem espaço para a mais brinquedos, muito deles ainda dentro dos plásticos.

“No Natal recebem quase tantos brinquedos quanto os que têm em casa”, explica a mãe de três rapazes, o mais velho de 10 e o mais novo de 5. Brinquedos repetidos ou que não chamam a atenção das crianças quando os desembrulham são o fator de escolha para a mãe não abrir a embalagem e optar por dar em aniversários de outras crianças. “Além dos mais novos quererem brincar com as coisas dos mais velhos, muitas vezes ligam pouco por terem mais do que deviam”, conta Graça.

O talão de troca muitas vezes não existe, mas mesmo quando existe a paciência para ir a lojas de brinquedos “apinhadas” de gente não é a maior, reconhece. 

Durante o ano, os filhos recebem convites para as festas de todos os meninos da turma, o que dá a Graça a possibilidade de distribuir alguns destes brinquedos por outras crianças. “Quem me ajuda são eles, que sabem quem deu, para eu não dar ao mesmo”, admite.

Mas também esta estratégia por vezes corre mal. “São crianças e como tal a verdade sai-lhes pela boca. Por uma ou duas vezes disseram que tinha sido outro menino a dar-lhes.”, conta Graça. A desculpa? Dizer que o brinquedo que o tal amigo deu é igual a um que receberam, mas não exatamente o mesmo, ou rir como se a criança tivesse dito aquilo a brincar. “No fundo, acho que não devo ser a única mãe a fazê-lo”, diz.

No final do Natal, há também quem aproveite para ficar com as prendas de que os seus conhecidos não gostaram. Vitória Ramos é mais nova que a tia, mas admite que a roupa de que não gosta se converte em mais umas prendas de Natal. “A minha tia dá-me as prendas de roupa de que não gosta”, confessa. “Normalmente são presentes que lhe são oferecidos pela sogra”, assume.

Uma troca com benefícios Além de ficar com as camisolas que a tia adjetiva como “horríveis” e de “mau gosto”, as roupas que são oferecidas a Vitória e às amigas acabam sempre por regressar à loja. O talão de troca é fundamental e o processo passa por chegar ao balcão, em época de descontos, e trocar, muitas vezes até pela própria peça de roupa que receberam de presente. “Eu recebo uma camisa com um certo custo. Quando está em saldos eu devolvo, e às vezes até troco pela mesma, mas trago mais coisas”, explica.

“Por exemplo: uma vez deram-me um casaco de 70 euros e no dia seguinte ele estava a 40 euros. Fui à loja para o trocar, trouxe-o de volta e acabei por trazer mais peças de roupa”, exemplificou. Este é muitas vezes um plano de amigas, que têm por hábito fazer este tipo de trocas quando os descontos são aliciantes.

A roupa é a prenda mais frequente, mas também recebe outras. “Às vezes também recebo livros, mas esses não compensam muito porque não têm descontos muito grandes”. A mãe, relata, é a maior apologista desta prática. Ao ponto de em alguns natais já ter chegado a dar-lhe cartões de oferta de lojas que sabe que a filha frequenta, para no primeiro dia de saldos irem juntas às compras.

Além da reciclagem e das trocas, há ainda uma terceira possibilidade: vender. Foi o que fez a namorada de Paulo, nome fictício, que conta ao i um episódio que o marcou. “Eu dei-lhe um colar num ano e no ano seguinte ela pediu-me para o meter à venda, mas não se lembrou que tinha sido eu a dar”, conta. A justificação? Tinha deixado de gostar. Uma desculpa que não convenceu Paulo, até porque o colar nunca tinha saído da caixa. “Deixei passar porque realmente hoje percebo que era feio”, reconhece com um sorriso envergonhado.